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ECO, Umberto. Como se faz uma tese (livro - Sociologia e Política

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Neste caso. porém, a única coisa que nào posso pennitir-me é ignorar<br />

os autores originais sobre os quais vou <strong>faz</strong>er a te<strong>se</strong>. Terei agora<br />

de ir procurar os autores barrocos, pois, como dis<strong>se</strong>mos em Ui.2.2..<br />

<strong>uma</strong> te<strong>se</strong> também deve ter material dc primeira mão. Não posso falar<br />

dos tratadistas <strong>se</strong> não os ler. Posso não ler os teóricos maneiristas das<br />

artes figurativas c ba<strong>se</strong>ar-me cm estudos críticos, <strong>uma</strong> vez que não<br />

conslitucm o cerne da minha pesquisa mas não posso ignorar Tesauro.<br />

Nesta medida, como <strong>se</strong>i que, dc qualquer modo, terei de ler a<br />

Retórica c a Poética dc Aristóteles, dou <strong>uma</strong> vista dc olhos a este<br />

artigo. E tenho a surpresa de encontrar <strong>uma</strong>s 15 edições antigas da<br />

Retórica, entre 1515 e 1837. com comentários dc Rrmolao Bárbaro,<br />

a tradução de Bernardo Segni, com a paráfra<strong>se</strong> dc Avcrróis e de<br />

Piccolomini; além da edição inglesa Loeb que inclui o texto grego.<br />

Falta a edição italiana da Laterza. Quanto à Poética, há também<br />

aqui várias edições, com comentários dc Castclvctro c Roboriell. a<br />

edição Loeb com o texto grego e as duas traduções modernas italianas<br />

de Rostagni e Valgimigli. Chega e sobra, dc tal modo que me<br />

dá vontade de <strong>faz</strong>er <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> sobre um comentário renascentista à<br />

Poética. Mas não divaguemos.<br />

Em várias referências dos textos consultados verifiquei que também<br />

<strong>se</strong>riam úteis para o meu estudo alg<strong>uma</strong>s ob<strong>se</strong>rvações dc Mi li/ia.<br />

de Muratori e de Fracastoro, e vejo que em Alexandria há igualmente<br />

edições antigas destes autores.<br />

Mas pas<strong>se</strong>mos aos tratadistas barrocos. Antes de mais, temos a<br />

antologia da Rjcciardi. Trattatisti e narratori dei 600 de Ezio Raimondi.<br />

com cem páginas do Cannoechiale aristotelico, <strong>se</strong>s<strong>se</strong>nta páginas de<br />

Peregrini c <strong>se</strong>s<strong>se</strong>nta de Sforza Pallavicino. Se não tives<strong>se</strong> dc <strong>faz</strong>er<br />

<strong>uma</strong> te<strong>se</strong>, mas um ensaio de <strong>uma</strong>s trinta páginas para um exame,<br />

<strong>se</strong>ria mais do que suficiente.<br />

Porém, interessam-me também os textos inteiros e. entre estes,<br />

pelo menos: Emanuelc Tesauro. // Cannoechiale aristotelico. Nicola<br />

Peregrini. Delle Ácutezze e Ifimti delfingegno ridotti a arte: Cardinal<br />

Sforza Pallavicino. Del ttene c Trattato dello stile e dei dialogo.<br />

Vou ver o catálogo por autores, <strong>se</strong>cção antiga, e encontro duas edições<br />

do Cannoechiale: <strong>uma</strong> dc 1670 c outra de 1685. É pena que não<br />

haja a primeira edição de 1654, tanto mais que entretanto li em qualquer<br />

lado que houve aditamentos dc <strong>uma</strong> edição para outra. Encontro<br />

duas edições oitocentistas de todas as obras de Sforza Pallavicino.<br />

Não encontro Peregrini íé <strong>uma</strong> maçada, mas consola-me o facto de<br />

ter <strong>uma</strong> antologia de oitenta páginas deste autor no Raimondi).<br />

