Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero

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30 grande parte da população ainda não dispor desses serviços, não basta fluoretar a água para solucionar o problema que é a cárie aqui no Brasil. Mas, mesmo diante disso, Cury apud Freitas (2000) lembra que, segundo a conclusão do Comitê Técnico- Científico da Unicamp, apresentado ao Ministério da Saúde, a não fluoretação da água deve ser considerada juridicamente ilegal, cientificamente insustentável e socialmente injusta (p. 2). Os dentifrícios fluorados, por sua vez, passaram a ser acessíveis à população brasileira em meados dos anos 80. Foi no ano de 1988 que se adicionou o flúor ao produto mais vendido do mercado. Hoje, a maioria dos dentifrícios disponíveis no mercado contém flúor (Silva, 1997). A promoção em saúde bucal também tem colaborado para a redução dos índices de cárie em nosso país. A política e a epidemiologia têm contribuído, ainda que nos bastidores, a fim de que o Brasil não ostente mais títulos como o país dos desdentados . A criação do SUS, em 1988, parte do processo de construção da democracia brasileira, tem colaborado para a melhoria da saúde bucal dos brasileiros na medida em que criou a possibilidade de decisões locais sobre o que fazer para se evitar a cárie. Além disso, estudos epidemiológicos, ainda que esparsos e pouco aproveitados, têm sido realizados com maior freqüência, permitindo que se conheça melhor a realidade e tornando possível avaliar realmente as mudanças ocorridas (Narvai, 1992 ; Silva, 1997; Peres et al., 1997). Observa-se, entretanto, que, de fato, a contribuição dos serviços odontológicos para a mudança desses índices de cárie no país foi mínima. Admite-se que somente 5% da população brasileira têm acesso regular aos serviços odontológicos. Em 1983, segundo Pinto apud Narvai (1994),o setor público financiava somente 18,2% dos serviços odontológicos produzidos no Brasil, sendo os 81,8% restantes correspondentes a gastos realizados no setor privado. Os gastos do Ministério da Saúde em 1996 com a Saúde Bucal da população brasileira limitaram-se a 5% da verba total do SIA/SIH/SUS, que correspondem a cerca de R$ 205 milhões. Em procedimentos individuais (P.I.) foi gasta a maior parte da verba - R$ 125 milhões, atingindo uma cobertura de apenas 10% da população. Já os procedimentos coletivos (P.C.) consumiram cerca de R$ 80 milhões, tendo atingido cerca de 13% da população- alvo . De 1996 para 1997 houve uma queda no investimento global em saúde bucal,

31 sendo que R$ 216 milhões foram investidos em 1997 e R$ 213 milhões, em 1998. Pode até não parecer muito, mas três milhões a menos fazem uma enorme diferença quando estamos falando em investimentos nacionais em Saúde Bucal, que já não têm, assim, uma alta cobertura da população. Desta maneira, a Saúde Bucal, que já representou 14% dos gastos ambulatoriais do extinto INAMPS, hoje representa apenas os 5% já referidos como recursos ambulatoriais do SUS (Ferreira, 1997c; Manfredini, 2000; Narvai, 2000c). Desde 1980, na VII Conferência Nacional de Saúde, parece que há ainda muito para a odontologia brasileira avançar. Naquele momento, a odontologia em nosso país ficou caracterizada como ineficiente, ineficaz, (...) com enfoque curativo e de baixa cobertura . ( Peres, 1996, p.19). Falta de cirurgiões-dentistas, por sua vez, não é um problema para o Brasil. Nosso país é mesmo rico em contra-sensos . . . São aproximadamente 120 mil cirurgiões-dentistas, que correspondem a 11% do total do mundo. Rotulado como país campeão em cárie dentária, o Brasil é paradoxalmente a nação que possui o maior índice proporcional de faculdades de odontologia, levando-se em consideração o número de habitantes do país. No entanto, esse fato parece não ter se traduzido em melhorias reais no sentido de diminuir de maneira significativa os índices de doenças bucais registrados no país, uma vez que o surgimento de novas faculdades de odontologia não tem causado impactos sociais reais (Neto, 1996, Ferreira, 1997b). Ou seja, apesar de entrarem no mercado, a cada ano, inúmeros profissionais cirurgiões- dentistas, isto não tem resultado em mais saúde bucal para a população. Além disso, as universidades continuam dando ênfase à teoria e a prática de reparar danos, através de restaurações, próteses, tratamento de canal, etc.; teoria e prática estas desvinculadas da realidade social da maior parte do Brasil (Cordón, 1996). Na verdade, de uma maneira geral, a formação de recursos humanos na área de saúde continua supervalorizando novas tecnologias, altos níveis de especialização, estruturando-se distante dos sujeitos e de seus diferentes contextos de vida (Leocádio, 1994). Não que a população não tenha tais necessidades; mas, de fato, não pode pagar por elas. Desta forma é cada vez maior a distância entre a técnica e a realidade epidemiológica e social dos pacientes, ou seja, entre a odontologia e a saúde bucal no

