TATIANE OLIVEIRA DA CUNHA - Programa de Pós-Graduação em ...
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foi nomeado para o Lagarto, sendo ali recebido com gran<strong>de</strong> regozijo pelos<br />
parentes e amigos e especialmente por ter sucedido ao Dr. Catão, que se<br />
havia malquistado com a população local e assim ganhou uma indireta<br />
manifestação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagrado. Houve numerosa cavalhada, banquete e muitos<br />
discursos. O novo juiz sentiu-se prestigiado, trajava-se b<strong>em</strong>, chegando ao<br />
escândalo <strong>de</strong> sair diariamente <strong>de</strong> sobrecasaca e cartola. [...] Desagradava-lhe<br />
encontrar, nos dias <strong>de</strong> feira, os roceiros nas ruas vestindo camisa e ceroula<br />
no meio das canelas, e, para começar conseguiu proibir tal costume. Correu a<br />
notícia e seu prestígio aumentou. Tendo ocorrido uma recepção<br />
acompanhada <strong>de</strong> foguetório, quando havia uma Santa-Missão, com latada <strong>de</strong><br />
palha <strong>de</strong> coqueiro na Praça e procissão <strong>de</strong> penitência, Frei João, um fra<strong>de</strong><br />
barbado e gordíssimo que a chefiava, não queria que se soltass<strong>em</strong> foguetes e<br />
reclamou ao juiz e ele respon<strong>de</strong>u: Reverendíssimo: Mais nos incomodam<br />
seus sinos a bater o dia inteiro e ninguém reclama. O fra<strong>de</strong> engoliu <strong>em</strong> seco e<br />
saiu. [...]. 328<br />
Esse trecho da crônica “Entre Estância e Lagarto” <strong>de</strong> Edilberto Campos ressalta<br />
alguns aspectos importantes para compreen<strong>de</strong>rmos as missões: a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção<br />
enfrentada pela população e missionários, pois os meios <strong>de</strong> transporte mais utilizados da<br />
época era o cavalo e o carro-<strong>de</strong>-boi, sendo natural, que a maioria da população, viajasse<br />
distâncias longas, também a pé; o interesse dos homens <strong>de</strong> direito <strong>em</strong> mudar os costumes da<br />
população; a discussão entre o missionário e o juiz. Nesse aspecto, estranha-se o fato <strong>de</strong> frei<br />
João Evangelista, tido por seus cont<strong>em</strong>porâneos, como um missionário <strong>de</strong> t<strong>em</strong>peramento e<br />
atitu<strong>de</strong>s autoritárias não ter respondido as provocações do novo juiz <strong>de</strong> Lagarto.<br />
Os missionários também tentavam afastar enfermida<strong>de</strong>s, principalmente aquelas<br />
que a população consi<strong>de</strong>rava que tinham origens espirituais, conforme <strong>de</strong>screveu Adalberto<br />
Fonseca.<br />
As pessoas acometidas <strong>de</strong> loucura recebiam um tratamento <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong><br />
todo e qualquer sentido lógico. Em vez <strong>de</strong> procurar<strong>em</strong> um medico<br />
neurologista ou ainda a aplicação <strong>de</strong> tratamento científico, corriam para os<br />
seguintes receituários. Primeiro: sessão espírita. Não sendo possível afastar o<br />
espírito atuante, era o doente levado ao missionário on<strong>de</strong> quer que<br />
estivesse, sendo realizada uma Santa Missão. O missionário cobria o<br />
doente com uma capa, jogava-lhe água benta e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazer algumas<br />
orações, tirava o cordão que segura a batina e mandava no couro do<br />
doente. 329 [grifo nosso]<br />
Esse trecho mostra que a população recorria aos missionários não apenas para<br />
buscar a salvação da alma, mas também para adquirir a cura <strong>de</strong> doenças mentais. O<br />
328 CAMPOS, Edilberto. Crônicas da Passag<strong>em</strong> do Século. Apud FONSECA, Adalberto. História <strong>de</strong> Lagarto.<br />
2002, p. 112.<br />
329 FONSECA, op. cit., p. 209.<br />
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