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C rítica à E conom ia V erde - Fundação Heinrich Böll

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Bem-estar na diversidade<br />

diferentes culturas se diferenc<strong>ia</strong>m pelo seu entendimento de natureza, trabalho,<br />

famíl<strong>ia</strong>, relação entre os gêneros e espiritualidade. Mas todas têm uma coisa em<br />

comum: atribuem valor <strong>à</strong>s condições soc<strong>ia</strong>is pela categor<strong>ia</strong> “bom ou ruim”, e não<br />

só pela categor<strong>ia</strong> “eficiente ou improdutivo”. A primeira diferenc<strong>ia</strong>ção representa<br />

um julgamento moral que é marcado pela histór<strong>ia</strong> geral que se conta de cada<br />

cultura, por sua percepção do tempo e do espaço. A segunda é um julgamento<br />

econômico, que atribui valor segundo desempenho, produtividade e capacidade<br />

de concorrênc<strong>ia</strong>. Nesse caso, também se conta uma histór<strong>ia</strong> de como obter<br />

riqueza por meio de bens e poder econômico. A forma de pensar econômica<br />

coloniza outros setores da vida, como a educação, a famíl<strong>ia</strong>, o sistema de saúde,<br />

a cultura, o lazer, cujas normas e valores não têm muito a ver com eficiênc<strong>ia</strong><br />

econômica e competitividade. Cada setor tem diferentes conceitos que os<br />

gu<strong>ia</strong>m, estilos de pensamento e práticas que diferem de acordo com a religião<br />

e a cultura. As mentalidades dos setores da vida são marcadas culturalmente<br />

e ganham relevânc<strong>ia</strong> enquanto impulso e ação embora estejam em constante<br />

transformação.<br />

Romper o monopólio da narrativa econômica na área pública é o propósito<br />

que une milhares de movimentos de oposição do mundo inteiro. No Norte,<br />

existem numerosas inic<strong>ia</strong>tivas que tentam limitar o predomínio da perspectiva<br />

e<strong>conom</strong>icista. Essas ações remam contra a maré que quer atribuir funções ao<br />

trabalho, <strong>à</strong> educação, ao planejamento urbano, <strong>à</strong> arte e <strong>à</strong>s relações soc<strong>ia</strong>is, ou<br />

seja, <strong>à</strong> vida inteira em nome de mais eficiênc<strong>ia</strong> econômica. Nesse sentido, não<br />

se apo<strong>ia</strong>m em cálculos de custo-benefício, e sim em medidas que dizem respeito<br />

a uma vida boa e justa. Não é por acaso que a discussão sobre o conceito de<br />

bem-estar está voltando a ocupar nossas mentes. Muita gente acha que o PIB<br />

enquanto principal conceito da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> é equivocado e deve ser substituído<br />

por outras medidas de bem-estar. Não se pode falar de bem-estar soc<strong>ia</strong>l quando<br />

a desigualdade aumenta cada vez mais e a fortuna de um indivíduo é comprada<br />

<strong>à</strong> custa da pobreza de muitos; ou quando a produção de bens agrícolas, de<br />

mercador<strong>ia</strong>s e serviços significa um dano aos ecossistemas locais e <strong>à</strong> biosfera<br />

global, como sublinha o relatório do PNUMA sobre e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> v<strong>erde</strong>.<br />

Outro plano para brecar a e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> é a reordenação dos mercados financeiros.<br />

Como dissociá-los da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> real? Delimitar fronteiras claras para o mercado<br />

financeiro e dar uma função adequada ao dinheiro: isso se revela cada vez mais<br />

como necessidade para uma política que não apenas administra, mas também<br />

configura.<br />

Outro campo de ardentes batalhas durante toda a histór<strong>ia</strong> da industr<strong>ia</strong>lização<br />

é o trabalho. Os temas de divergênc<strong>ia</strong> vão do tamanho da jornada <strong>à</strong> precarização,<br />

dos conflitos sobre o trabalho na esteira até os salários e bônus dos altos<br />

executivos, mas a questão central é: até que ponto a e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> pode se apoderar<br />

da vida de uma pessoa? Além disso, a “mãe” de todas as perguntas veio para o<br />

primeiro plano: o que define um bom trabalho? Um bom trabalho é uma atividade<br />

satisfatór<strong>ia</strong>, desaf<strong>ia</strong>dora – mas o que ser<strong>ia</strong> um trabalho que prejudica as pessoas<br />

ou a natureza? Não estamos longe do momento em que se discutirá um bom<br />

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