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sendo que R$ 216 milhões foram investidos em 1997 e R$ 213 milhões, em 1998. Po<strong>de</strong><br />

até não parecer muito, mas três milhões a menos fazem <strong>uma</strong> enorme diferença quando<br />

estamos falando em investimentos nacionais em <strong>Saú<strong>de</strong></strong> <strong>Bucal</strong>, que já não têm, assim,<br />

<strong>uma</strong> alta cobertura da população. Desta maneira, a <strong>Saú<strong>de</strong></strong> <strong>Bucal</strong>, que já representou<br />

14% dos gastos ambulatoriais do extinto INAMPS, hoje representa apenas os 5% já<br />

referidos como recursos ambulatoriais do SUS (Ferreira, 1997c; Manfredini, 2000;<br />

Narvai, 2000c). Des<strong>de</strong> 1980, na VII Conferência Nacional <strong>de</strong> <strong>Saú<strong>de</strong></strong>, parece que há<br />

ainda muito para a odontologia brasileira avançar. Naquele momento, a odontologia em<br />

nosso país ficou caracterizada como ineficiente, ineficaz, (...) com enfoque curativo e<br />

<strong>de</strong> baixa cobertura . ( Peres, 1996, p.19).<br />

Falta <strong>de</strong> cirurgiões-<strong>de</strong>ntistas, por sua vez, não é um problema para o Brasil.<br />

Nosso país é mesmo rico em contra-sensos . . . São aproximadamente 120 mil<br />

cirurgiões-<strong>de</strong>ntistas, que correspon<strong>de</strong>m a 11% do total do mundo. Rotulado como país<br />

campeão em cárie <strong>de</strong>ntária, o Brasil é paradoxalmente a nação que possui o maior<br />

índice proporcional <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> odontologia, levando-se em consi<strong>de</strong>ração o<br />

número <strong>de</strong> habitantes do país. No entanto, esse fato parece não ter se traduzido em<br />

melhorias reais no sentido <strong>de</strong> diminuir <strong>de</strong> maneira significativa os índices <strong>de</strong> doenças<br />

bucais registrados no país, <strong>uma</strong> vez que o surgimento <strong>de</strong> novas faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

odontologia não tem causado impactos sociais reais (Neto, 1996, Ferreira, 1997b). Ou<br />

seja, apesar <strong>de</strong> entrarem no mercado, a cada ano, inúmeros profissionais cirurgiões-<br />

<strong>de</strong>ntistas, isto não tem resultado em mais saú<strong>de</strong> bucal para a população.<br />

Além disso, as universida<strong>de</strong>s continuam dando ênfase à teoria e a prática <strong>de</strong><br />

reparar danos, através <strong>de</strong> restaurações, próteses, tratamento <strong>de</strong> canal, etc.; teoria e<br />

prática estas <strong>de</strong>svinculadas da realida<strong>de</strong> social da maior parte do Brasil (Cordón, 1996).<br />

Na verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> <strong>uma</strong> maneira geral, a formação <strong>de</strong> recursos h<strong>uma</strong>nos na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

continua supervalorizando novas tecnologias, altos níveis <strong>de</strong> especialização,<br />

estruturando-se distante dos sujeitos e <strong>de</strong> seus diferentes contextos <strong>de</strong> vida (Leocádio,<br />

1994).<br />

Não que a população não tenha tais necessida<strong>de</strong>s; mas, <strong>de</strong> fato, não po<strong>de</strong><br />

pagar por elas. Desta forma é cada vez maior a distância entre a técnica e a realida<strong>de</strong><br />

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