Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
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saú<strong>de</strong> bucal da mulher, <strong>de</strong> maneira especial durante a gestação, pois, embora crenças<br />
como a no provérbio cada filho custa um <strong>de</strong>nte e na ocorrência <strong>de</strong> enfraquecimento<br />
dos <strong>de</strong>ntes durante a gestação não encontrem respaldo científico, existem sim<br />
alterações no meio bucal que po<strong>de</strong>m gerar problemas bucais na mulher, e que por isso<br />
merecem ser consi<strong>de</strong>radas e a elas dada a <strong>de</strong>vida atenção.<br />
No entanto, o que se têm visto são vários trabalhos na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> bucal,<br />
mais especificamente os que tratam <strong>de</strong> gestantes e <strong>de</strong> bebês, colocando as mães<br />
como as principais responsáveis pela contaminação e infecção <strong>de</strong> seus filhos pela<br />
doença cárie ( Berkowitz et al., 1981; Long et al., 1993; Torres et al., 1999; Oliveira Jr.<br />
et al., 2000). Tais autores situam como fundamental a atenção à saú<strong>de</strong> bucal <strong>de</strong><br />
gestantes em virtu<strong>de</strong> da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contaminação <strong>de</strong> seus filhos pela doença<br />
cárie. Esquecem-se, entretanto, que antes <strong>de</strong> serem mães, são mulheres e também<br />
cidadãs. E como tal dispõem do direito à saú<strong>de</strong> bucal, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da gestação.<br />
Certamente, para que se compreenda a cidadania da mulher é preciso antes<br />
conhecer as relações sociais entre homens e mulheres que estipulam papéis para um<br />
e para outro <strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong>, papéis estes que atribuem à mulher os cuidados com<br />
os outros, inclusive, com a saú<strong>de</strong> dos outros. Esses papéis atribuídos à mulher fazem,<br />
então, que ela seja socialmente moldada para os cuidados com a maternida<strong>de</strong>, com a<br />
casa e com o marido. E mais do que isto, a socieda<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ra tais cuidados menos<br />
importantes do que as ativida<strong>de</strong>s atribuídas aos homens. E essa divisão <strong>de</strong> papéis é<br />
ainda consolidada pela igreja, pela educação, e pela medicina; instituições que<br />
contribuíram, ao longo da história, cada <strong>uma</strong> à sua maneira, para o <strong>de</strong>stino biológico da<br />
mulher brasileira. Esse <strong>de</strong>stino biológico diz respeito à ligação natural (mas também<br />
social) que se estabeleceu entre a mulher e a instituição familiar. Diante <strong>de</strong> tal ligação<br />
é possível compreen<strong>de</strong>r que por serem socialmente da alçada da mulher, da mãe,<br />
os cuidados com a higiene dos filhos, inclusive da boca <strong>de</strong>les qualquer episódio que<br />
quebre essa ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> cuidados ou que contribua para o surgimento <strong>de</strong> doenças,<br />
também seja consi<strong>de</strong>rado como <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong>. Assim, a odontologia, como<br />
a medicina, tem também contribuído para a submissão feminina na medida em que<br />
consi<strong>de</strong>ra a mãe praticamente como um vetor, ou seja, <strong>uma</strong> transportadora <strong>de</strong> agentes<br />
infecciosos, na transmissão da doença cárie a seus filhos.<br />
Não se po<strong>de</strong> ignorar que o papel social da mulher têm implicações em sua