Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
155<br />
socieda<strong>de</strong>. A aceitação da naturalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prejuízos na saú<strong>de</strong> bucal durante a<br />
gestação passa a ser entendida, assim, como parte da submissão feminina ao papel<br />
socialmente a ela atribuído, o <strong>de</strong> ser mãe.<br />
Os dados encontrados permitem visualizar que a condição feminina <strong>de</strong><br />
gênero impõe alg<strong>uma</strong>s especificida<strong>de</strong>s à saú<strong>de</strong> bucal da mulher, <strong>de</strong> tal maneira que<br />
não se po<strong>de</strong> mais ignorar esta condição quando se consi<strong>de</strong>ra a saú<strong>de</strong> bucal. Não se<br />
po<strong>de</strong> continuar naturalizando diferenças que precisam ser tratadas <strong>de</strong> forma diferente,<br />
ou seja, não se po<strong>de</strong> mais ignorar que existem diferenças socialmente impostas que<br />
geram implicações na saú<strong>de</strong> bucal <strong>de</strong> mulheres, inclusive durante a gestação.<br />
Não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar também que o conhecimento construído<br />
entre as mulheres, mais especificamente entre as entrevistadas, revelou insatisfação<br />
com a sua saú<strong>de</strong> bucal, insatisfação esta intimamente relacionada a dores, quedas <strong>de</strong><br />
restaurações, impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> visitar o <strong>de</strong>ntista em virtu<strong>de</strong> da gestação; fatores estes<br />
que, entre outros, põem em evidência que crenças, mitos, medos e falta <strong>de</strong> informação<br />
continuam a impedir as gestantes <strong>de</strong> buscar a atenção odontológica nesse período. O<br />
que acaba por não acontecer também <strong>de</strong>pois do parto, pois a partir daí, toda atenção<br />
se volta para o bebê, não sobrando mais tempo para a mulher cuidar <strong>de</strong> si. Desta<br />
maneira, os prejuízos gerados para a saú<strong>de</strong> bucal <strong>de</strong> gestantes em função <strong>de</strong>sse<br />
conjunto <strong>de</strong> fatos, ou seja, das crenças, mitos, medos, falta <strong>de</strong> informação e seu papel<br />
social, acabam não sendo vistos como tal pois se acredita que, <strong>de</strong> fato, cada filho custa<br />
um <strong>de</strong>nte , ratificando como normais problemas bucais durante a gestação.<br />
O medo <strong>de</strong> que algo aconteça ao bebê em virtu<strong>de</strong> do tratamento<br />
odontológico também se evi<strong>de</strong>ncia através dos dados, fato este que é socialmente<br />
consi<strong>de</strong>rado natural, em virtu<strong>de</strong> das condições que cercam a vida da mulher, fazendo<br />
com que ela coloque, <strong>de</strong> maneira errônea, em segundo plano a própria saú<strong>de</strong>, inclusive<br />
a saú<strong>de</strong> bucal, em benefício do bebê.<br />
Além do medo, po<strong>de</strong>-se afirmar que apareceram praticamente como<br />
inseparáveis para estas entrevistadas a gravi<strong>de</strong>z e os problemas bucais, sendo, <strong>de</strong> tal<br />
modo, praticamente um milagre ficar grávida e não ter problemas bucais. A dificulda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> acesso aos serviços odontológicos, tanto públicos quanto particulares para a maior<br />
parte da população brasileira, também se mostrou presente no cotidiano das