Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero

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29.04.2013 Views

3 virtude do processo saúde/doença bucal, tratar de problemas que não têm sua resolução apenas no espaço de um consultório dentário, mas precisam ser discutidos em diferentes territórios sociais, o item A Saúde Bucal no Brasil , ainda do capítulo 1, busca construir um panorama da saúde bucal no país, através dos dados disponíveis e do estabelecimento de vínculos entre tais dados e a realidade social e histórica do país. Trata-se de uma tentativa válida na medida em que somente quando se sai dos limites da boca, do consultório, é que se pode vislumbrar a importância da produção social de doenças (neste caso, doenças bucais) na história do processo saúde/doença bucal no Brasil. Dados de levantamentos epidemiológicos realizados no Brasil demonstram que tem havido redução nos índices de cárie dental, principal problema de saúde bucal no país. No entanto, sabe-se também que 90% dos brasileiros não têm acesso a consultório dentário particular ( Albuquerque, 1997), sendo importante frisar que cerca de 2/3 dos trabalhadores brasileiros não possuem condições de freqüentar consultórios particulares, enquanto 3/4 do tempo de trabalho dos dentistas acontece no Brasil dentro de consultórios (Frazão, 1998). Contraditoriamente, o Brasil é a nação que possui o maior índice proporcional de faculdades de odontologia, levando-se em consideração o número de habitantes do país. No entanto, esse fato parece não ter se traduzido em melhorias reais no sentido de diminuir de maneira significativa os índices de doenças bucais registrados no país, uma vez que o surgimento de novas faculdades de odontologia não tem causado impactos sociais reais (Neto, 1996; Ferreira, 1997b). Ou seja, apesar de entrarem no mercado, a cada ano, inúmeros profissionais cirurgiões- dentistas, isto não tem resultado em mais saúde bucal para a população. Tal fato está ligado à postura das universidades que continuam dando ênfase à teoria e a prática de reparar danos, através de restaurações, próteses, tratamento de canal, etc.; teoria e prática estas desvinculadas da realidade social da maior parte do Brasil (Córdon, 1996). Na verdade, de uma maneira geral, a formação de recursos humanos na área de saúde continua supervalorizando novas tecnologias, altos níveis de especialização, estruturando-se distante dos sujeitos e de seus diferentes contextos de vida (Leocádio, 1994). Todavia, faz-se importante frisar que não é simplesmente a falta de acesso aos serviços odontológicos que produz problemas dentários. Fatores como a

4 inadequação da formação de recursos humanos, a baixa cobertura assistencial, a queda do poder aquisitivo da população, a falta de ações educativas, as desigualdades sociais também contribuem para tais problemas. Isto torna evidente que mudanças reais na saúde bucal da população brasileira não acontecerão sem que se invista na qualidade de vida dos cidadãos : moradia, saneamento básico, educação, trabalho, renda, transporte, lazer; ou seja, mudanças nas condições de saúde bucal dependem do investimento nestes e noutros fatores determinantes e condicionantes da saúde como um todo. É fundamental também que se perceba que a priorização da atenção à saúde bucal de escolares, prática adotada pelos serviços públicos desde os anos 50, acaba excluindo o restante da população brasileira da atenção. O que de fato precisa ser considerado é que a resolução dos problemas de saúde bucal de brasileiros e brasileiras perpassa por fatores extra-odontológicos como nível educacional, acesso a bens e serviços, poder aquisitivo, enfim, condições de vida da população ( Pinto, 2000), não sendo possível buscar saúde bucal sem que se esteja condicionado à melhoria destes fatores. E para melhorar as condições de saúde bucal da mulher brasileira, de quem este trabalho trata mais especificamente, também é preciso considerar, além dessas variáveis, as relações sociais de gênero, que dizem respeito à sua condição dentro da sociedade, permeando e parecendo interferir no processo saúde/ doença bucal da mulher. O capítulo 2, passa a abordar, assim, as relações de gênero e a saúde bucal de mulheres. Vale frisar que, por ser o enfoque do trabalho um caminho pouco discutido, existiram dificuldades em encontrar dados de onde se pudesse partir; dificuldades comuns, entretanto, quando se realiza a aproximação de uma nova abordagem como esta. No que diz respeito à saúde bucal da brasileira, os dados existentes dizem respeito às gestantes. Dentro da lógica que restringe a atenção à saúde da mulher à atenção à saúde reprodutiva, também os cuidados com a saúde bucal da mulher tendem a se restringir ao período da gravidez. São apresentados neste capítulo dados de trabalhos da área, que evidenciam os mitos, crenças e medos em torno da atenção odontológica durante a gestação, que parecem prejudicar não apenas a saúde bucal do bebê, como tanto enfocam tais trabalhos, mas principalmente prejudicam a saúde bucal dessas mulheres. Deve-se considerar a especificidade da

