Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero

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29.04.2013 Views

20 dental; uso de fluoretos); as crenças, medos, e mitos que fazem parte da cultura popular em torno da saúde bucal; o acesso à educação moradia, salário - fatores socioeconômicos, enfim. Pode-se considerar que tal componente o estilo de vida contempla exatamente os aspectos sociais que envolvem a vida das pessoas, ou seja, leva em conta que tanto saúde como doença são produzidas socialmente. Não se deve ignorar o modo de viver, de trabalhar das pessoas (Botazzo, 1994), visto que são fatores delimitantes do processo saúde/doença de cada indivíduo, mesmo de grupos e classes sociais diferentes. O quarto componente do conceito, a organização da atenção à saúde, diz respeito à quantidade, qualidade, ordem e às relações entre as pessoas e os recursos na prestação de serviços da atenção à saúde. No que diz respeito a este componente, a II Conferência Nacional de Saúde Bucal (1993), como abordado anteriormente, retratou bem o que acontece em nosso país, sua falta de capacidade em atender às necessidades em saúde bucal da população; posto que descreve o panorama da organização dos serviços em saúde bucal no Brasil. Além da ineficácia, da ineficiência, das iatrogenias, do baixo impacto social, da desordem, entre outros problemas já citados, é possível também visualizar tais problemas quando se tem acesso aos números. Segundo dados de pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde, baseada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios ( Pnad) de 1998, quase um quinto da população brasileira (18,7%) nunca foi ao dentista, sendo que quando se fala em zona rural o percentual sobe para 32%. Tais dados deixaram espantado e abismado até mesmo o Ministro da Saúde, José Serra, conforme expresso no jornal Estado de São Paulo, em 16 de agosto de 2000. De 29,6 milhões de pessoas que nunca visitaram um dentista, 25,2 milhões correspondem a crianças e jovens até 19 anos. Tal pesquisa verificou ainda que o acesso aos serviços odontológicos e médicos aumenta proporcionalmente ao aumento da renda familiar ( Estado de São Paulo, 2000, p.1). É oportuno lembrar que os dados, em verdade, refletem a posição do setor público odontológico, que sente sua missão social, ou seja, seu papel perante a sociedade, sendo cumprida quando oferece atendimento escolar, atendimentos emergenciais e de livre demanda. De modo geral, a prática odontológica no Brasil tem tido como alvo aliviar o sofrimento humano cuidando da urgência não importa, então, qual a faixa etária e via de regra através de práticas mutiladoras , e

colocar a criança como sua prioridade 21 (Botazzo, 1994, p.57), o que não tem conseguido causar impactos reais e positivos na produção social das doenças bucais. Falar em Saúde Bucal, entretanto, muitas vezes se confunde com falar em Odontologia. Pode-se mesmo dizer, conforme Botazzo (1994), que a saúde bucal se reduz à odontologia e, esta, à cariologia, pois (...) embora classificando patologias bucais e tendo a boca como seu universo, o exercício da odontologia é hegemonicamente praticado tendo o dente como referencial e a cárie, nele colocada, como patologia geradora da identidade profissional e a chave de um saber particular. São fortes estas representações e nelas funciona sua economia. (p. 37). Saúde bucal e odontologia, como pode ser observado, tratam, portanto, infelizmente, de objetos diferentes,. Embora Iyda (1998) afirme que o homem deve ser o objeto da odontologia ao dizer que Não é a boca, ou mais estritamente, a arcada dentária que constitui o objeto da Odontologia senão o homem, seu produto e produtor (p. 132) , o que se tem visto, segundo a mesma autora, é a exclusão do que há de essencial na odontologia, ou seja, sua humanidade e historicidade. Botazzo (2000a) afirma que a odontologia tem tratado como seu objeto inequivocamente este: os dentes dos homens, a dentadura humana (p. 58). Assim, a odontologia fixa sua atenção em torno do dente (mesmo com todo o avanço científico que experimenta), esquecendo-se, na maioria das vezes, que em torno desse dente existe uma boca que pertence a um ser social que tem toda uma história que não pode ser apartada dele, pois A Odontologia, ao fazer da boca uma abstração, a desvincula do ser social que passa a ser tomado enquanto expressão do seu objeto e compreendido apenas a partir dele. (Botazzo, 1994, p. 43). O mesmo autor lembra ainda que, contraditoriamente, a odontologia acaba por se desvincular das demais práticas de saúde ao deslocar o paciente do seu contexto social, sendo que a análise de tal desvinculação só é possível no próprio campo das práticas de saúde. A odontologia segue, portanto, sem considerar nem entender que seu objeto tem uma constituição social, que não pode ser ignorada.

