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C rítica à E conom ia V erde - Fundação Heinrich Böll

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oferta de biocombustíveis como o Brasil.<br />

O governo brasileiro tenta apresentar precisamente este modelo energético<br />

baseado em fontes de energ<strong>ia</strong> pobres em emissões e matér<strong>ia</strong>s-primas renováveis<br />

como sendo a sua versão de uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> v<strong>erde</strong>. Mas com isso entramos num<br />

campo minado, bem diferente do que ocorr<strong>ia</strong> em 1992. O foco da política de meio<br />

ambiente internacional sobre as emissões de CO2, no âmbito das negoc<strong>ia</strong>ções<br />

do clima, sustentou opções de desenvolvimento que geram outros conflitos<br />

socioambientais, estes obv<strong>ia</strong>mente ligados <strong>à</strong> questão do uso da terra. Assim, a<br />

crescente expansão do plantio de cana-de-açúcar (para produção de etanol) e<br />

as monoculturas de soja expulsam a pecuár<strong>ia</strong> para a Amazôn<strong>ia</strong>, gerando mais<br />

destruição de ecossistemas. Velhos fantasmas ressurgem em nova roupagem.<br />

Sempre a Amazôn<strong>ia</strong><br />

Não fosse a Amazôn<strong>ia</strong>, até que o Brasil poder<strong>ia</strong> se apresentar <strong>à</strong> opinião pública<br />

mund<strong>ia</strong>l como país-modelo de uma e<strong>conom</strong><strong>ia</strong> v<strong>erde</strong>. Em 1992, o desmatamento da<br />

maior floresta tropical úmida do mundo estava no foco do interesse internacional<br />

pelo Brasil devido aos acontecimentos dos anos anteriores. Em dezembro 1988,<br />

o mundo se chocou com o assassinato de Chico Mendes. Com suas ações contra<br />

os desmatamentos, o líder do movimento dos seringueiros tornara-se um ícone<br />

global na luta contra a destruição da floresta. Em 1989, um protesto contra uma<br />

megabarragem no Rio Xingu chamou a atenção mund<strong>ia</strong>lmente. Povos indígenas<br />

passaram a ser vistos internacionalmente enquanto atores e conseguiram<br />

muita coisa: os projetos de construção de novas barragens foram ad<strong>ia</strong>dos, o<br />

Banco Mund<strong>ia</strong>l reviu um crédito de US$500 milhões para o setor de energ<strong>ia</strong> e os<br />

ambiciosos planos do governo de construir 40 barragens na Amazôn<strong>ia</strong> até 2010<br />

também foram engavetados.<br />

A Amazôn<strong>ia</strong> se tornou símbolo de um desenvolvimento fracassado <strong>à</strong> custa<br />

do meio ambiente. Em reação a isso, o presidente Collor nomeou para o cargo<br />

de ministro do Meio Ambiente José Lutzenberger, um ambientalista de renome<br />

internacional. Em entrevista ao semanário alemão Der Spiegel, em março de<br />

1990, Lutzenberger disse que o presidente Collor quer<strong>ia</strong> “tirar o Brasil do banco<br />

dos réus, onde ele está hoje com justa razão”. E acrescentou: “O que ocorre<br />

hoje na Amazôn<strong>ia</strong> é uma guerra, um saque. Uma coalizão de latifundiários<br />

e multinacionais está saqueando os recursos do país <strong>à</strong> custa das populações<br />

locais e da natureza. Estão roubando os direitos humanos dos indígenas e<br />

seringueiros”. Uma sentença amarga na boca de um representante ofic<strong>ia</strong>l do<br />

governo. Lutzenberger não aguentou ficar no cargo nem até a Rio 92.<br />

De lá para cá, muita coisa aconteceu. A política ambiental não se limita mais a<br />

uma estratég<strong>ia</strong> de marketing, mas é parte estabelecida e profissionalizada do sistema<br />

político e jurídico do Brasil. Num primeiro momento, Lula também tentou colocar<br />

uma ativista ambiental carismática no cargo de ministra. Marina Silva, companheira<br />

de luta de Chico Mendes, foi a primeira nomeação anunc<strong>ia</strong>da pelo novo presidente<br />

depois de sua eleição, em 2002, revelando a preocupação com a imagem do Brasil no<br />

12<br />

C<strong>rítica</strong> <strong>à</strong> E<strong>conom</strong><strong>ia</strong> V<strong>erde</strong> Impulsos para um Futuro Socioambiental Justo Justo

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