ECO, Umberto. Como se faz uma tese (livro - Sociologia e Política
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casos de le<strong>se</strong>s drama li ca m cri le falhadas justamente porque não <strong>se</strong><br />
soube pôr o problema inicial nestes termos tão óbvios 1.<br />
Os capítulos que <strong>se</strong> <strong>se</strong>guem tentarão fornecer alg<strong>uma</strong>s sugestões<br />
para que a te<strong>se</strong> a <strong>faz</strong>er <strong>se</strong>ja <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> que <strong>se</strong> saiba e possa <strong>faz</strong>er.<br />
1 Poderíamos acrescentar unia quinta regia: que o professor <strong>se</strong>ja o indicado.<br />
Efeeti vãmente, há candidatos que. por razões de simpatia ou de preguiça, querem<br />
<strong>faz</strong>er com o docente da matéria A <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> que, na verdade, é da matéria B. O<br />
docente aceita ipur simpatia, vaidade ou dcsatençâol e depois nào está em condições<br />
de acompanhar u te<strong>se</strong>.<br />
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II. A ESCOLHA DO TEMA<br />
II.l. Te<strong>se</strong> monográflca ou te<strong>se</strong> panorâmica?<br />
A primeira tentação do estudante é <strong>faz</strong>er <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> que fale de<br />
muitas coisas. Se ele <strong>se</strong> interessa por literatura, o <strong>se</strong>u primeiro<br />
impulso é <strong>faz</strong>er <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> do gênero A literatura hoje, tendo de restringir<br />
o tema. quererá escolher A literatura italiana desde o pós-<br />
-guerra até aos anos 60.<br />
Estas te<strong>se</strong>s são perigosíssimas. Trata-<strong>se</strong> dc temas que <strong>faz</strong>em tremer<br />
estudiosos bem mais maduros. Para um estudante de vinte anos,<br />
é um desafio impossível. Ou fará <strong>uma</strong> re<strong>se</strong>nha monótona de nomes e<br />
de opiniões correntes, ou dará à sua obra um cariz original e <strong>se</strong>rá<br />
<strong>se</strong>mpre acusado de omissões imperdoáveis. O grande crítico contemporâneo<br />
Gianfranco Contini publicou em 1957 <strong>uma</strong> Letíeratum<br />
Italiana-Ottocento-Novecento ÍSansoni Accademia). Pois bem, <strong>se</strong> <strong>se</strong><br />
tratas<strong>se</strong> de <strong>uma</strong> te<strong>se</strong> de licenciatura, teria ficado reprovado, apesar<br />
das suas 472 páginas. Com efeito, teria sido atribuído a negligência<br />
ou ignorância o facto de não ter citado alguns nomes que a maioria<br />
das pessoas consideram muito importantes, ou de ter dedicado capítulos<br />
inteiros a aulores ditos «menores» e breves notas de rodapé a autores<br />
considerados «maiores». Evidentemente, tratando-<strong>se</strong> de um estudioso<br />
cuja preparação histórica e agudeza crítica são bem conhecidas, toda<br />
a gente compreendeu que estas exclusões e desproporções eram voluntárias,<br />
e que <strong>uma</strong> ausência era criticamente muito mais eloqüente do<br />
que <strong>uma</strong> página demolidora. Mas <strong>se</strong> a mesma graça for feita por um<br />
estudante de vinte e dois anos. quem garante que por detrás do silêncio<br />
não está muita astúeia e que as omissões substituem páginas<br />
críticas escritas noutro lado — ou que o autor saberia escrever?<br />
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