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TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...

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continua com as vossas más inclinações, hábitos e vícios e assim tereis ao<br />

peccado um ódio implacável. 152<br />

Após a confissão quais seriam as penas sentenciadas aos penitenciados durante a<br />

missão? Sob a direção vigilante dos missionários capuchinhos, a população costumava<br />

trabalhar na construção <strong>de</strong> obras comunitárias, como ato <strong>de</strong> sacrifício para a expiação dos<br />

pecados, a população carregava muitas pedras, cavava a terra para a construção <strong>de</strong> tanques e<br />

outras obras como escreveu Amado <strong>em</strong> suas m<strong>em</strong>órias: “eu e outros meninos menores<br />

também pus<strong>em</strong>os pedras na cabeça. Da la<strong>de</strong>ira do Costa, no extr<strong>em</strong>o da vila, <strong>de</strong>scia a<br />

multidão <strong>de</strong> velhos, moços, ricos, pobres, todos carregavam pedras e cantanvam: “Pieda<strong>de</strong>,<br />

Senhor/ Ten<strong>de</strong> peieda<strong>de</strong>,/ É <strong>de</strong> nóis, pecadô...”. 153<br />

Na missão <strong>de</strong> Itaporanga/Se as pedras que a multidão carregou serviram para<br />

construção do adro da Igreja 154 , mas <strong>em</strong> outras localida<strong>de</strong>s as pedras serviram para a<br />

construção <strong>de</strong> c<strong>em</strong>itérios, capelas, igrejas, hospitais, entre outras obras comunitárias. Para<br />

Cândido da Costa e Silva, esses serviços à comunida<strong>de</strong> eram “realizados com motivação<br />

penitencial, expiatória. O trabalho visualizado como pena, como exercício <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong> que<br />

afasta o ócio”. 155 O sacramento da penitência era uma recomendação constante nos sermões<br />

capuchinhos. Mas carregar pedras, abrir estradas e participar das <strong>de</strong>mais obras comunitárias,<br />

muito comum, nas missões não servia apenas como expiação do pecado. Consi<strong>de</strong>ramos que,<br />

além <strong>de</strong> afastar o ócio, a reza, a penitência e todos os atos realizados durante a missão<br />

“transformavam” o cotidiano da paróquia, da comunida<strong>de</strong> e das localida<strong>de</strong>s circunvizinhas,<br />

antes, durante e após a missão.<br />

Tanto as palavras do discurso como a forma <strong>em</strong> que ele era proferido causava<br />

medo à massa <strong>de</strong> ouvintes. Mas o discurso “assustador” <strong>de</strong>sses missionários tinha como<br />

utilida<strong>de</strong> somente convencer a população da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conquistar a salvação eterna?<br />

Nesse trabalho compreen<strong>de</strong>mos os sermões, os cânticos, os sacramentos (batismo,<br />

eucaristia, confirmação, penitência, e matrimônio), entre outras, como “estratégias” utilizadas<br />

pelos missionários, enquanto homens letrados, s<strong>em</strong>eadores do Evangelho e mensageiros da<br />

Igreja. Mas, nessa tessitura <strong>em</strong> que se cruzavam os sujeitos, havia, como afirmou Roger<br />

Chartier, um espaço entre a norma e o vivido, por isso, esses homens, <strong>em</strong> contato com a<br />

população, viviam na prática diversas experiências que ultrapassavam essas “estratégias”.<br />

152<br />

AHNSP – Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Sermões <strong>de</strong> Frei Caetano <strong>de</strong> San Leo, op. cit., p. 76.<br />

153<br />

AMADO, op. cit., p. 148.<br />

154<br />

AHNSP – Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> M<strong>em</strong>órias <strong>de</strong> Frei João Evangelista <strong>de</strong> Monte Marciano, op. cit., p. 56.<br />

155 SILVA, op. cit., p. 40.<br />

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