trata dos elos entre pessoas e não apenas de bens mater<strong>ia</strong>is. O arco da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> relacional pode ir de assoc<strong>ia</strong>ções tradicionais esportivas ou religiosas até negócios mais clássicos como pequenos comércios e serviços de reparo ou formas pós-modernas como o compartilhamento de automóveis e instalações solares comunitár<strong>ia</strong>s. Inclui ainda diversas formas de relacionamento: amizades, grupos de autoajuda, comércio local, serviços na vizinhança, beneficentes ou v<strong>ia</strong> Internet. Podemos encontrar formas da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> relacional nos setores mais diversos: alimentação, assistênc<strong>ia</strong> a idosos e doentes, serviços, demandas cotid<strong>ia</strong>nas e nos setores esportivo e de lazer. No cerne está uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> que aposta em relações soc<strong>ia</strong>is, uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> do cuidado, do acolhimento. Ela cuida de cr<strong>ia</strong>nças, jovens, doentes e idosos. Pais, educadores e assistentes soc<strong>ia</strong>is se organizam. Naturalmente, aparecem também as dificuldades enfrentadas por uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> relacional. O trabalho do cuidado, as relações famil<strong>ia</strong>res, as comunidades e os prestadores de serviço privados precisam se reorganizar financeira e estruturalmente. Uma tal reorganização terá de reordenar também as relações entre os gêneros, para não eternizar a obsoleta divisão de trabalho hierárquica entre os gêneros. A care e<strong>conom</strong>y, e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> do cuidado, sai dos trilhos e, com ela, todo o conceito da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> relacional, se os homens não participarem da mesma forma que as mulheres. O trabalho do cuidado precisa ser revalorizado política e soc<strong>ia</strong>lmente. O trabalho pago e o trabalho não-pago terão de ser redistribuídos, não apenas – mas, principalmente – entre os gêneros. Além disso, a e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> relacional apela para outros motivos e outras normas em comparação ao mercado e ao Estado. Certo, há também concorrênc<strong>ia</strong>, desempenho, rotina e lealdade. Essas qualidades também podem ser parte dos bens comuns, mas jamais poderão substituir voluntar<strong>ia</strong>do e auto-organização, cooperação e espírito empreendedor. Seja na construção da Wikiped<strong>ia</strong> ou de jardins comunitários, seja na administração de lares de idosos ou creches, a virtude da cooperação é a maior de todas. Apesar de todas as dificuldades, cooperar vale mais do que concorrer, a curiosidade coletiva é mais valorizada do que um egoísmo que acumula. Tudo o que fazemos com paixão, engajamento e responsabilidade tem mais êxito. Essa antiga sabedor<strong>ia</strong> precisou ser aprendida a duras penas pela e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> de administração clássica. Como pode funcionar uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> sem crescer? Não pode haver resposta a essa questão sem que se levem em conta as dimensões até agora ocultas do bem-estar, sobretudo, também da chamada “e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> do cuidado”. Uma dessas dimensões são os bens comuns soc<strong>ia</strong>is, soc<strong>ia</strong>l commons. Embora a fortuna privada seja a dimensão do bem-estar mais evidente, todas as outras var<strong>ia</strong>ntes de riqueza comunitár<strong>ia</strong> são pelo menos tão importantes. Nelas está a chance de construir futuramente formas de “e<strong>conom</strong><strong>ia</strong>s distributivas” segundo o exemplo da geração de energ<strong>ia</strong> distributiva (distributed energy production), ou seja, formas de produção local ligadas entre si através da Internet, se necessário, em escala mund<strong>ia</strong>l. Antes de mais nada, parece possível conquistar bem-estar com menos dinheiro. Como nos bens comuns os serviços não são prestados por motivos 40 C<strong>rítica</strong> <strong>à</strong> E<strong>conom</strong><strong>ia</strong> V<strong>erde</strong> Impulsos para um Futuro Socioambiental Justo Justo
Os contornos de uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> moderada monetários, e sim por espírito comunitário, interesse comum ou solidariedade. Dessa forma, as demandas podem ser atendidas com menor gasto de dinheiro. Assim como a Wikiped<strong>ia</strong> não poder<strong>ia</strong> ser paga se todos os autores recebessem honorários (ainda que pequenos), pessoas idosas podem se ajudar mutuamente em uma morad<strong>ia</strong> comunitár<strong>ia</strong> através de serviços que a Previdênc<strong>ia</strong> Soc<strong>ia</strong>l jamais poder<strong>ia</strong> pagar. Por isso, reinventar os bens comuns é pré-condição para se construir uma ordem econômica sem crescimento no século XXI. 41