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ECO, Umberto. Como se faz uma tese (livro - Sociologia e Política

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ciso, tiver pouca literatura crítica a examinar e necessitar apenas da<br />

recolha de um abundante material narrativo a citar. <strong>Como</strong> <strong>se</strong> vê, o<br />

número e a natureza dos ficheiros são sugeridos pela natureza da<br />

te<strong>se</strong>.<br />

A única coisa que posso sugerir é que um dado ficheiro <strong>se</strong>ja completo<br />

e unificado. Por exemplo, suponhamos que sobre o vosso assunto<br />

tendes em casa os <strong>livro</strong>s de Smith, de Rossi. de Braun c de Dc<br />

Gomera, e que, na biblioteca, haveis lido os <strong>livro</strong>s de Dupont. Lupescu<br />

e Nagasaki. Se elaborardes apenas fichas dos últimos três e no que<br />

respeita aos outros quatro coníiardes na memória (bem como na <strong>se</strong>gurança<br />

que vos dá tê-los à mão), como fareis no momento da redacção?<br />

Trabalhareis em parte com <strong>livro</strong>s e em parte com fichas? B <strong>se</strong><br />

tivés<strong>se</strong>is de reestruturar o plano de trabalho, que material teríeis à<br />

disposição? Livros, fichas, cadernos, folhetos? Será mais útil <strong>faz</strong>er<br />

fichas de<strong>se</strong>nvolvidas e com abundantes citações de Dupont, Lupe<strong>se</strong>u<br />

e Nagasaky, mas <strong>faz</strong>er também fichas mais sucintas para Smith. Rossi.<br />

Braun e De Gomera, talvez <strong>se</strong>m copiar as citações importantes, mas<br />

limitando-vos a assinalar as páginas em que estas <strong>se</strong> podem encontrar.<br />

Pelo menos assim trabalhareis com material homogêneo, facilmente<br />

transportável e manu<strong>se</strong>ável. K bastará <strong>uma</strong> simples vista de<br />

olhos para <strong>se</strong> saber o que <strong>se</strong> leu e o que resta consultar.<br />

Há casos em que é cômodo e útil pôr tudo em fichas. Pen<strong>se</strong>-<strong>se</strong> n<strong>uma</strong><br />

te<strong>se</strong> literária em que <strong>se</strong> terá de encontrar e comentar muitas citações<br />

significativas dc autores diversos sobre um mesmo tema. Suponhamos<br />

que <strong>se</strong> tem de <strong>faz</strong>er <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> sobre O conceito de vida como arte entre<br />

o romantismo e o decadentismo. Eis no Quadro 5 um exemplo de quatro<br />

fichas que reúnem citações a utilizar.<br />

<strong>Como</strong> <strong>se</strong> vê, a ficha tem ao alto a sigla err (para a distinguir de<br />

outros eventuais tipos de ficha) e. em <strong>se</strong>guida, o tema «Vida como<br />

arte». Por que motivo especifico aqui o tema. <strong>uma</strong> vez que já o<br />

conheço? Porque a te<strong>se</strong> poderia de<strong>se</strong>nvolver-<strong>se</strong> de tal modo que<br />

«Vida como arte» vies<strong>se</strong> a tornar-<strong>se</strong> apenas <strong>uma</strong> parte do trabalho;<br />

porque este ficheiro poderá ainda <strong>se</strong>r-me útil depois da te<strong>se</strong> e integrar-<strong>se</strong><br />

num ficheiro de citações sobre outros temas; e porque poderei<br />

encontrar estas fichas vinte anos mais tarde e ficar <strong>se</strong>m saber a<br />

que diabo <strong>se</strong> referiam. Em terceiro lugar, anotei o autor da citação.<br />

Basta o apelido, <strong>uma</strong> vez que <strong>se</strong> supõe que <strong>se</strong> têm já sobre este^<br />

autores fichas biográficas, ou que a le<strong>se</strong> já <strong>se</strong> tinha Tcferiilo a eles<br />

no início. O corpo da ficha integra depois a citação, quer ela <strong>se</strong>ja<br />

breve ou longa (pode ir de <strong>uma</strong> a trinta linhas).<br />

136<br />

Vejamos a licha sobre Whistler: há urna citação em português<br />

<strong>se</strong>guida de um ponto de interrogação. Isto significa que encontrei<br />

pela primeira vez, a fra<strong>se</strong> noutro <strong>livro</strong>, mas não <strong>se</strong>i donde ela provém,<br />

