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Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero

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natural, essa aproximação por parte da mulher faz com que <strong>de</strong>ntro da construção social<br />

ela ocupe <strong>uma</strong> posição secundária.<br />

Quando se fala que a mãe é a principal responsável pela contaminação e<br />

infecção <strong>de</strong> seus filhos pela doença cárie ( Torres et al., 1999; Oliveira Jr. et al., 2000),<br />

não se po<strong>de</strong> ignorar, <strong>de</strong> modo algum, que tal fato está intrinsecamente associado à<br />

condição feminina socialmente construída ao longo da história, que atribui à mulher a<br />

obrigação genética <strong>de</strong> cuidar dos filhos. Então, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> levar em<br />

consi<strong>de</strong>ração que, hipoteticamente, se tal papel <strong>de</strong> cuidar dos filhos se tratasse <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

obrigação masculina, o pai seria o principal responsável pela contaminação e infecção<br />

<strong>de</strong> seus filhos, <strong>uma</strong> vez que teria o maior contato com eles...<br />

As relações <strong>de</strong> gênero permeiam as questões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, abrangendo<br />

também, inclusive, as da saú<strong>de</strong> bucal. Evi<strong>de</strong>ncia-se, até aqui, que a odontologia<br />

sozinha, <strong>de</strong> acordo com as <strong>de</strong>finições feitas inicialmente neste trabalho, não consegue<br />

dar conta <strong>de</strong> tais relações. É inegável o conhecimento e as <strong>de</strong>scobertas produzidas e<br />

acumuladas ao longo <strong>de</strong>sses anos <strong>de</strong> estudos sobre a saú<strong>de</strong> bucal <strong>de</strong> gestantes. Mas<br />

também não dá para negar que muito há ainda a ser feito: é necessário conhecer mais<br />

profundamente aspectos socioeconômicos, culturais e as relações <strong>de</strong> gênero que<br />

giram em torno da mulher, a fim <strong>de</strong> contribuir verda<strong>de</strong>iramente para a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta<br />

mulher, pensando nela como alvo principal, <strong>uma</strong> vez que não se po<strong>de</strong> mais <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rar que tais aspectos são construídos socialmente; tendo a clareza <strong>de</strong> que os<br />

alcances <strong>de</strong>stas contribuições na família são <strong>uma</strong> conseqüência social, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

todo o papel feminino socialmente construído.<br />

Não se po<strong>de</strong>, enfim, simplesmente atribuir à mulher a culpa pela cárie em<br />

crianças. Existem sim diferenças biológicas com relação à saú<strong>de</strong> bucal das mulheres<br />

que não po<strong>de</strong>m ser ignoradas. Elas têm a erupção <strong>de</strong>ntária mais precoce e a<br />

prevalência <strong>de</strong> cárie maior que homens. Quando gestantes, acreditam não po<strong>de</strong>r ir ao<br />

<strong>de</strong>ntista, sofrem dores e aceitam esses sacrifícios pelos filhos, pois tal atitu<strong>de</strong> faz parte<br />

da condição feminina, estabelecida pelas relações <strong>de</strong> gênero. Mas mesmo acreditando<br />

não po<strong>de</strong>r ir ao <strong>de</strong>ntista, as mulheres passam por alterações fisiológicas durante a<br />

gravi<strong>de</strong>z, alterações tais que geram situações e necessida<strong>de</strong>s específicas para a sua<br />

saú<strong>de</strong> bucal, as quais têm <strong>de</strong> ser tratadas especificamente, estabelecendo, em vista<br />

disso, ligações entre o universo biológico da mulher e a sua condição <strong>de</strong>ntro da

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