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C rítica à E conom ia V erde - Fundação Heinrich Böll

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Soc<strong>ia</strong>l commons (bens comuns soc<strong>ia</strong>is) enquanto fator econômico<br />

Nos velhos países industr<strong>ia</strong>lizados, acabou a era do acelerado crescimento<br />

econômico. Os espec<strong>ia</strong>listas ainda divergem sobre se devemos esperar um<br />

pequeno acréscimo anual da produção econômica ou um crescimento zero<br />

interrompido por ciclos de crescimento e de recessão. Mas nesse cálculo<br />

ainda não entrou a transformação ambiental da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> e da sociedade.<br />

Uma estratég<strong>ia</strong> da ecoeficiênc<strong>ia</strong> (“melhor”), da capacidade de ser absorvida<br />

pela natureza (“diferente”) e da autolimitação (“menos”) tem ainda menos<br />

perspectivas de crescimento. Numa sociedade pós-crescimento, os setores<br />

renováveis da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> precisam crescer enquanto os fósseis encolhem.<br />

Entretanto, no cômputo geral, teremos que contar com taxas de crescimento<br />

negativas no longo prazo. Como funcionará uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> que não cresce<br />

e na qual todos têm uma renda menor do que antes? Em termos gerais, há<br />

duas respostas para esta pergunta que determinará as próximas décadas, uma<br />

reacionár<strong>ia</strong> e outra progressista. A primeira consiste em atravessar um período de<br />

recessão com crescente desigualdade, exclusão soc<strong>ia</strong>l e mais misér<strong>ia</strong>. A segunda<br />

quer investir em um novo modelo de bem-estar que assegure a todos uma vida<br />

sem privações, já que se base<strong>ia</strong> em outro equilíbrio entre e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> e sociedade.<br />

A resposta progressista não cai do céu. Ela demanda preparativos ao longo dos<br />

próximos anos e das próximas décadas. É preciso ter novas infraestruturas para<br />

mentalidades modificadas a fim de fortalecer a sociedade em relação ao mercado.<br />

Os chamados bens comuns (em inglês, commons), uma instituição antiga,<br />

ainda são um traço da realidade atual. As pessoas só podem sobreviver e viver<br />

de forma digna se tiverem acesso <strong>à</strong> natureza, acesso a famíl<strong>ia</strong>s e amigos, acesso <strong>à</strong><br />

língua e <strong>à</strong> cultura. Por mais óbvio que pareça, é difícil encontrar uma linguagem<br />

política pública para isso. Quando se fala de e<strong>conom</strong><strong>ia</strong>, os conceitos de mercado<br />

e Estado têm uma papel proeminente. Quando se fala de política, lembramos<br />

os pólos antagônicos de esquerda e direita. Mas pouca gente fala dos bens<br />

comuns, como se não existisse nada importante além do mercado e do Estado.<br />

Os conceitos de mercado e Estado surgem como dois vasos comunicantes –<br />

muito mercado de um lado, pouco Estado de outro e vive-versa. E, no entanto, os<br />

histor<strong>ia</strong>dores e antropólogos há muito alertam que a troca de bens v<strong>ia</strong> mercado<br />

ou Estado só representa duas formas da distribuição de bens, havendo ainda uma<br />

terceira, que é a troca no seio de uma comunidade. Enquanto na primeira forma<br />

predomina o princípio da competição, a segunda é regida pelo princípio do<br />

planejamento e a terceira, pelo da reciprocidade. De forma geral, esses princípios<br />

distributivos se mesclam numa sociedade. Entretanto, ao longo dos últimos dois<br />

séculos aconteceu algo novo: o princípio da solidariedade vem gradativamente<br />

p<strong>erde</strong>ndo terreno.<br />

Assim, desde Adam Smith o conflito se concentrou na relação entre mercado e<br />

Estado, entre competição e planejamento, enquanto o princípio da reciprocidade<br />

se tornou o grande p<strong>erde</strong>dor. Grupos comunitários como famíl<strong>ia</strong>s, parentes,<br />

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C<strong>rítica</strong> <strong>à</strong> E<strong>conom</strong><strong>ia</strong> V<strong>erde</strong> Impulsos para um Futuro Socioambiental Justo Justo

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