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virtu<strong>de</strong> do processo saú<strong>de</strong>/doença bucal, tratar <strong>de</strong> problemas que não têm sua<br />

resolução apenas no espaço <strong>de</strong> um consultório <strong>de</strong>ntário, mas precisam ser discutidos<br />

em diferentes territórios sociais, o item A <strong>Saú<strong>de</strong></strong> <strong>Bucal</strong> no Brasil , ainda do capítulo 1,<br />

busca construir um panorama da saú<strong>de</strong> bucal no país, através dos dados disponíveis<br />

e do estabelecimento <strong>de</strong> vínculos entre tais dados e a realida<strong>de</strong> social e histórica do<br />

país. Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> tentativa válida na medida em que somente quando se sai dos<br />

limites da boca, do consultório, é que se po<strong>de</strong> vislumbrar a importância da produção<br />

social <strong>de</strong> doenças (neste caso, doenças bucais) na história do processo saú<strong>de</strong>/doença<br />

bucal no Brasil.<br />

Dados <strong>de</strong> levantamentos epi<strong>de</strong>miológicos realizados no Brasil <strong>de</strong>monstram<br />

que tem havido redução nos índices <strong>de</strong> cárie <strong>de</strong>ntal, principal problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> bucal<br />

no país. No entanto, sabe-se também que 90% dos brasileiros não têm acesso a<br />

consultório <strong>de</strong>ntário particular ( Albuquerque, 1997), sendo importante frisar que cerca<br />

<strong>de</strong> 2/3 dos trabalhadores brasileiros não possuem condições <strong>de</strong> freqüentar consultórios<br />

particulares, enquanto 3/4 do tempo <strong>de</strong> trabalho dos <strong>de</strong>ntistas acontece no Brasil <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> consultórios (Frazão, 1998). Contraditoriamente, o Brasil é a nação que possui o<br />

maior índice proporcional <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> odontologia, levando-se em consi<strong>de</strong>ração<br />

o número <strong>de</strong> habitantes do país. No entanto, esse fato parece não ter se traduzido em<br />

melhorias reais no sentido <strong>de</strong> diminuir <strong>de</strong> maneira significativa os índices <strong>de</strong> doenças<br />

bucais registrados no país, <strong>uma</strong> vez que o surgimento <strong>de</strong> novas faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

odontologia não tem causado impactos sociais reais (Neto, 1996; Ferreira, 1997b). Ou<br />

seja, apesar <strong>de</strong> entrarem no mercado, a cada ano, inúmeros profissionais cirurgiões-<br />

<strong>de</strong>ntistas, isto não tem resultado em mais saú<strong>de</strong> bucal para a população. Tal fato está<br />

ligado à postura das universida<strong>de</strong>s que continuam dando ênfase à teoria e a prática <strong>de</strong><br />

reparar danos, através <strong>de</strong> restaurações, próteses, tratamento <strong>de</strong> canal, etc.; teoria e<br />

prática estas <strong>de</strong>svinculadas da realida<strong>de</strong> social da maior parte do Brasil (Córdon, 1996).<br />

Na verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> <strong>uma</strong> maneira geral, a formação <strong>de</strong> recursos h<strong>uma</strong>nos na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

continua supervalorizando novas tecnologias, altos níveis <strong>de</strong> especialização,<br />

estruturando-se distante dos sujeitos e <strong>de</strong> seus diferentes contextos <strong>de</strong> vida (Leocádio,<br />

1994).<br />

Todavia, faz-se importante frisar que não é simplesmente a falta <strong>de</strong> acesso<br />

aos serviços odontológicos que produz problemas <strong>de</strong>ntários. Fatores como a

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