C rítica à E conom ia V erde - Fundação Heinrich Böll
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Os contornos de uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> moderada<br />
qual o custo energético cresce geometricamente. Assim, o design de veículos e<br />
equipamentos cuidadosamente motorizados expressa a utop<strong>ia</strong> do século XXI de<br />
poder viver com elegânc<strong>ia</strong> dentro dos limites naturais.<br />
Mais regionalização. A velocidade gera distânc<strong>ia</strong>s maiores. Por isso, a<br />
aceleração baseada em combustíveis fósseis levou <strong>à</strong> cr<strong>ia</strong>ção de amplas redes de<br />
interligação nos espaços nacional, continental e até global. Primeiro foram os<br />
trens e os caminhões, depois o avião e o navio de contêineres, e finalmente a<br />
Internet que separaram a vida e as inter-relações locais da e<strong>conom</strong><strong>ia</strong>, unindo-as a<br />
centrais supralocais e supranacionais geralmente muito afastadas. São uvas que<br />
vêm do Chile, computadores de Taiwan. Até os ingredientes biológicos de uma<br />
mistura de cereais matinal percorrem centenas ou até milhares de quilômetros<br />
até chegar <strong>à</strong> nossa mesa. Assim, as regiões se transformam em plataformas em<br />
que se processam estratég<strong>ia</strong>s de distribuição e produção supralocais. O fato é<br />
que um bem-estar ecológico necessitará de um novo equilíbrio entre curtas e<br />
longas distânc<strong>ia</strong>s. Parece claro que será preciso haver sistemas de abastecimento<br />
não tão baseados em transportes se quisermos nos preparar para o fim da era do<br />
petróleo barato. Acima disso, será preciso uma ação econômica v<strong>erde</strong>, integrada<br />
aos ciclos naturais, que explore e processe matér<strong>ia</strong>s-primas energéticas, mater<strong>ia</strong>l<br />
de construção, têxteis e alimentos a partir dos ecossistemas regionais. Assim, a<br />
base mater<strong>ia</strong>l estará voltada para uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> regionalmente concentrada.<br />
Depois do triunfo da globalização, podemos contar com o renascimento dos<br />
territórios regionais.<br />
Consumo consciente. Esta regionalização é uma boa notíc<strong>ia</strong> para uma<br />
sociedade que pretenda diminuir o volume total do fluxo de mercador<strong>ia</strong>s<br />
para dimensões menos predatór<strong>ia</strong>s. É mais do que justificado perguntar se,<br />
em tempos de ampla escassez de recursos naturais, é razoável termos uma<br />
forma de e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> que emprega recursos valiosos para responder <strong>à</strong> demanda<br />
por produtos, fornecendo centenas de var<strong>ia</strong>ntes de uma mesma mercador<strong>ia</strong>,<br />
promovendo sua obsolescênc<strong>ia</strong> por meio de ciclos de vida cada vez mais breves<br />
e a substituição por novos bens. É bem verdade – e isso precisa ser enfatizado?<br />
– que uma estratég<strong>ia</strong> que vise <strong>à</strong> suficiênc<strong>ia</strong> quantitativa vai frontalmente de<br />
encontro a um capitalismo programado para o descarte. Só quem conseguir<br />
gerar valor com menos bens terá alguma chance de ganhar o futuro. Já vimos<br />
que, ao fabricar desejos infinitamente, a sociedade de consumo abandona sua<br />
função verdadeira, a de melhorar a vida das pessoas. Isso porque excessos e<br />
ciclos de desperdício tendem a sup<strong>erde</strong>mandar a capacidade de orientação e a<br />
força de decisão. Cada um de nós deve aprender uma qualidade inteiramente<br />
nova: descartar possibilidades, escolher, dizer não. “Tudo com moderação” –<br />
raramente, nos últimos dois milênios e meio, o antigo lema do Oráculo de Delfos<br />
foi tão acertado quanto agora, na sociedade de hiperconsumo.<br />
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