118<br />

Diga-<strong>se</strong> de passagem que encontrei aqui e ali. nos textos críticos,<br />

vestígios dc Agostino Mascardi e do <strong>se</strong>u De 1'arte istorica. de<br />

1636. <strong>uma</strong> obra com muitas ob<strong>se</strong>rvações sobre as artes que, todavia,<br />

não é considerada entre os itens da tratadística barroca: aqui em<br />

Alexandria há cinco edições, três do século xvu e duas do século<br />

xtx. Convir-me-á <strong>faz</strong>er <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> sobre Mascardi? Em boa verdade,<br />

não c <strong>uma</strong> pergunta peregrina. Se <strong>uma</strong> pessoa não pode deslocar-<br />

-sc, deve trabalhar apenas com o material que há in loco.<br />

Uma vez, um professor de filosofia dis<strong>se</strong>-me que tinha escrito<br />

um <strong>livro</strong> sobre certo filósofo alemão só porque o <strong>se</strong>u instituto adquirira<br />

a nova edição das suas obras completas. Se não, teria estudado<br />

outro autor. Não é um bom exemplo de ardente vocação científica,<br />

mas sucede.<br />

Procuremos agora <strong>faz</strong>er o ponto da situação, ü que é que fiz em<br />

Alexandria? Reuni <strong>uma</strong> bibliografia que, <strong>se</strong>m exagerar, compreende<br />

pelo menos trezentos títulos, registando todas as indicações que encontrei.<br />

Destes trezentos títulos encontrei aqui bem uns trinta, além dos<br />

textos originais de pelo menos dois dos autores que poderei estudar,<br />

Tesauro c Sforza Pallavicino. Não é mau para <strong>uma</strong> pequena capital<br />

dc província. Mas <strong>se</strong>rá o suficiente para a minha te<strong>se</strong>?<br />

Falemos claro. Se qui<strong>se</strong>s<strong>se</strong> <strong>faz</strong>er <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> de três me<strong>se</strong>s, toda de<br />

<strong>se</strong>gunda mão, bastaria. Os <strong>livro</strong>s que não encontrei vêm citados nos<br />

que encontrei e, <strong>se</strong> elaborar bem a minha re<strong>se</strong>nha, poderei daí extrair<br />

um discurso aceitável. Talvez não muito original, mas correcto.<br />

O problema <strong>se</strong>ria, contudo, a bibliografia- Com efeito, <strong>se</strong> ponho apenas<br />

aquilo que realmente vi, o orientador poderia atacar com ba<strong>se</strong><br />

num texto fundamental que descurei. E <strong>se</strong> faço balota. vimos já<br />

como este procedimento é ao mesmo tempo incorrecto e imprudente.<br />

Porém, <strong>uma</strong> coisa é certa: nos primeiros Ires me<strong>se</strong>s posso trabalhar<br />

tranqüilamente <strong>se</strong>m me deslocar dos arredores, entre <strong>se</strong>ssões na<br />

biblioteca e empréstimos. Devo ter pre<strong>se</strong>nte que as obras dc referência<br />

e os <strong>livro</strong>s antigos não podem <strong>se</strong>r emprestados, bem como<br />

os anais de revistas (mas para os artigos posso trabalhar com fotocópias).<br />

Mas outros <strong>livro</strong>s podem. Se con<strong>se</strong>guir planificar <strong>uma</strong> <strong>se</strong>ssão<br />

intensiva no centro universitário para os me<strong>se</strong>s <strong>se</strong>guintes, dc Setembro<br />

a Dezembro poderei trabalhar tranqüilamente no Picmonte examinando<br />

<strong>uma</strong> série de coisas. Além disso, poderei ler toda a obra de<br />

Tesauro e de Sforza. Ou melhor, pergunto a mim mesmo <strong>se</strong> não <strong>se</strong>ria<br />

conveniente orientar tudo para um só destes autores, trabalhando<br />

directamente sobre o texto original e utilizando o material biblio-<br />

119

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