TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...
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foi transferida para a segunda-feira, dia que permanece até os dias atuais. Saco do Ribeiro<br />
(hoje Ribeirópolis) é apenas um ex<strong>em</strong>plo dos povoados sergipanos palco das missões.<br />
Os “barbadinhos” usavam muitos símbolos com o objetivo <strong>de</strong> facilitar a<br />
compreensão da mensag<strong>em</strong> transmitida à multidão. Cada objeto utilizado, cada palavra<br />
proferida tinha um propósito. Daí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> instrumental<br />
consi<strong>de</strong>rado pelos cristãos como sagrado, a ex<strong>em</strong>plo da cruz. Segundo Fernando Torres-<br />
Londono, a cruz era o símbolo que representava para os cristãos a presença do único Deus,<br />
por isso, era s<strong>em</strong>pre usada à frente <strong>de</strong> todas as procissões. “Ela representava para os<br />
missionários não só Jesus Cristo, mas seu triunfo <strong>de</strong>finitivo [...] a cruz serviu para traçar o<br />
limite entre dois campos: o dos cristãos e convertidos e o dos pagãos”. 348 A estrofe do cântico<br />
das missões mostra a associação da cruz ao sofrimento <strong>de</strong> Jesus Cristo.<br />
Por lavar as nossas culpas,<br />
Morreu Cristo numa cruz;<br />
Vin<strong>de</strong> pais e vin<strong>de</strong> mães;<br />
Qu<strong>em</strong> vos chama é o Bom Jesus. 349<br />
A cruz assumia a função <strong>de</strong> “criar um espaço do sagrado cristão, levava aos infiéis<br />
a sua veneração e adoração e facilitava a pregação e a conversão”. 350 Ex<strong>em</strong>plo disso era a<br />
edificação do Cruzeiro no encerramento <strong>de</strong> cada missão. Esse lugar, a partir <strong>de</strong> então, tornava-<br />
se sagrado para os cristãos. Em nome <strong>de</strong> Cristo os capuchinhos <strong>de</strong>marcavam os “espaços” e<br />
estendiam os domínios da Igreja Católica. Muitas vezes no lugar do Cruzeiro construía-se<br />
uma Capela na qual o pároco daria continuida<strong>de</strong> aos ensinamentos dos capuchinhos. E, além<br />
disso, também serviria como ponto <strong>de</strong> encontro das pessoas das comunida<strong>de</strong>s vizinhas.<br />
Na maioria das vezes ao redor da capela <strong>de</strong>senvolveram-se feiras e núcleos <strong>de</strong><br />
povoamento que chegavam, posteriormente, a cida<strong>de</strong>s, a ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong> Saco do Ribeiro que,<br />
<strong>em</strong> 1927, passou a Distrito <strong>de</strong> Paz, e <strong>em</strong> 1933, ganhou autonomia <strong>de</strong> Itabaiana passando a<br />
categoria <strong>de</strong> município com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Ribeirópolis. Neste sentido a consciência<br />
transmitida através da religião contribuiu para a formação da socieda<strong>de</strong>. As missões tinham<br />
por objetivo efetuar uma reforma dos costumes, <strong>de</strong>spertando e alimentando a fé dos cristãos.<br />
348 TORRES-LONDONO, Fernando. Introdução do Sagrado Cristão nas Crônicas sobre a Cristianização do<br />
Brasil. IN: QUEIROZ, José J. (org). Interfaces do Sagrado: Em véspera <strong>de</strong> Milênio. São Paulo: Editora Olho d‟<br />
água, 1996, p. 64.<br />
349 SILVA, Cândido da Costa e. Roteiro da Vida e da Morte: um estudo do catolicismo no sertão da Bahia. São<br />
Paulo: Ática, 1982, p. 33.<br />
350 TORRES-LONDONO, op. cit., p. 66.<br />
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