abrigos em movimento: - Instituto Fazendo História

abrigos em movimento: - Instituto Fazendo História abrigos em movimento: - Instituto Fazendo História

fazendohistoria.org.br
from fazendohistoria.org.br More from this publisher
29.04.2013 Views

O objetivo do projeto – favorecer a reintegração familiar – pôde ser atingido. Com a mudança, Sr. Jurandir retomou a possibilidade de sonhar, fazer novos planos. Depois do desabrigamento, a Casa Raio de Sol recebia telefonemas dos adolescentes, especialmente do mais novo, informando que estavam estudando e contribuindo com o trabalho, tanto na roça quanto na cidade. Quem nos vê – laços e nós na rede de parcerias A equipe da Casa Raio de Sol também investiu e investe com muita energia e criatividade na comunicação entre parceiros. A abertura para ouvir críticas e, ao mesmo tempo, tecê-las, alia-se à capacidade de reconstruir e mudar a metodologia prevista, caso seja necessário. Judiciário de portas abertas A construção da parceria com a Vara da Infância e Juventude do Fórum de Santo Amaro é hoje vista pela Casa Raio de Sol como uma de suas grandes conquistas. A Casa Raio de Sol não olha para os problemas que surgem nas relações interinstitucionais como obstáculos, e sim como possibilidades para transformá-los em caminhos que os favoreçam a alcançar o seu objetivo. “A Promotoria conhece a gente, o nosso trabalho. Eles ficam sabendo das nossas parcerias. Tem toda essa questão da comunicação, inclusive em relação ao relatório individual da criança. Ouvimos muito falar que “o Fórum avalia”, “o juiz avalia”, mas nós trabalhamos juntos.” Flávio, assistente de coordenação da Casa Raio de Sol “Atendendo uma determinada família, surgem dúvidas e aí entra o abrigo: ‘Olha, doutora, vimos a mãe, ela parece interessada, mas não tem condições. Mas ela recorreu à madrinha da criança, que é fulana de tal’. Então vem e relata, porque tudo tem que estar nos autos. Para essa criança, só vai existir o que está na pasta dela e lá tem de estar todas as visitas realizadas pelos genitores.” Dra. Maria Cristina D. B. L. G. Prats Dias – promotora da Vara da Infância e Juventude de Santo Amaro “Nós acompanhamos 900 crianças abrigadas. Se a gente não contar com um abrigo que olhe para estas crianças, essas histórias, que os gestores estejam envolvidos, os assistentes sociais, os psicólogos, que trabalham no setor técnico do abrigo, se não contar com eles, nós vamos deixar a criança lá. Aqui, até o processo rodar de novo e voltar na nossa mão, já se passaram seis meses; seis meses na vida de uma criança é muito tempo dentro de um abrigo, dentro de 29

uma instituição, afastada da família.” Célia Regina Cardoso, psicóloga da Vara da Infância e Juventude de Santo Amaro “Quando a Vara se fecha, o abrigo fica sozinho. Então, tem que haver essa intercomunicação, porque eles têm a criança e nós temos o processo. Eles não decidem nada sem o nosso aval. A porta é aberta para todas as entidades, porque eu sei as dificuldades que os abrigos vivenciam para fazer o trabalho. É sempre um trabalho de muita discussão entre nós e nunca foi uma coisa unilateral: ou eles ou só nós, é sempre em conjunto.” Solange Rolo Silveira, assistente social da Vara da Infância e Juventude de Santo Amaro Os profissionais da Casa Raio de Sol reconhecem que esta conquista foi fruto de um constante investimento e de um esforço de ambas as partes. A história desta parceria começou em 2003, quando a Casa Raio de Sol não tinha ainda nem um ano de funcionamento. AlExAnDRE E A CAMA DEsARRUMADA Era um dia atípico na Casa Raio de Sol. Uma criança havia se machucado e um educador acompanhara-a ao hospital. Quando as técnicas da Vara da Infância chegaram ao abrigo, depararam-se com as frutas e as verduras da feira na cozinha, a auxiliar lavando roupa, poucos educadores em função da emergência e uma cama e armários desarrumados. A cama era de Alexandre. Alexandre, 11 anos, chegou à Casa Raio de Sol com a roupa marrom da Febem. Tudo era maior do que ele, a não ser um tênis branco que calçava. Carregava seus poucos pertences num enorme saco preto. Estava lá há pouco tempo. Menino de rua, Alexandre convivia com a desorganização – nunca tivera um guarda-roupa, uma cama para dormir. Assumir a responsabilidade por organizar, arrumar seus pertences, parecia-lhe impossível: “Não vou arrumar, não sou obrigado, tem ajudante de serviços, tem faxineira para isso”. Os educadores tinham consciência de que a educação implicava fazer com que Alexandre pudesse assumir responsabilidade por suas ações, e não fazer por ele. Para quem não conhecia a história, entretanto, os armários e a cama desarrumados apareciam sob outra perspectiva. Após a visita das técnicas ao abrigo, um ofício foi encaminhado pela Vara da Infância solicitando esclarecimentos em relação ao observado. O que poderia ser um transtorno para a Casa Raio de Sol, tornou-se uma possibilidade de pensar numa comunicação mais efetiva: “Nós temos apenas seis meses. Que tal vocês que conhecem, que têm experiência com outros abrigos, nos dizerem o que temos de fazer?”. A resposta das técnicas indicou o caminho: “A Promotoria e a Vara da Infância conhecem o abrigo 30

