C rítica à E conom ia V erde - Fundação Heinrich Böll
C rítica à E conom ia V erde - Fundação Heinrich Böll
C rítica à E conom ia V erde - Fundação Heinrich Böll
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Bem-estar na diversidade<br />
diferentes culturas se diferenc<strong>ia</strong>m pelo seu entendimento de natureza, trabalho,<br />
famíl<strong>ia</strong>, relação entre os gêneros e espiritualidade. Mas todas têm uma coisa em<br />
comum: atribuem valor <strong>à</strong>s condições soc<strong>ia</strong>is pela categor<strong>ia</strong> “bom ou ruim”, e não<br />
só pela categor<strong>ia</strong> “eficiente ou improdutivo”. A primeira diferenc<strong>ia</strong>ção representa<br />
um julgamento moral que é marcado pela histór<strong>ia</strong> geral que se conta de cada<br />
cultura, por sua percepção do tempo e do espaço. A segunda é um julgamento<br />
econômico, que atribui valor segundo desempenho, produtividade e capacidade<br />
de concorrênc<strong>ia</strong>. Nesse caso, também se conta uma histór<strong>ia</strong> de como obter<br />
riqueza por meio de bens e poder econômico. A forma de pensar econômica<br />
coloniza outros setores da vida, como a educação, a famíl<strong>ia</strong>, o sistema de saúde,<br />
a cultura, o lazer, cujas normas e valores não têm muito a ver com eficiênc<strong>ia</strong><br />
econômica e competitividade. Cada setor tem diferentes conceitos que os<br />
gu<strong>ia</strong>m, estilos de pensamento e práticas que diferem de acordo com a religião<br />
e a cultura. As mentalidades dos setores da vida são marcadas culturalmente<br />
e ganham relevânc<strong>ia</strong> enquanto impulso e ação embora estejam em constante<br />
transformação.<br />
Romper o monopólio da narrativa econômica na área pública é o propósito<br />
que une milhares de movimentos de oposição do mundo inteiro. No Norte,<br />
existem numerosas inic<strong>ia</strong>tivas que tentam limitar o predomínio da perspectiva<br />
e<strong>conom</strong>icista. Essas ações remam contra a maré que quer atribuir funções ao<br />
trabalho, <strong>à</strong> educação, ao planejamento urbano, <strong>à</strong> arte e <strong>à</strong>s relações soc<strong>ia</strong>is, ou<br />
seja, <strong>à</strong> vida inteira em nome de mais eficiênc<strong>ia</strong> econômica. Nesse sentido, não<br />
se apo<strong>ia</strong>m em cálculos de custo-benefício, e sim em medidas que dizem respeito<br />
a uma vida boa e justa. Não é por acaso que a discussão sobre o conceito de<br />
bem-estar está voltando a ocupar nossas mentes. Muita gente acha que o PIB<br />
enquanto principal conceito da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> é equivocado e deve ser substituído<br />
por outras medidas de bem-estar. Não se pode falar de bem-estar soc<strong>ia</strong>l quando<br />
a desigualdade aumenta cada vez mais e a fortuna de um indivíduo é comprada<br />
<strong>à</strong> custa da pobreza de muitos; ou quando a produção de bens agrícolas, de<br />
mercador<strong>ia</strong>s e serviços significa um dano aos ecossistemas locais e <strong>à</strong> biosfera<br />
global, como sublinha o relatório do PNUMA sobre e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> v<strong>erde</strong>.<br />
Outro plano para brecar a e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> é a reordenação dos mercados financeiros.<br />
Como dissociá-los da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> real? Delimitar fronteiras claras para o mercado<br />
financeiro e dar uma função adequada ao dinheiro: isso se revela cada vez mais<br />
como necessidade para uma política que não apenas administra, mas também<br />
configura.<br />
Outro campo de ardentes batalhas durante toda a histór<strong>ia</strong> da industr<strong>ia</strong>lização<br />
é o trabalho. Os temas de divergênc<strong>ia</strong> vão do tamanho da jornada <strong>à</strong> precarização,<br />
dos conflitos sobre o trabalho na esteira até os salários e bônus dos altos<br />
executivos, mas a questão central é: até que ponto a e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> pode se apoderar<br />
da vida de uma pessoa? Além disso, a “mãe” de todas as perguntas veio para o<br />
primeiro plano: o que define um bom trabalho? Um bom trabalho é uma atividade<br />
satisfatór<strong>ia</strong>, desaf<strong>ia</strong>dora – mas o que ser<strong>ia</strong> um trabalho que prejudica as pessoas<br />
ou a natureza? Não estamos longe do momento em que se discutirá um bom<br />
43