abrigos em movimento: - Instituto Fazendo História
abrigos em movimento: - Instituto Fazendo História
abrigos em movimento: - Instituto Fazendo História
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A proposta de intervenção foi a de que eles pudess<strong>em</strong> reconhecer suas dores<br />
a partir da escuta clínica. Devolver e nomear a cada um quais são suas dificuldades,<br />
para que pudess<strong>em</strong> sair de uma linha de atuação para a reflexão.<br />
O primeiro passo foi a regularidade do grupo: Solange precisou reafirmar sua<br />
presença, mesmo após situações delicadas e difíceis. Em um segundo momento,<br />
por meio da escuta e da discussão com as crianças sobre os fatos e as relações que<br />
se estabeleciam no grupo, foi possível gradualmente estabelecer uma confiabilidade<br />
interna ao grupo e consequente processo de diálogo entre eles.<br />
Este processo foi construído no espaço do grupo, mas também por meio de<br />
conversas estabelecidas com os educadores a respeito dos objetivos desse trabalho<br />
com as crianças e das suas repercussões institucionais. O entendimento por parte<br />
desses facilitou a intervenção, fazendo com que as crianças estivess<strong>em</strong> presentes<br />
nos horários e com maiores disponibilidade para o vínculo.<br />
Em alguns momentos, foram necessárias intervenções e orientações individuais<br />
sobre alguma dificuldade específica de uma criança. Este tripé – atendimento<br />
<strong>em</strong> grupo, reuniões específicas com os educadores e reuniões quinzenais<br />
com a equipe técnica do abrigo – resultou <strong>em</strong> um modelo de atendimento na<br />
instituição. Apesar da difícil sustentação da escuta, foi realizado um atendimento<br />
regular ao longo de dois anos que pode trazer às crianças a experiência de pertinência<br />
a um grupo e as implicações desta posição: conhecer e reconhecer seus<br />
conflitos por meio da relação com seus pares.<br />
O modelo de atendimento psicoterapêutico <strong>em</strong> grupo dentro da instituição<br />
mostrou-se efetivo <strong>em</strong> sua possibilidade de mediar os conflitos cotidianos vivenciados<br />
pelas crianças e pelos adolescentes. No entanto, mostrou-se limitado <strong>em</strong><br />
estabelecer uma relação de confiança para maior aprofundamento da dinâmica de<br />
cada criança e da compreensão subjetiva de quais dificuldades estavam atravessando,<br />
el<strong>em</strong>entos necessários para que o atendimento clínico possa ser um espaço de<br />
reflexão e continência para cada um. Nesse sentido, a perspectiva de continuidade<br />
do trabalho clínico, decidida diante de um processo de avaliação, é a do encaminhamento<br />
a especialistas das crianças que necessitavam de atendimento individualizado,<br />
fora do abrigo.<br />
terapias familiares: um sucesso<br />
O trabalho de terapia familiar foi realizado pela assistente social e terapeuta familiar<br />
Aurimeire Castilho Moreira. 13 Seu referencial teórico, o do atendimento familiar<br />
de orientação sistêmica, contribuiu para que a profissional tivesse uma visão<br />
ampla e interligada sobre a complexidade do atendimento às famílias por parte do<br />
abrigo: a visão das crianças e dos adolescentes, a visão da equipe técnica, a visão<br />
dos educadores, dos familiares e dos técnicos do Poder Judiciário.<br />
65<br />
13 Assistente Social, especialista<br />
<strong>em</strong> terapia de casais<br />
e famílias, pós-graduada<br />
<strong>em</strong> Psicologia Social – UFES<br />
e pós-graduada <strong>em</strong> Terapia<br />
Junguiana – Santa Casa/SP,<br />
m<strong>em</strong>bro efetivo da Clínica<br />
Travessia, supervisora clínica<br />
de estudantes e profissionais<br />
da área terapeuta clínica.