Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
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(Maldonado, 1990). Deve-se também consi<strong>de</strong>rar que a mulher apren<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> menina<br />
que quando grávida, se não se alimentar <strong>de</strong>vidamente po<strong>de</strong> fazer mal ao feto, e que a<br />
integrida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste é <strong>de</strong> sua inteira responsabilida<strong>de</strong>. E esta avi<strong>de</strong>z pela alimentação<br />
acaba se vinculando também a um dos sentimentos mais universais na gestação: o<br />
medo <strong>de</strong> ter um filho com <strong>de</strong>formações, com algum tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência. Há que se<br />
consi<strong>de</strong>rar também as representações <strong>de</strong> gênero embutidas nesse ato <strong>de</strong> comer por<br />
dois: durante a gestação, a priorida<strong>de</strong> da mulher passa a ser o bebê, e é <strong>de</strong> sua<br />
responsabilida<strong>de</strong> que este seja bem nutrido, o que gera <strong>uma</strong> maior atenção, nem<br />
sempre bem orientada, por parte das mulheres em relação à própria alimentação.<br />
Confun<strong>de</strong>-se, então, quantida<strong>de</strong> com qualida<strong>de</strong>. Assim, vê-se que o mito <strong>de</strong> comer<br />
por dois ganha mais força pois a fome <strong>de</strong> fato aumenta durante este período.<br />
O conflito em torno <strong>de</strong>sse assunto é hoje tão gran<strong>de</strong> que as mulheres se<br />
vêem como que entre a cruz e a espada: ficar grávida, ser mãe é um papel feminino,<br />
e a ela cabe o cuidado com o feto, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu corpo, o que para a maioria significa<br />
comer mais. Mas ao mesmo tempo, o estereótipo feminino aceito socialmente é o da<br />
mulher magérrima, <strong>de</strong> corpo perfeito, malhado, livre <strong>de</strong> gorduras e quaisquer excessos<br />
que a gestação possa trazer. O que fazer então, diante <strong>de</strong> tal conflito? A alimentação<br />
ina<strong>de</strong>quada acaba funcionando como <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> gratificação em virtu<strong>de</strong> das<br />
privações que se associam à vinda do bebê. Isto fica ainda mais forte quando se trata<br />
<strong>de</strong> mulheres <strong>de</strong> camadas mais <strong>de</strong>sfavorecidas da população, pois elas não dispõem <strong>de</strong><br />
meios para se alimentar verda<strong>de</strong>iramente bem (e não por dois), e muito menos têm<br />
acesso a métodos <strong>de</strong> cuidados com a estética corporal, nem antes, nem durante, nem<br />
<strong>de</strong>pois da gestação.<br />
Conforme po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificado na tabela (tabela 22), a seguir, os dados<br />
encontrados revelaram que entre as entrevistadas a freqüência diária <strong>de</strong> alimentação<br />
mais citada foi a <strong>de</strong> três vezes (33,33%). No entanto, se forem somadas as gestantes<br />
que relataram comer mais <strong>de</strong> três vezes ao dia, estas correspon<strong>de</strong>m a exatamente 50%<br />
das entrevistadas.