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ECO, Umberto. Como se faz uma tese (livro - Sociologia e Política

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3) os documentos dc iodos os tipos devem encontrar-<strong>se</strong> disponíveis<br />

n<strong>uma</strong> área restrita e poderem <strong>se</strong>r facilmente consultados.<br />

Vamos dar alguns exemplos. Se escolher como tema A igreja de<br />

Santa Maria do Castelo de Alexandria, posso esperar encontrar tudo<br />

o que me sirva para reconstituir a sua história e as vicissitudes dos <strong>se</strong>us<br />

restauros na biblioteca municipal de Alexandria e nos arquivos da<br />

cidade. Digo «posso esperar» porque estou a formular <strong>uma</strong> hipóte<strong>se</strong> e<br />

me coloco nas condições de um estudante que procura <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> dc <strong>se</strong>is<br />

me<strong>se</strong>s. Mas terei de informar-me sobre isso antes de arrancar com o<br />

projecto, para verificar <strong>se</strong> a minha hipóte<strong>se</strong> é válida. Além disso, terei<br />

de <strong>se</strong>r um estudante que reside na província de Alexandria; <strong>se</strong> resido<br />

cm Caltanis<strong>se</strong>tta. tive <strong>uma</strong> péssima idéia. Além disso, existe um «mas».<br />

Se alguns documentos fos<strong>se</strong>m acessíveis, mas <strong>se</strong> <strong>se</strong> tratas<strong>se</strong>m de manuscritos<br />

medievais jamais publicados, teria de saber alg<strong>uma</strong> coisa de paleografia,<br />

ou <strong>se</strong>ja, de dominar <strong>uma</strong> técnica de leitura e decifração de manuscritos.<br />

E eis que este terna, que parecia tão fácil, <strong>se</strong> torna difícil.<br />

Se, pelo contrário, verifico que eslã tudo publicado, pelo menos desde<br />

o século XTX para cá, movimento-mc em terreno <strong>se</strong>guro.<br />

Outro exemplo. Raffaele La Capria c um escritor contemporâneo<br />

que só escreveu três romances c um <strong>livro</strong> de ensaios, Foram todos<br />

publicados pelo mesmo editor, Bompiani. Imaginemos <strong>uma</strong> te<strong>se</strong><br />

com o título A sorte de Raffaelle lui (.'apria na crítica italiana contemporânea,<br />

<strong>Como</strong> de <strong>uma</strong> maneira geral os editores lêm nos <strong>se</strong>us<br />

arquivos os recortes de imprensa de todos os ensaios crílicos e artigos<br />

publicados sobre os <strong>se</strong>us autores, com <strong>uma</strong> <strong>se</strong>rie de visitas à<br />

<strong>se</strong>de da editora em Milão posso esperar pôr em fichas a qua<strong>se</strong> totalidade<br />

dos textos que me interessam. Além disso, ò autor está vivo<br />

e posso escrever-lhe ou ir entrevistá-lo, colhendo outras indicações<br />

bibliográficas c. qua<strong>se</strong> de certeza, fotocópias de textos que me interessam.<br />

Naturalmente, um dado ensaio crítico remeter-mc-á para<br />

outros autores a que La Capria é comparado ou contraposto. O campo<br />

alarga-<strong>se</strong> um pouco, mas dc um modo razoável. E. depois, sc escolhi<br />

La Capria é porque já lenho algum interes<strong>se</strong> pela literatura italiana<br />

contemporânea, de outro modo a decisão teria sido tomada<br />

cinicamente, a frio. c ao mesmo tempo imprudentemente.<br />

Outra te<strong>se</strong> de <strong>se</strong>is me<strong>se</strong>s: A interpretação da Segunda Guerra<br />

Mundial nos manuais de História para as escolas <strong>se</strong>cundárias do<br />

