sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina
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Esther sente que não <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar essas semelhanças ou coincidências em sua<br />
mente abalar seu estado mental que já anda bastante abalado e reconhece que quando<br />
surgem os problemas, o melhor seria um bom banho para que os pensamentos<br />
voltassem à normalida<strong>de</strong> através da purificação do efeito da água. Esther diz:<br />
Resolvi tomar um banho quente. Não sei se existe alguma coisa que um<br />
bom banho quente não cure. Sempre que estou triste por saber que um dia<br />
vou morrer, ou tão agitada que não consigo dormir, ou gostando <strong>de</strong> alguém<br />
que não ver durante uma semana, eu <strong>de</strong>sço até o fundo <strong>de</strong> mim mesma,<br />
<strong>de</strong>pois penso: ‗Vou tomar um banho quente‘. Costumo pensar muito<br />
durante o banho. A água tem que ser tão quente que quase não dê para<br />
enfiar o pé. Depois <strong>de</strong>ve-se mergulhar aos pouquinhos, até a água chegar<br />
ao pescoço.<br />
Lembro do teto <strong>de</strong> toas as banheiras on<strong>de</strong> já me estiquei. Lembro do tipo<br />
<strong>de</strong> teto, das rachaduras, das cores, das manchas e luminárias. Lembro das<br />
banheiras também: aquelas antigas, com pés <strong>de</strong> grifo; as mo<strong>de</strong>rnas, em<br />
forma <strong>de</strong> esquife, e as elegantes banheiras <strong>de</strong> mármores rosa parecendo<br />
laguinhos internos; lembro das formas e tamanhos das torneiras e dos<br />
diversos tipos <strong>de</strong> saboneteiras. Nunca sou eu tão eu mesma como quando<br />
estou num banho quente. 39 [sem grifo no original]<br />
É a simbologia da água, esse lavar constante da alma, a purificação <strong>de</strong> seu<br />
estado mental e o prazer físico aliviado pela sensação <strong>de</strong> leveza da água, mas Esther<br />
<strong>de</strong>ixa uma pontinha metafórica ao dizer que conhece as banheiras, suas formas, uma<br />
até em formato <strong>de</strong> esquife, seria a espiação também <strong>de</strong> forças antagônicas. Se a água é<br />
purificadora do corpo e espírito, também po<strong>de</strong> ser uma forma <strong>de</strong>ssa mesma água levar<br />
sua vida, como se estivesse <strong>de</strong>itada em seu esquife mortuário e todos os<br />
acometimentos mentais que a fazem sofrer, esse <strong>de</strong>clínio em constante crescimento já<br />
não fosse mais um incômodo, pois a água a levara e agora Esther esten<strong>de</strong>-se sem vida<br />
em sua morada final. Um jogo metafórico muito discreto na narrativa e no prazer que<br />
a água lhe causa. Por outro lado, Esther recobra os sentidos e percebe que realmente,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um banho quente, já sente que é outra pessoa, é o seu Eu retornando pra<br />
casa, visto que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um quase adormecimento, uma quase infelicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
pensamentos ou <strong>de</strong> se outro eu a tentar sua <strong>de</strong>rrocada, Esther ressurge:<br />
39 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 27.