C rítica à E conom ia V erde - Fundação Heinrich Böll
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CAPÍTULO 5<br />
Bem-estar na diversidade<br />
Desde tempos imemor<strong>ia</strong>is, sempre foi frágil a relação entre dinheiro e felicidade.<br />
O dinheiro traz felicidade? Quem tem mais chances de ser feliz, uma pessoa<br />
rica ou um pobre? Gerações de sábios tentam descobrir de que forma se<br />
pode compatibilizar os objetivos da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> com as demais metas de uma<br />
sociedade. Mas depois que o capitalismo financeiro global assumiu o poder sobre<br />
a e<strong>conom</strong><strong>ia</strong>, a velha relação entre dinheiro e felicidade se rompeu totalmente.<br />
O PIB se dissociou do desenvolvimento do bem-estar. Assim, um PIB elevado<br />
pode até mesmo ter efeitos destrutivos sobre o bem-estar. Nem é preciso pensar<br />
apenas na natureza. Basta lembrar o que a busca pelo crescimento econômico a<br />
qualquer preço fez com as comunidades e as sociedades. Duzentos e trinta anos<br />
depois de Adam Smith, que inaugurou a era da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> com sua obra Uma<br />
Investigação sobre a Natureza e as Causas do Bem-estar das Nações (Inquiry Into<br />
Nature and Causes of the Wealth of Nations), a meta original de qualquer atividade<br />
econômica – o bem-estar das nações – se dissipou e se tornou irreconhecível.<br />
No entanto – mal dá para acreditar! – não é o acúmulo de lucro ou de poder o<br />
verdadeiro objetivo da atividade econômica, e sim o bem-estar dos homens e da<br />
natureza. Mas o que ser<strong>ia</strong> a “real riqueza”?<br />
A questão do bem-estar voltou <strong>à</strong> ordem do d<strong>ia</strong>, tanto no Sul quanto no Norte.<br />
Se o bem-estar não é igual a crescimento, o que é então? Existem vários projetos<br />
de bem-estar? Quais são as metas do bem-estar e quais os meios para a sua<br />
realização? Essa é a pergunta elementar que instiga numerosos movimentos<br />
soc<strong>ia</strong>is, marca o debate público e pode ser encontrada tanto nos institutos<br />
de estatística quanto em uma comissão parlamentar. Essa questão tange a<br />
discussão em torno da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> v<strong>erde</strong> na Europa e da “civilização ecológica” na<br />
China, além de incentivar o debate pela “e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> da suficiênc<strong>ia</strong>” na Tailând<strong>ia</strong>,<br />
pela e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> “islâmica” e por um Buen Vivir nos países andinos. Mas quase<br />
nada disso tudo entrou no relatório do PNUMA sobre a e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> v<strong>erde</strong> ou nos<br />
documentos da Rio+20.<br />
Perguntar pelo bem-estar significa libertar a sociedade de um pedaço da<br />
e<strong>conom</strong><strong>ia</strong>. Mais ainda: significa repelir a e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> até a “sociedade de mercado”<br />
se tornar uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> de mercado. O filósofo e histor<strong>ia</strong>dor da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong>, o<br />
húngaro Karl Polanyi, cunhou essa expressão para afirmar que o equilíbrio entre<br />
e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> e sociedade precisa ser redefinido. Segundo Polanyi, uma sociedade<br />
tem uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong>, mas não é uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong>. A tênue linha que separa a<br />
e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> da sociedade sempre foi polêmica e culturalmente codificada. As<br />
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C<strong>rítica</strong> <strong>à</strong> E<strong>conom</strong><strong>ia</strong> V<strong>erde</strong> Impulsos para um Futuro Socioambiental Justo Justo