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C rítica à E conom ia V erde - Fundação Heinrich Böll

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trata dos elos entre pessoas e não apenas de bens mater<strong>ia</strong>is. O arco da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong><br />

relacional pode ir de assoc<strong>ia</strong>ções tradicionais esportivas ou religiosas até<br />

negócios mais clássicos como pequenos comércios e serviços de reparo ou<br />

formas pós-modernas como o compartilhamento de automóveis e instalações<br />

solares comunitár<strong>ia</strong>s. Inclui ainda diversas formas de relacionamento: amizades,<br />

grupos de autoajuda, comércio local, serviços na vizinhança, beneficentes ou<br />

v<strong>ia</strong> Internet. Podemos encontrar formas da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> relacional nos setores<br />

mais diversos: alimentação, assistênc<strong>ia</strong> a idosos e doentes, serviços, demandas<br />

cotid<strong>ia</strong>nas e nos setores esportivo e de lazer.<br />

No cerne está uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> que aposta em relações soc<strong>ia</strong>is, uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong><br />

do cuidado, do acolhimento. Ela cuida de cr<strong>ia</strong>nças, jovens, doentes e idosos. Pais,<br />

educadores e assistentes soc<strong>ia</strong>is se organizam. Naturalmente, aparecem também<br />

as dificuldades enfrentadas por uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> relacional. O trabalho do cuidado,<br />

as relações famil<strong>ia</strong>res, as comunidades e os prestadores de serviço privados<br />

precisam se reorganizar financeira e estruturalmente. Uma tal reorganização terá<br />

de reordenar também as relações entre os gêneros, para não eternizar a obsoleta<br />

divisão de trabalho hierárquica entre os gêneros. A care e<strong>conom</strong>y, e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> do<br />

cuidado, sai dos trilhos e, com ela, todo o conceito da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> relacional, se<br />

os homens não participarem da mesma forma que as mulheres. O trabalho do<br />

cuidado precisa ser revalorizado política e soc<strong>ia</strong>lmente. O trabalho pago e o<br />

trabalho não-pago terão de ser redistribuídos, não apenas – mas, principalmente<br />

– entre os gêneros.<br />

Além disso, a e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> relacional apela para outros motivos e outras normas<br />

em comparação ao mercado e ao Estado. Certo, há também concorrênc<strong>ia</strong>,<br />

desempenho, rotina e lealdade. Essas qualidades também podem ser parte dos<br />

bens comuns, mas jamais poderão substituir voluntar<strong>ia</strong>do e auto-organização,<br />

cooperação e espírito empreendedor. Seja na construção da Wikiped<strong>ia</strong> ou de<br />

jardins comunitários, seja na administração de lares de idosos ou creches, a<br />

virtude da cooperação é a maior de todas. Apesar de todas as dificuldades,<br />

cooperar vale mais do que concorrer, a curiosidade coletiva é mais valorizada do<br />

que um egoísmo que acumula. Tudo o que fazemos com paixão, engajamento e<br />

responsabilidade tem mais êxito. Essa antiga sabedor<strong>ia</strong> precisou ser aprendida a<br />

duras penas pela e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> de administração clássica.<br />

Como pode funcionar uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> sem crescer? Não pode haver resposta<br />

a essa questão sem que se levem em conta as dimensões até agora ocultas do<br />

bem-estar, sobretudo, também da chamada “e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> do cuidado”. Uma dessas<br />

dimensões são os bens comuns soc<strong>ia</strong>is, soc<strong>ia</strong>l commons. Embora a fortuna<br />

privada seja a dimensão do bem-estar mais evidente, todas as outras var<strong>ia</strong>ntes<br />

de riqueza comunitár<strong>ia</strong> são pelo menos tão importantes. Nelas está a chance de<br />

construir futuramente formas de “e<strong>conom</strong><strong>ia</strong>s distributivas” segundo o exemplo<br />

da geração de energ<strong>ia</strong> distributiva (distributed energy production), ou seja, formas<br />

de produção local ligadas entre si através da Internet, se necessário, em escala<br />

mund<strong>ia</strong>l. Antes de mais nada, parece possível conquistar bem-estar com menos<br />

dinheiro. Como nos bens comuns os serviços não são prestados por motivos<br />

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C<strong>rítica</strong> <strong>à</strong> E<strong>conom</strong><strong>ia</strong> V<strong>erde</strong> Impulsos para um Futuro Socioambiental Justo Justo

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