Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
35<br />
brasileiras, sempre tendo em mente que o processo saú<strong>de</strong>/doença bucal tem fortes<br />
<strong>de</strong>terminantes sociais que precisam ser consi<strong>de</strong>rados sempre que são buscadas reais<br />
e benéficas mudanças neste processo.<br />
Enfim, não é possível compreen<strong>de</strong>r o processo saú<strong>de</strong>/doença sem levar em<br />
consi<strong>de</strong>ração sua <strong>de</strong>terminação social. Segundo Lefèvre (1996) apud Frazão (1998),<br />
na verda<strong>de</strong>, é preciso resgatar a saú<strong>de</strong>-doença como processo social, como fato<br />
essencialmente coletivo e <strong>de</strong> interesse público (Frazão, 1998, p. 162). Isso implica na<br />
inclusão <strong>de</strong> variáveis sociais e <strong>de</strong> comportamento como escolarida<strong>de</strong>, classe social,<br />
moradia, trabalho e renda familiar como instrumentos fundamentais preditivos <strong>de</strong> risco,<br />
a fim <strong>de</strong> que se compreenda mais profunda e verda<strong>de</strong>iramente os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
bucal. Assim, no caso da cárie, além dos fatores tradicionais <strong>de</strong> predição <strong>de</strong> risco<br />
(testes bioquímicos, microbiológicos, análise da dieta, e outros), é preciso lançar esse<br />
novo olhar sobre a produção social <strong>de</strong>ssa doença. Assim, o nível socioeconômico afeta<br />
o risco <strong>de</strong> cárie na medida em que as camadas mais elevadas têm acesso a<br />
informações, aos meios <strong>de</strong> prevenção e ao tratamento restaurador, <strong>uma</strong> vez que<br />
po<strong>de</strong>m pagar por isso (Navarro& Côrtes, 1995). No entanto, para as camadas mais<br />
pobres, a representação que se tem do <strong>de</strong>nte é a dor, sendo a solução para esta a<br />
extração, encarada como um acontecimento natural e inevitável. O que em hipótese<br />
alg<strong>uma</strong> o é, pois a extração não só não resolve o problema como também agrava o<br />
estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>/doença bucal da população, não apenas no âmbito individual mas<br />
também no coletivo, <strong>uma</strong> vez que restabelecendo a normalida<strong>de</strong> através da eliminação<br />
da dor, consegue-se, contraditoriamente, dar lugar à anormalida<strong>de</strong>, que é a ausência<br />
dos <strong>de</strong>ntes. Mas, mesmo sabendo-se disto, cerca <strong>de</strong> 40 milhões <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes são<br />
extraídos anualmente aqui no Brasil, que é o país recordista mundial <strong>de</strong> cáries... . (Ida,<br />
1998, p.128).<br />
Infelizmente, a situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> bucal da população brasileira continua<br />
sendo <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada. O fato é que não há estudos globais sobre a situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
bucal em extratos anteriores ou posteriores à ida<strong>de</strong> escolar, dificultando a visão da<br />
realida<strong>de</strong> da saú<strong>de</strong> bucal <strong>de</strong> <strong>uma</strong> forma geral no país; impossibilitando a tomada <strong>de</strong><br />
medidas que gerem mudanças reais na saú<strong>de</strong> bucal da população como um todo<br />
(Narvai, 2000b). Não se po<strong>de</strong> fechar os olhos e aceitar que já que não se po<strong>de</strong><br />
aten<strong>de</strong>r todo o povo, que se atenda, ao menos, os filhos do povo . (Botazzo