Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
67<br />
natural, essa aproximação por parte da mulher faz com que <strong>de</strong>ntro da construção social<br />
ela ocupe <strong>uma</strong> posição secundária.<br />
Quando se fala que a mãe é a principal responsável pela contaminação e<br />
infecção <strong>de</strong> seus filhos pela doença cárie ( Torres et al., 1999; Oliveira Jr. et al., 2000),<br />
não se po<strong>de</strong> ignorar, <strong>de</strong> modo algum, que tal fato está intrinsecamente associado à<br />
condição feminina socialmente construída ao longo da história, que atribui à mulher a<br />
obrigação genética <strong>de</strong> cuidar dos filhos. Então, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> levar em<br />
consi<strong>de</strong>ração que, hipoteticamente, se tal papel <strong>de</strong> cuidar dos filhos se tratasse <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />
obrigação masculina, o pai seria o principal responsável pela contaminação e infecção<br />
<strong>de</strong> seus filhos, <strong>uma</strong> vez que teria o maior contato com eles...<br />
As relações <strong>de</strong> gênero permeiam as questões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, abrangendo<br />
também, inclusive, as da saú<strong>de</strong> bucal. Evi<strong>de</strong>ncia-se, até aqui, que a odontologia<br />
sozinha, <strong>de</strong> acordo com as <strong>de</strong>finições feitas inicialmente neste trabalho, não consegue<br />
dar conta <strong>de</strong> tais relações. É inegável o conhecimento e as <strong>de</strong>scobertas produzidas e<br />
acumuladas ao longo <strong>de</strong>sses anos <strong>de</strong> estudos sobre a saú<strong>de</strong> bucal <strong>de</strong> gestantes. Mas<br />
também não dá para negar que muito há ainda a ser feito: é necessário conhecer mais<br />
profundamente aspectos socioeconômicos, culturais e as relações <strong>de</strong> gênero que<br />
giram em torno da mulher, a fim <strong>de</strong> contribuir verda<strong>de</strong>iramente para a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta<br />
mulher, pensando nela como alvo principal, <strong>uma</strong> vez que não se po<strong>de</strong> mais <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
consi<strong>de</strong>rar que tais aspectos são construídos socialmente; tendo a clareza <strong>de</strong> que os<br />
alcances <strong>de</strong>stas contribuições na família são <strong>uma</strong> conseqüência social, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
todo o papel feminino socialmente construído.<br />
Não se po<strong>de</strong>, enfim, simplesmente atribuir à mulher a culpa pela cárie em<br />
crianças. Existem sim diferenças biológicas com relação à saú<strong>de</strong> bucal das mulheres<br />
que não po<strong>de</strong>m ser ignoradas. Elas têm a erupção <strong>de</strong>ntária mais precoce e a<br />
prevalência <strong>de</strong> cárie maior que homens. Quando gestantes, acreditam não po<strong>de</strong>r ir ao<br />
<strong>de</strong>ntista, sofrem dores e aceitam esses sacrifícios pelos filhos, pois tal atitu<strong>de</strong> faz parte<br />
da condição feminina, estabelecida pelas relações <strong>de</strong> gênero. Mas mesmo acreditando<br />
não po<strong>de</strong>r ir ao <strong>de</strong>ntista, as mulheres passam por alterações fisiológicas durante a<br />
gravi<strong>de</strong>z, alterações tais que geram situações e necessida<strong>de</strong>s específicas para a sua<br />
saú<strong>de</strong> bucal, as quais têm <strong>de</strong> ser tratadas especificamente, estabelecendo, em vista<br />
disso, ligações entre o universo biológico da mulher e a sua condição <strong>de</strong>ntro da