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<strong>de</strong>ntal; uso <strong>de</strong> fluoretos); as crenças, medos, e mitos que fazem parte da cultura popular<br />

em torno da saú<strong>de</strong> bucal; o acesso à educação moradia, salário - fatores<br />

socioeconômicos, enfim. Po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que tal componente o estilo <strong>de</strong> vida<br />

contempla exatamente os aspectos sociais que envolvem a vida das pessoas, ou seja,<br />

leva em conta que tanto saú<strong>de</strong> como doença são produzidas socialmente. Não se <strong>de</strong>ve<br />

ignorar o modo <strong>de</strong> viver, <strong>de</strong> trabalhar das pessoas (Botazzo, 1994), visto que são<br />

fatores <strong>de</strong>limitantes do processo saú<strong>de</strong>/doença <strong>de</strong> cada indivíduo, mesmo <strong>de</strong> grupos<br />

e classes sociais diferentes.<br />

O quarto componente do conceito, a organização da atenção à saú<strong>de</strong>, diz<br />

respeito à quantida<strong>de</strong>, qualida<strong>de</strong>, or<strong>de</strong>m e às relações entre as pessoas e os recursos<br />

na prestação <strong>de</strong> serviços da atenção à saú<strong>de</strong>. No que diz respeito a este componente,<br />

a II Conferência Nacional <strong>de</strong> <strong>Saú<strong>de</strong></strong> <strong>Bucal</strong> (1993), como abordado anteriormente,<br />

retratou bem o que acontece em nosso país, sua falta <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> em aten<strong>de</strong>r às<br />

necessida<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong> bucal da população; posto que <strong>de</strong>screve o panorama da<br />

organização dos serviços em saú<strong>de</strong> bucal no Brasil.<br />

Além da ineficácia, da ineficiência, das iatrogenias, do baixo impacto social,<br />

da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, entre outros problemas já citados, é possível também visualizar tais<br />

problemas quando se tem acesso aos números. Segundo dados <strong>de</strong> pesquisa divulgada<br />

pelo Ministério da <strong>Saú<strong>de</strong></strong>, baseada na Pesquisa Nacional por Amostra <strong>de</strong> Domicílios (<br />

Pnad) <strong>de</strong> 1998, quase um quinto da população brasileira (18,7%) nunca foi ao <strong>de</strong>ntista,<br />

sendo que quando se fala em zona rural o percentual sobe para 32%. Tais dados<br />

<strong>de</strong>ixaram espantado e abismado até mesmo o Ministro da <strong>Saú<strong>de</strong></strong>, José Serra, conforme<br />

expresso no jornal Estado <strong>de</strong> São Paulo, em 16 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2000. De 29,6 milhões<br />

<strong>de</strong> pessoas que nunca visitaram um <strong>de</strong>ntista, 25,2 milhões correspon<strong>de</strong>m a crianças e<br />

jovens até 19 anos. Tal pesquisa verificou ainda que o acesso aos serviços<br />

odontológicos e médicos aumenta proporcionalmente ao aumento da renda familiar (<br />

Estado <strong>de</strong> São Paulo, 2000, p.1). É oportuno lembrar que os dados, em verda<strong>de</strong>,<br />

refletem a posição do setor público odontológico, que sente sua missão social, ou seja,<br />

seu papel perante a socieda<strong>de</strong>, sendo cumprida quando oferece atendimento escolar,<br />

atendimentos emergenciais e <strong>de</strong> livre <strong>de</strong>manda. De modo geral, a prática odontológica<br />

no Brasil tem tido como alvo aliviar o sofrimento h<strong>uma</strong>no cuidando da urgência não<br />

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