uma instituição, afastada da família.” Célia Regina Cardoso, psicóloga da Vara<br />

da Infância e Juventude de Santo Amaro<br />

“Quando a Vara se fecha, o abrigo fica sozinho. Então, t<strong>em</strong> que haver essa intercomunicação,<br />

porque eles têm a criança e nós t<strong>em</strong>os o processo. Eles não decid<strong>em</strong><br />

nada s<strong>em</strong> o nosso aval. A porta é aberta para todas as entidades, porque<br />

eu sei as dificuldades que os <strong>abrigos</strong> vivenciam para fazer o trabalho. É s<strong>em</strong>pre<br />

um trabalho de muita discussão entre nós e nunca foi uma coisa unilateral: ou<br />

eles ou só nós, é s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> conjunto.” Solange Rolo Silveira, assistente social da<br />

Vara da Infância e Juventude de Santo Amaro<br />

Os profissionais da Casa Raio de Sol reconhec<strong>em</strong> que esta conquista foi fruto de<br />

um constante investimento e de um esforço de ambas as partes. A história desta<br />

parceria começou <strong>em</strong> 2003, quando a Casa Raio de Sol não tinha ainda n<strong>em</strong> um<br />

ano de funcionamento.<br />

AlExAnDRE E A CAMA DEsARRUMADA<br />

Era um dia atípico na Casa Raio de Sol. Uma criança havia se machucado e um educador<br />

acompanhara-a ao hospital. Quando as técnicas da Vara da Infância chegaram<br />

ao abrigo, depararam-se com as frutas e as verduras da feira na cozinha, a auxiliar<br />

lavando roupa, poucos educadores <strong>em</strong> função da <strong>em</strong>ergência e uma cama e armários<br />

desarrumados. A cama era de Alexandre.<br />

Alexandre, 11 anos, chegou à Casa Raio de Sol com a roupa marrom da Feb<strong>em</strong>.<br />

Tudo era maior do que ele, a não ser um tênis branco que calçava. Carregava seus<br />

poucos pertences num enorme saco preto. Estava lá há pouco t<strong>em</strong>po.<br />

Menino de rua, Alexandre convivia com a desorganização – nunca tivera um<br />

guarda-roupa, uma cama para dormir. Assumir a responsabilidade por organizar,<br />

arrumar seus pertences, parecia-lhe impossível: “Não vou arrumar, não sou obrigado,<br />

t<strong>em</strong> ajudante de serviços, t<strong>em</strong> faxineira para isso”. Os educadores tinham consciência<br />

de que a educação implicava fazer com que Alexandre pudesse assumir responsabilidade<br />

por suas ações, e não fazer por ele. Para qu<strong>em</strong> não conhecia a história, entretanto,<br />

os armários e a cama desarrumados apareciam sob outra perspectiva.<br />

Após a visita das técnicas ao abrigo, um ofício foi encaminhado pela Vara da<br />

Infância solicitando esclarecimentos <strong>em</strong> relação ao observado. O que poderia ser um<br />

transtorno para a Casa Raio de Sol, tornou-se uma possibilidade de pensar numa comunicação<br />

mais efetiva: “Nós t<strong>em</strong>os apenas seis meses. Que tal vocês que conhec<strong>em</strong>,<br />

que têm experiência com outros <strong>abrigos</strong>, nos dizer<strong>em</strong> o que t<strong>em</strong>os de fazer?”. A resposta<br />

das técnicas indicou o caminho: “A Promotoria e a Vara da Infância conhec<strong>em</strong> o abrigo<br />

30

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!