ECO, Umberto. Como se faz uma tese (livro - Sociologia e Política
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(ou lem bloqueios psicológicos: há pessoas que aprendem o sueco<br />
n<strong>uma</strong> <strong>se</strong>mana e outras que em dc/ anos nào con<strong>se</strong>guem falar razoavelmente<br />
o francês). Além disso, lem de apre<strong>se</strong>ntar, por motivos<br />
econômicos, <strong>uma</strong> le<strong>se</strong> em <strong>se</strong>is me<strong>se</strong>s. Todavia, está sinceramenie<br />
interessado no <strong>se</strong>u lema. quer terminar a universidade para trabalhar,<br />
mas depois tenciona retomar o tema escolhido e aprofundá-lo<br />
com mais calma. Temos lambem de pensar nele.<br />
Bom. este estudante pode encarar um tema do lipo Os problemas<br />
da percepção visual nas suas relações com as artes figurativas cm<br />
alguns autores contemporâneos. Será oportuno traçar, antes de mais,<br />
um quadro da problemática psicológica no tema, e sobre isto existe<br />
<strong>uma</strong> série de obras traduzidas em italiano, desde o Occhio e cervello<br />
de Gregory até aos textos maiores da psicologia da forma e da psicologia<br />
transaccional. Em <strong>se</strong>guida, pode focar-<strong>se</strong> a temática de três<br />
autores, digamos Arnheim, para a abordagem gesialtista. Gombrich<br />
para a <strong>se</strong>miológico-informacional e Panofsky para os ensaios sobre<br />
a perspectiva do ponto de vista iconológico. Nestes três autores discute-<strong>se</strong>,<br />
corn ba<strong>se</strong> em três pontos de vista diferentes, a relação entre<br />
naturalidade e «culturalidade» da percepção das imagens. Para situar<br />
estes três autores num panorama de fundo, há alg<strong>uma</strong>s obras de conjunto,<br />
por exemplo, os <strong>livro</strong>s de Gillo Dorfles. Uma vez traçadas<br />
csias três perspectivas, o estudante poderá ainda tentar reler os dados<br />
problemáticos obtidos ã luz de <strong>uma</strong> obra de arte particular, reformulando<br />
eventualmente <strong>uma</strong> interpretação clássica (por exemplo, o<br />
modo como Longhi analisa Piero delia Francescaí e completando-a<br />
com os dados mais «contemporâneos» que Tecolheu. O produto final<br />
não terá nada de original, ficará a meio caminho entre a te<strong>se</strong> panorâmica<br />
c a te<strong>se</strong> monográfica. mas terá sido possível elaborá-lo com<br />
ba<strong>se</strong> em traduções italianas. O estudante não <strong>se</strong>rá censurado por nào<br />
ter lido todo o Panofsky. mesmo o que existe apenas em alemão ou<br />
inglês, porque não <strong>se</strong> tratará de <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> sobre Panofsky, mas diurna<br />
te<strong>se</strong> sobre um problema, ern que só <strong>se</strong> recorre a Panofsky para<br />
um determinado aspecto, como referência a alg<strong>uma</strong>s questões.<br />
<strong>Como</strong> já <strong>se</strong> dis<strong>se</strong> no parágrafo II.1, este tipo de le<strong>se</strong> não é o mais<br />
acon<strong>se</strong>lhável, dado que <strong>se</strong> corre o risco de <strong>se</strong>r incompleto e genérico:<br />
fique claro que <strong>se</strong> trata de um exemplo de te<strong>se</strong> de <strong>se</strong>is me<strong>se</strong>s<br />
para estudantes urgentemente interessados em acumular dados preliminares<br />
sobre um problema pelo qual sintam <strong>uma</strong> atracçào especial.<br />
Trata-<strong>se</strong> de um expediente, mas pode <strong>se</strong>r resolvido pelo menos<br />
de <strong>uma</strong> maneira digna.<br />
50<br />
De qualquer modo. <strong>se</strong> não <strong>se</strong> sabe línguas estrangeiras c <strong>se</strong> não<br />
<strong>se</strong> pode aproveitar a preciosa ocasião da te<strong>se</strong> para começar a apreudê-<br />
-las, a solução mais razoável é a le<strong>se</strong> sobre um lema especificamente<br />
italiano em que as referências à literatura estrangeira possam <strong>se</strong>r eliminadas<br />
ou resolvidas recorrendo a alguns textos já traduzidos.<br />
Assim, quem qui<strong>se</strong>s<strong>se</strong> <strong>faz</strong>er <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> sobre Modelos do romance<br />
histórico nas obras narrativas de Garibaldi. deveria ter alg<strong>uma</strong>s<br />
noções básicas sobre as origens do romance histórico e sobre Walter<br />
Scott (além da polêmica oilocentisia italiana sobre o mesmo assunto,<br />
evidentemente), mas poderia encontrar alg<strong>uma</strong>s obras de consulta<br />
na nossa língua e teria a possibilidade de ler em italiano pelo menos<br />
as obras mais importantes dc Walter Scott. sobretudo procurando na<br />
biblioteca as traduções oitocentistas. E ainda menos problemas poria<br />
um tema como A influência de Guerrazzi na cultura do ressurgimento<br />
italiano. Isto. evideniemente, <strong>se</strong>m nunca partir de um opíimismo<br />
preconcebido: e valerá a pena consultai 1 bem as bibliografias,<br />
para ver <strong>se</strong> houve aulores estrangeiros, e quais, que tenham abordado<br />
este assunto.<br />
11.6. Te<strong>se</strong> «científica» ou te<strong>se</strong> política?<br />
Após a coniesiação estudantil de 1968. manifestou-<strong>se</strong> a opinião<br />
de que não <strong>se</strong> deveriam <strong>faz</strong>er te<strong>se</strong>s de temas «culturais» ou livre<strong>se</strong>os.<br />
mas sim ligadas a determinados interes<strong>se</strong>s políticos e sociais.<br />
Se é esla a questão, então o título do pre<strong>se</strong>nte capítulo é provocatório<br />
e enganador, porque <strong>faz</strong> pensar que <strong>uma</strong> le<strong>se</strong> «política» não é<br />
«científica». Ora, na universidade fala-<strong>se</strong> freqüentemente da ciência,<br />
de cientificidade. de investigação científica, do valor científico<br />
de um trabalho, e este termo pode dar lugar quer a equívocos involuntários,<br />
quer a mistificações ou a suspeitas ilícitas de embalsamamemo<br />
da cultura.<br />
IT.6.1. Que é a cientificidade?<br />
Para alguns, a ciência identifica-<strong>se</strong> com as ciências naturais ou<br />
com a investigação em ba<strong>se</strong>s quantitativas: <strong>uma</strong> investigação não é<br />
científica <strong>se</strong> não procede através de fórmulas e diagramas. Nesta<br />
acepção, portanto, não <strong>se</strong>ria científico ura estudo sobre a moral em<br />
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