Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
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E como tal dispõem do direito à saú<strong>de</strong> bucal, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da gestação.<br />
E a reflexão acerca da cidadania das mulheres implica n<strong>uma</strong> compreensão<br />
dos papéis adotados nas relações entre homens e mulheres, ou seja, as relações <strong>de</strong><br />
gênero (Costa & Guimarães, 1999?). A cultura foi imputando, através <strong>de</strong> um longo e<br />
lento processo, funções a homens e mulheres <strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong>, e há que se levar<br />
em consi<strong>de</strong>ração que tais tarefas têm ainda hoje efeitos valorosos sobre a saú<strong>de</strong>. À<br />
mulher foram <strong>de</strong>signadas tarefas que giram em torno do cuidado com os outros, ou<br />
seja, com a casa, a família, os filhos. E mecanismos, como a censura familiar ou do<br />
grupo social, foram criados pela socieda<strong>de</strong> a fim <strong>de</strong> que seja cumprido pelas mulheres<br />
esse papel, fazendo <strong>de</strong>las pessoas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, discriminadas, medrosas, culpadas,<br />
<strong>de</strong>sempo<strong>de</strong>radas.<br />
Faz-se, assim, necessário recorrer à história para alcançar o significado das<br />
relações entre o gênero e a saú<strong>de</strong> bucal <strong>de</strong> mulheres, <strong>de</strong> modo mais específico,<br />
gestantes. Apenas através <strong>de</strong>ssa busca é possível compreen<strong>de</strong>r o posicionamento dos<br />
autores ao consi<strong>de</strong>rar as mulheres como principais responsáveis pela contaminação e<br />
infecção <strong>de</strong> seus filhos pela cárie. Bernar<strong>de</strong>s (1988) ao estudar a história da mulher<br />
brasileira, pô<strong>de</strong> traçar alguns perfis: na época do Brasil-Colônia, a mulher fosse<br />
branca, nativa ou negra consistia no objeto sexual do homem; durante o Império, a<br />
mulher era voltada para o ambiente doméstico, privado; tendo, a exemplo das mulheres<br />
portuguesas, formação intelectual baixa e se ocupando basicamente <strong>de</strong> serviços da<br />
casa e práticas religiosas. A única forma <strong>de</strong> ascensão para a mulher aceita socialmente<br />
no Brasil do século XIX era o casamento.<br />
De fato, as meninas são educadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequenas para a submissão. De<br />
acordo com Belotti (1975), existe todo <strong>uma</strong> hostilida<strong>de</strong> diante da menina, e se inicia<br />
<strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> processo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>stramento da mesma <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância. Assim, busca-<br />
se o condicionamento feminino exatamente para a submissão e para a passivida<strong>de</strong>,<br />
sempre associando tais características como inerentes à natureza feminina. Dessa<br />
forma, a menina vai sendo socializada para se tornar mulher, conforme apraz à<br />
socieda<strong>de</strong>. Iniciam-se, então, os vários a<strong>de</strong>stramentos da menina, <strong>de</strong> modo geral,<br />
muito mais severos e rígidos do que os dos meninos. Aqui é legítimo tocar na questão<br />
do a<strong>de</strong>stramento ou treinamento para a limpeza, que diz respeito <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ao controle dos<br />
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