<strong>se</strong> está correcta nem como é em inglês. Mais tarde, aconteceu-me<br />

encontrar o texto original e anotei-o com as referências<br />

necessárias. Agora posso utilizar a ficha para <strong>uma</strong> citação correcta.<br />

Examinemos a ficha sobre Villiers de Tlsle Adam. Tenho a citação<br />

em português, <strong>se</strong>i de que obra provém, mas os dados estão incompletos.<br />

Trata-<strong>se</strong>. pois. de <strong>uma</strong> ficha a completar. A ficha de Gauthier<br />

está igualmente incompleta. A de Wüde é satisfatória, <strong>se</strong> o tipo de<br />

te<strong>se</strong> me permitir citações em português. Se a te<strong>se</strong> fos<strong>se</strong> de estética,<br />

ela <strong>se</strong>r-me-ia suficiente. Se fos<strong>se</strong> de literatura inglesa ou de literatura<br />

comparada, teria de a completar com a citação original.<br />

Ora. poderia ter encontrado a citação de Wilde n<strong>uma</strong> cópia que<br />

lenho em casa. mas. <strong>se</strong> não tives<strong>se</strong> feito a ficha, no fim do trabalho<br />

já nem me lembraria dela. Seria também incorrecto <strong>se</strong> me tives<strong>se</strong><br />

limitado a escrever na ficha «v. pág. 16» <strong>se</strong>m transcrever a fra<strong>se</strong>,<br />

dado que no momento da redacção a colagem de citações <strong>se</strong> <strong>faz</strong> com<br />

todos os textos à vista. Assim, apesar de <strong>se</strong> perder tempo a <strong>faz</strong>er a<br />

ficha, acaba-<strong>se</strong> por <strong>se</strong> ganhar muitíssimo no fim.<br />

Um outro tipo de fichas são as de trabalho. No Quadro 6 temos um<br />

exemplo de ficha de ligação para a le<strong>se</strong> de que falámos cm IIT.2.4.,<br />

sobre a metáfora nos tratadistas do século XVII. Anotei aqui UG e assinalei<br />

um tema a aprofundar. Passagem do táctil ao visual. Ainda não<br />

<strong>se</strong>i <strong>se</strong> isto virá a <strong>se</strong>r um capítulo, um pequeno parágrafo, <strong>uma</strong> simples<br />

nota de rodapé ou (porque não?) o tema central da te<strong>se</strong>. Anotei idéias que<br />

recolhi da leitura de um autor, indicando <strong>livro</strong>s a consultar e idéias<br />

a de<strong>se</strong>nvolver. Uma vez o trabalho ultimado, folheando o ficheiro de<br />

trabalho poderei verificar ter omitido <strong>uma</strong> ideia que. todavia, era importante,<br />

e tomar alg<strong>uma</strong>s decisões: reorganizar a te<strong>se</strong> de modo a in<strong>se</strong>rir<br />

essa ideia ou decidir que não vale a pena referi-la: introduzir <strong>uma</strong> nota<br />

para mostrar que tive esta ideia pre<strong>se</strong>nte, mas que não considerei oportuno<br />

de<strong>se</strong>nvolvê-la nes<strong>se</strong> contexto. Tal como poderei decidir, <strong>uma</strong> vez<br />

a te<strong>se</strong> concluída e entregue, dedicar àquele tema os meus trabalhos posteriores.<br />

Um ficheiro, recordemo-lo. é um investimento que <strong>se</strong> <strong>faz</strong> na<br />

ocasião da te<strong>se</strong>, mas que. <strong>se</strong> pensamos continuai' a estudar, nos <strong>se</strong>rvirá<br />

para os anos <strong>se</strong>guintes, por vezes à distância de décadas.<br />

Não podemos, porém, alargar-nos demasiado sobre os vários tipos<br />

de ficha. Limitamo-nos. pois. a falar da lichagem das fontes primárias<br />

e das fichas de leitura das fontes <strong>se</strong>cundárias.<br />

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