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C rítica à E conom ia V erde - Fundação Heinrich Böll

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E<strong>conom</strong><strong>ia</strong> v<strong>erde</strong>, a nova promessa?<br />

parte da crença de que as crises ambiental e alimentar podem ser enfrentadas<br />

com tecnolog<strong>ia</strong>. A dissoc<strong>ia</strong>ção é urgente, a redução em termos absolutos do uso<br />

de recursos também. A única questão é: como chegar lá?<br />

A primeira resposta é eficiênc<strong>ia</strong>, através do uso mais eficiente de energ<strong>ia</strong><br />

e matér<strong>ia</strong>s. Mais de 90% de todos os mater<strong>ia</strong>is e energ<strong>ia</strong>s mobilizados para<br />

produzir bens de consumo são gastos ainda antes de o produto estar pronto:<br />

os resíduos na mineração, perda de calor nas usinas térmicas, perda de solos na<br />

agricultura mecanizada, resíduos no processamento da madeira ou de metais,<br />

cereais na produção de animais, água no processamento de metais ou gasto com<br />

transportes no abastecimento de combustíveis. Quanto menor o uso de recursos,<br />

maior a ecoeficiênc<strong>ia</strong> de uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong>. É possível conseguir muito através do<br />

uso de outras técnicas, outros processos e produtos que reduzem drasticamente<br />

o consumo de energ<strong>ia</strong> e mater<strong>ia</strong>is. Quando a política interfere e ajuda – por<br />

exemplo, através de regras jurídicas, corte de subsídios para produtos fósseis ou<br />

novos padrões de eficiênc<strong>ia</strong> para construção civil, máquinas e equipamentos –<br />

essas estratég<strong>ia</strong>s de eficiênc<strong>ia</strong> têm grande potenc<strong>ia</strong>l de realização.<br />

No entanto, é preciso observar o efeito rebote (rebound effect, em inglês), que<br />

aparece quando uma melhor<strong>ia</strong> da eficiênc<strong>ia</strong> torna outras atividades intensivas<br />

em recursos possíveis, anulando o efeito de ganho ou de eficiênc<strong>ia</strong>. Existem<br />

alguns famigerados exemplos: o ganho de sistemas mais eficientes de calefação,<br />

que é anulado por uma maior área a ser aquecida; o ganho de automóveis<br />

mais eficientes, que é devorado por mais peso e velocidade; o ganho de linhas<br />

de produção mais eficientes, que é zerado por mais expansão e integração<br />

vertical. Isso diz respeito principalmente <strong>à</strong>s chamadas situações win-win, que<br />

prometem ganho ecológico acompanhado do econômico e nas quais esse efeito<br />

rebote é praticamente embutido através de um maior ganho financeiro. Aliás,<br />

são precisamente os países emergentes os mais atingidos pelo efeito rebote, pois<br />

eles partem com menos equipamentos e máquinas. Mesmo assim, a revolução<br />

da eficiênc<strong>ia</strong> é visto como panace<strong>ia</strong>, embora estudos mais recentes comprovem<br />

que os diferentes efeitos rebote (financeiros, mater<strong>ia</strong>is e quantitativos, bem<br />

como psicológicos) impedirão que se alcance o objetivo maior, que é respeitar os<br />

limites ambientais do consumo da natureza.<br />

Até hoje, segundo um estudo de dezembro de 2011 elaborado para uma<br />

comissão parlamentar na Alemanha sobre “Crescimento, Bem-estar, Qualidade<br />

de Vida”, “praticamente não existem análises macroeconômicas do efeito causal<br />

da eficiênc<strong>ia</strong> sobre o consumo de recursos”. E mais: na estratég<strong>ia</strong> de dissoc<strong>ia</strong>ção,<br />

constatou-se que, embora o consumo de algumas matér<strong>ia</strong>s-primas tenha subido<br />

menos rapidamente do que o PIB (dissoc<strong>ia</strong>ção relativa), “quase nunca houve uma<br />

queda em termos absolutos do consumo de recursos (dissoc<strong>ia</strong>ção absoluta)”<br />

(Madlener e Alcott 2011). Moral da histór<strong>ia</strong>: o uso racional deve ser acompanhado<br />

de objetivos moderados. Sem a revolução da suficiênc<strong>ia</strong>, a revolução da eficiênc<strong>ia</strong><br />

estará caminhando de olhos vendados.<br />

A segunda resposta é consistênc<strong>ia</strong>, através de uma mudança para tecnolog<strong>ia</strong>s<br />

mais amigáveis com a natureza. Nos conceitos mais sofisticados para uma<br />

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