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Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero

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esfíncteres até a outras questões da higiene pessoal. Das meninas espera-se que<br />

sejam mais limpas, que prestem atenção , que tenham mais cuidado com o próprio<br />

aspecto e com a própria pessoa (Belotti, 1975, p.39). Como po<strong>de</strong> ser observado,<br />

portanto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito cedo às meninas, <strong>de</strong>pois, mulheres, é atribuída tal <strong>de</strong>dicação em<br />

relação aos cuidados com a limpeza, não apenas os cuidados pessoais, que<br />

<strong>de</strong>monstram toda sua beleza, <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za, feminilida<strong>de</strong> , mas também, os mesmos<br />

cuidados em relação ao espaço privado que lhe é próprio, ou seja, o lar . Neste caso,<br />

tudo o que diz respeito à limpeza <strong>de</strong>ntro da casa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os cuidados com a limpeza<br />

da casa em si, das roupas, móveis, cozinha, dos alimentos, até a higiene pessoal da<br />

família, banho, escovação dos <strong>de</strong>ntes, limpeza das unhas, entre tantas outras coisas<br />

são compreendidas como tarefas da alçada feminina. E esta questão do<br />

a<strong>de</strong>stramento é tão séria que po<strong>de</strong> mesmo gerar problemas como a prisão <strong>de</strong> ventre,<br />

tão comum entre mulheres. Pois enquanto se ensina aos meninos, por exemplo, que<br />

a eles é permitido soltar gazes em público, às meninas praticamente se exige que suas<br />

fezes sejam cor <strong>de</strong> rosa e perf<strong>uma</strong>da (Montgomery, 1997), o que é h<strong>uma</strong>namente<br />

impossível. Assim, o a<strong>de</strong>stramento para a limpeza incutido na educação <strong>de</strong> meninas vai<br />

gerando problemas muitas vezes quase que irreversíveis na saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas futuras<br />

mulheres.<br />

De acordo com Lakatos & Brutscher (2000), po<strong>de</strong>-se mesmo afirmar que os<br />

trabalhos do lar, as ativida<strong>de</strong>s domésticas , entre elas os cuidados com os outros,<br />

inclusive, doentes, existem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da vida familiar em grupo e da divisão sexual<br />

do trabalho, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então são <strong>de</strong>svalorizados socialmente. Embora existam várias<br />

teorias a esse respeito e não se saiba ao certo quando isso começou, o que é fato é a<br />

existência <strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>de</strong>svalorização do que se atribui socialmente como papel feminino,<br />

e tanto a Igreja quanto a socieda<strong>de</strong>, através dos processos educativos e da medicina,<br />

dão cunho científico a essa <strong>de</strong>svalorização.<br />

Uma melhor percepção sobre a educação das meninas po<strong>de</strong> ser obtida<br />

através do trabalho <strong>de</strong> Na<strong>de</strong>r (1997), que busca no <strong>de</strong>senrolar da história da família no<br />

Brasil, os fatos que contribuíram para a subordinação i<strong>de</strong>ológica das mulheres à<br />

socieda<strong>de</strong>. Segundo a autora, é possível afirmar que tanto a religião católica quanto<br />

a educação foram os provedores do processo moralizante e também do <strong>de</strong>stino<br />

biológico da mulher no país.

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