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sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina

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penetrou na minha pele na volta estão se transformando numa coisa limpa‘.<br />

Quanto mais tempo fico naquela água quente e limpa, mais purificada me<br />

acho, e quando finalmente saí e me enrolei numa das imensas, macias e<br />

brancas toalhas do hotel, me senti tão limpa e suave como um bebê. 50<br />

E, <strong>de</strong>ssa forma, Esther dissolve todas as personalida<strong>de</strong>s que não aceitava mais<br />

e que se plasmaram nela a partir da amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong> Doreen/Lenny, os condutores <strong>de</strong><br />

Esther alternar sua personalida<strong>de</strong> fictícia, ou o seu outro eu ganhando forma e<br />

crescendo, diluindo a Esther verda<strong>de</strong>ira quando estava com os dois amigos. Esther<br />

quer esquecer que agora tem uma dupla personalida<strong>de</strong>, um confronto <strong>de</strong> ―eus‖ que<br />

agem <strong>de</strong> forma a complementar seu estado mental frágil a que está submetida. Esther<br />

precisa ser forte e tomar ciência que ela é somente a Esther <strong>de</strong> Boston:<br />

Não sei quanto tempo dormi até ouvir uma batida na porta. Primeiro não<br />

prestei atenção, porque alguém batia e pedia ‗Elly, Elly, me <strong>de</strong>ixa entrar‘,<br />

mas eu não conhecia nenhuma Elly. Depois bateram diferente daquele<br />

primeiro toque, ouvi um forte tap-tap e uma voz bem mais autoritária<br />

disse: ‗Senhorita Greenwood, sua amiga quer falar‘ — e eu sabia que a<br />

amiga era Doreen. Pulei da cama e cambaleei um instante no quarto<br />

escuro. Não gostei <strong>de</strong> Doreen me acordar. Um bom sono era a única saída<br />

para aquela horrível noite e ela precisava me acordar e estragar tudo.<br />

Pensei que, se fingisse estar dormindo, não iam bater mais e me <strong>de</strong>ixariam<br />

em paz. Fiz isso, mas não adiantou.<br />

‗Elly, Elly, Elly‘, murmurou a primeira voz, enquanto a outra continuou<br />

baixinho: ‗Senhorita Greenwood, senhorita Greenwood, senhorita<br />

Greenwood‘, como se eu tivesse dupla personalida<strong>de</strong> ou alguma coisa<br />

assim. 51<br />

E <strong>de</strong>ssa forma Esther atesta, <strong>de</strong>sconfia ter dupla personalida<strong>de</strong>, mas fica<br />

evi<strong>de</strong>nte, que não só ela <strong>de</strong>sconfia como percebe que outras pessoas a diferenciam<br />

como dupla em um mesmo lugar. É o indício do processo lento que se arrastava em<br />

processo <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> sua já precária saú<strong>de</strong> mental. A própria Esther diagnostica<br />

que algo ten<strong>de</strong>ncioso a múltiplas personalida<strong>de</strong>s ten<strong>de</strong>m a comprometer seu<br />

comportamento e que po<strong>de</strong> sofrer as consequências <strong>de</strong>ste estado mental alterado.<br />

Abri a porta e pisquei por causa da luz do corredor. Parecia que não era<br />

50 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 27-28.<br />

51 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 28.

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