C rítica à E conom ia V erde - Fundação Heinrich Böll
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E<strong>conom</strong><strong>ia</strong> v<strong>erde</strong>, a nova promessa?<br />
bens e serviços públicos, cuja invisibilidade econômica até hoje tem sido o<br />
principal motivo para sua subvalorização, má gestão e, no final das contas,<br />
prejuízo.” (PNUMA 2011: 22). É esse “capital natural” que deve ser alavancado<br />
pela e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> v<strong>erde</strong>. O raciocínio que subjaz a isso é a ide<strong>ia</strong>, já um pouco mais<br />
antiga, de que a proteção de ecossistemas e da biodiversidade funciona melhor<br />
se o seu uso custar alguma coisa. Com o comércio de emissões e o Mecanismo<br />
de Desenvolvimento Limpo iniciou-se uma financeirização da proteção ao clima<br />
enquanto, ao mesmo tempo, não há políticas de redução de emissões, com<br />
exceção da Europa.<br />
Como os cofres públicos estão vazios depois das crises financeira e econômica<br />
dos últimos anos, segundo essa linha de raciocínio será preciso haver incentivos<br />
adicionais de mercado para que o setor privado invista na preservação do meio<br />
ambiente. Dessa forma, desde as negoc<strong>ia</strong>ções do clima em Bali, em 2007, o<br />
REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) – portanto, a<br />
redução de emissões originadas por desmatamento e devastação das florestas<br />
– é visto como instrumento promissor para a proteção global das florestas. Para<br />
o PNUMA, é uma oportunidade única de transformar usos não sustentáveis<br />
da floresta (desmatamento para produção de madeira e pecuár<strong>ia</strong>) em v<strong>erde</strong>s,<br />
colocando-os em primeiro plano e pagando por prestações de serviço ambientais<br />
(conservação dos solos, ciclos da água).<br />
Transformar a defesa da natureza em fonte de lucros: essa perspectiva fascina<br />
tanto e<strong>conom</strong>istas quanto ambientalistas. “Uma chave decisiva para assegurar o<br />
futuro ser<strong>ia</strong> finalmente atribuir valor aos serviços ambientais e principalmente<br />
integrá-los ao nosso sistema de preços” (Succow 2009).<br />
Mas o que significa exatamente “valorar ecossistemas”? Nem todas as<br />
monetizações conduzem logo <strong>à</strong> mercantilização da natureza. Determinar, ainda<br />
que aproximadamente, o valor das multas que dever<strong>ia</strong>m pagar os diretores da<br />
Deepwater Horizon pelos prejuízos nos ecossistemas dos mares profundos do<br />
Golfo do México? Quais são os danos causados por um navio que passa por<br />
recifes de corais?<br />
E certamente far<strong>ia</strong> sentido analisar o que é mais caro: investir em saneamento<br />
ou na defesa de áreas com fontes de água naturais. Segundo o TEEB (The E<strong>conom</strong>y<br />
of Ecosystems and Biodiversity, A E<strong>conom</strong><strong>ia</strong> dos Ecossistemas e Biodiversidade),<br />
uma inic<strong>ia</strong>tiva sob a liderança do PNUMA, conferir preços <strong>à</strong> natureza ajudar<strong>ia</strong><br />
políticos e empresários a tomar decisões, dando a eles os elementos de que<br />
precisam em uma língua que conhecem. Os empresários poder<strong>ia</strong>m reconhecer<br />
melhor os riscos e os políticos poder<strong>ia</strong>m perceber custos ocultos e consequênc<strong>ia</strong>s<br />
duradouras de suas ações.<br />
Os defensores da e<strong>conom</strong>ização da natureza nem pensam no contexto soc<strong>ia</strong>l<br />
em que as “prestações de serviço dos ecossistemas” ocorrem – na verdade, esses<br />
conceitos, antes de mais nada, encobrem os contextos soc<strong>ia</strong>is.<br />
Isso porque não é a natureza que ser<strong>ia</strong> remunerada por esses serviços, e<br />
sim seus proprietários. Mas muitos dos últimos ecossistemas preservados se<br />
encontram em territórios de povos indígenas e comunidades locais, cujos direitos<br />
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