Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
8<br />
<strong>de</strong> primeira escolha para tais dores a extração <strong>de</strong>ntária. As mulheres <strong>de</strong>monstraram<br />
saber i<strong>de</strong>ntificar os problemas bucais que enfrentam, embora tenham também<br />
<strong>de</strong>monstrado em seu discurso <strong>uma</strong> certa aceitação <strong>de</strong> tais problemas como inerentes<br />
à gestação e que, portanto, <strong>de</strong>vem ser aceitos como parte da condição <strong>de</strong> ser mãe,<br />
sendo que muitas vezes não po<strong>de</strong>m ser sanados em virtu<strong>de</strong> do tratamento<br />
odontológico, em sua compreensão, oferecer riscos a saú<strong>de</strong> do bebê. Este <strong>de</strong>ve<br />
sempre estar em primeiro lugar, mesmo que isto signifique prejuízos irreversíveis à<br />
saú<strong>de</strong> bucal da mãe. E esses prejuízos, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar, são um preço um tanto<br />
alto a ser pago pelas gestantes em função <strong>de</strong> sua condição social <strong>de</strong> mulher, no<br />
cumprimento do seu papel <strong>de</strong> mãe <strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong>.<br />
Sobre a questão <strong>de</strong> ir ou não ir ao <strong>de</strong>ntista no período da gestação,<br />
verificou-se que crenças e mitos relacionados a ela estão, em sua maioria, fortemente<br />
associados às representações <strong>de</strong> gênero presentes na nossa socieda<strong>de</strong>, e manifestas<br />
através das falas das entrevistadas. Além disso, a crença <strong>de</strong> que ir ao <strong>de</strong>ntista não é<br />
permitido durante a gestação não é apenas <strong>de</strong>ssas mulheres mas também <strong>de</strong><br />
profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que vão perpetuando os prejuízos bucais sentidos por essas<br />
mulheres como parte da condição feminina <strong>de</strong> ser mãe.<br />
Ao investigar possíveis alterações na freqüência <strong>de</strong> alimentação das<br />
gestantes tornou-se expresso que a cobrança social que recai sobre a mulher pela<br />
responsabilida<strong>de</strong> sobre a saú<strong>de</strong> do feto reflete diretamente nos seus hábitos<br />
alimentares durante a gestação. Mesmo sabendo que ela po<strong>de</strong> engordar, ficar feia, isso<br />
não importa, pois seu papel <strong>de</strong> mãe que cuida bem do filho já <strong>de</strong>s<strong>de</strong> esse período <strong>de</strong>ve<br />
ser cumprido a qualquer custo.<br />
Os dados sobre a higiene bucal das entrevistadas revelam que, <strong>de</strong> fato, não<br />
ocorrem alterações em tais hábitos durante a gestação, existindo ainda o agravante <strong>de</strong><br />
que para muitas gestantes problemas com enjôos do creme <strong>de</strong>ntal prejudicam a<br />
escovação. Embora ocorram alterações na freqüência <strong>de</strong> alimentação, estas não se<br />
refletem na escovação. Isto é preocupante porque a gestação gera alterações bucais,<br />
que po<strong>de</strong>m se agravar caso não sejam <strong>de</strong>vidamente consi<strong>de</strong>radas. A soma <strong>de</strong> tais<br />
alterações às crenças <strong>de</strong> que elas são comuns à gestação e não merecem atenção<br />
especial po<strong>de</strong> causar, assim, sérios prejuízos à saú<strong>de</strong> bucal da mulher.