último qüinqüênio. E talvez um pouco complicado detectar todos<br />

os manuais dc História cm circulação, mas as editoras escolares não<br />

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são tantas como isso. Uma vez na pos<strong>se</strong> dos textos ou das suas fotocópias,<br />

vê-<strong>se</strong> que estes assuntos ocupam poucas páginas c o trabalho<br />

de comparação pode <strong>se</strong>r feito, e bem. em pouco tempo. Evidentemente,<br />

não sc pode avaliar a forma como um manual fala da Segunda Guerra<br />

Mundial sc não compararmos esle tratamento específico com o quadro<br />

histórico geral que es<strong>se</strong> manual oferece; e. portanto, tem de trabalhar-<br />

-<strong>se</strong> um pouco em profundidade. Também não <strong>se</strong> pode começar <strong>se</strong>m<br />

ler admitido como parâmetro <strong>uma</strong> meia dúzia de histórias acreditadas<br />

da Segunda Guerra Mundial. É claro que <strong>se</strong> eliminás<strong>se</strong>mos todas<br />

estas formas de controlo critico, a te<strong>se</strong> poderia <strong>faz</strong>er-<strong>se</strong> não em <strong>se</strong>is<br />

me<strong>se</strong>s mas n<strong>uma</strong> <strong>se</strong>mana, e então não <strong>se</strong>ria <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> de licenciatura,<br />

mas um artigo de jornal, talvez, arguto e brilhante, mas incapaz de<br />

documentar a capacidade de investigação do candidato.<br />

Se <strong>se</strong> qui<strong>se</strong>r <strong>faz</strong>er a le<strong>se</strong> de <strong>se</strong>is me<strong>se</strong>s, mas trabalhando nela<br />

ama hora por dia. então 6 inútil continuar a falar. Voltemos aos con<strong>se</strong>lhos<br />

dados no parágrafo 1.2: copiem <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> qualquer e pronto.<br />

11.5. E necessário saber línguas estrangeiras?<br />

Este parágrafo não <strong>se</strong> dirige àqueles que preparam <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> n<strong>uma</strong><br />

língua ou literatura estrangeira. E, de facto. de<strong>se</strong>jável que estes<br />

conheçam a língua sobre a qual vão apre<strong>se</strong>ntar a te<strong>se</strong>. Ou melhor,<br />

<strong>se</strong>ria de<strong>se</strong>jável que. <strong>se</strong> <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntas<strong>se</strong> <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> sobre um autor francês,<br />

esta fos<strong>se</strong> escrita em francês. E o que <strong>se</strong> <strong>faz</strong> em muilas universidades<br />

estrangeiras, e é justo.<br />

Mas ponhamos o problema daqueles que <strong>faz</strong>em <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> cm filosofia,<br />

em sociologia, em jurisprudência, em ciências políticas, em<br />

história ou era ciências naturais. Surge <strong>se</strong>mpre a necessidade de ler<br />

um <strong>livro</strong> escrito n<strong>uma</strong> língua estrangeira mesmo <strong>se</strong> a te<strong>se</strong> for sobre<br />

história italiana, <strong>se</strong>ja ela sobre Dante ou sobre o Renascimento, dado<br />

que ilustres especialistas de Dante e do Renascimento escreveram<br />

em inglês ou alemão.<br />

Habitualmcnle, nestes casos aproveita-<strong>se</strong> a oportunidade da te<strong>se</strong> para<br />

começar a ler n<strong>uma</strong> língua que não <strong>se</strong> conhece. Motivados pelo tema<br />

e com um pequeno esforço, começa-<strong>se</strong> a compreender qualquer coisa.<br />

Muitas vezes urna língua aprende-<strong>se</strong> assim. Geralmente depois não <strong>se</strong><br />

con<strong>se</strong>gue falá-la mas pode-<strong>se</strong> lê-la. E melhor que nada.<br />

Se sobre um dado tema existe só um <strong>livro</strong> em alemão e não <strong>se</strong> sabe<br />

esta língua, pode resolver-<strong>se</strong> o problema pedindo a alguém para ler os<br />

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