TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...
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Essa visão levou as autorida<strong>de</strong>s sergipanas a usar da coerção para tentar<br />
“transformar” as pessoas consi<strong>de</strong>radas por eles como “ociosas”. Passos Subrinho <strong>de</strong>stacou<br />
que uma das medidas utilizadas para combater a ociosida<strong>de</strong> foi a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentação<br />
perante a polícia do “termo <strong>de</strong> b<strong>em</strong> viver”, para comprovar a contratação da pessoa por<br />
<strong>de</strong>terminado <strong>em</strong>pregador. Segundo Trinda<strong>de</strong>, o “termo <strong>de</strong> b<strong>em</strong> viver” era mais um meio <strong>de</strong><br />
controle da camada livre e pobre da população com o objetivo <strong>de</strong> obrigá-la a buscar uma<br />
ocupação que não fosse consi<strong>de</strong>rada vadiag<strong>em</strong> pelas autorida<strong>de</strong>s. 217<br />
Embora a população sergipana estivesse sujeita a uma legislação que proibia a<br />
“vagabundag<strong>em</strong>”, na prática havia <strong>em</strong>pecilhos ao seu rigoroso cumprimento, <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
efetivo policial reduzido e <strong>de</strong>saparelhado. Conforme <strong>de</strong>stacou João Ferreira d‟Araujo Pinho,<br />
<strong>em</strong> 1876, para melhorar a ação sobre a população ociosa seria necessário o uso “da polícia<br />
correccional, que vigora <strong>em</strong> paizes cultos, como indispensável a repressão <strong>de</strong> crimes<br />
propriamente policiaes, meio po<strong>de</strong>roso <strong>de</strong> pôr um para<strong>de</strong>iro aos escândalos da vagabundag<strong>em</strong>,<br />
e restabelecer a or<strong>de</strong>m perturbada pelos ébrios e turbulentos”. 218<br />
Somado às dificulda<strong>de</strong>s financeiras, o Sergipe da segunda meta<strong>de</strong> do século XIX<br />
enfrentava outro probl<strong>em</strong>a, a substituição da mão-<strong>de</strong>-obra escrava para a livre. Por isso, o<br />
discurso da época girava <strong>em</strong> torno da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar mecanismos que coagiss<strong>em</strong> a<br />
população pobre ao trabalho. O Presi<strong>de</strong>nte João Ferreira também <strong>de</strong>stacou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
montar as oficinas <strong>de</strong> trabalho na Casa <strong>de</strong> Prisão da Capital e colocar “um Capellão que<br />
reunisse a um gênio naturalmente piedoso – uma palavra fácil, singela e persuasiva, para<br />
fazer-se ouvir s<strong>em</strong>pre que fosse por aquelles homens corrompidos procurando chamal-os ao<br />
predomínio do el<strong>em</strong>ento religioso”. 219 Nesse sentido, seguia orientação <strong>de</strong> Luiz Viana, Diretor<br />
da Casa <strong>de</strong> Correção da Côrte, que afirmava não compreen<strong>de</strong>r “a regeneração s<strong>em</strong> o el<strong>em</strong>ento<br />
religioso, [...]. É ao Catholicismo que pertence a gran<strong>de</strong> missão <strong>de</strong> regenerar os presos: é do<br />
concurso e zelo dos seus ministros que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a efficácia da reforma penitenciaria”. 220<br />
Sendo assim, partimos da pr<strong>em</strong>issa <strong>de</strong> que a religião não era importante apenas na<br />
regeneração do criminoso, mas as prédicas dos eclesiásticos, nesse contexto conflituoso entre<br />
proprietários <strong>de</strong> terras e população pobre e livre, seria importante instrumento utilizado pelas<br />
elites para convencer a população da importância do trabalho.<br />
217 TRIN<strong>DA</strong>DE, op. cit., p.97.<br />
218 SERGIPE. Relatório com que o Exmo. Sr. Presi<strong>de</strong>nte Dr. João Ferreira D‟ Araujo Pinho abriu a Ass<strong>em</strong>bleia<br />
Legislativa Provincial <strong>de</strong> Sergipe no dia 1º <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1876. Aracaju. Typ. do Jornal do Aracaju, 1876, p. 5.<br />
219 I<strong>de</strong>m, p. 18-19.<br />
220 Ibi<strong>de</strong>m, p. 19.<br />
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