Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
106 Tal pergunta foi feita com objetivo de verificar se essas mulheres: 1º) conseguem identificar problemas bucais; 2º) quais são esses problemas; 3º) se os problemas bucais delas antecedem a gestação, ou seja, antes de ficarem grávidas essas mulheres já possuíam problemas bucais, e se consideram que tais problemas podem se agravar durante a gestação. Assim, das 96 entrevistadas, 54,17% responderam que tiveram problemas bucais antes de ficarem grávidas e 45,83% responderam não terem tido problemas. Os principais problemas bucais identificados pelas mulheres entrevistadas que reconheceram já tê-los tido foram: problemas gengivais, necessidade de tratamento de canal, cáries, dores de dente, necessidade de extração. Mas além desses problemas, a fala das entrevistadas revela ainda alguns marcos no que diz respeito a seus conhecimentos em relação ao processo saúde/doença bucal. Duas das gestantes, ao se referirem ao conceito de inevitabilidade da cárie, disseram: Sim, cárie sempre tem... . Outras respostas trataram a dor de dentes também como algo inevitável e até natural para quem tem dentes: Sim, dor de dentes só ; Sim, dorzinha, bituração . A extração é tida como a solução mais prática para resolver os problemas com dores: Sim, uma coisa de pus na gengiva, tive de rancar o dente ; Sim, três dentes que doía noite e dia, mandei tirar os dentes, os três ; Sim, dor que tive até de rancar o dente ; Sim, obturação caiu, dava choque no dente, tive que rancar . Uma das gestantes ainda considerou os seus problemas bucais quase como um herança deixada pelos pais, que já não tem mais dentes: Sim, dor de dente, dente fraco: meus pais não têm mais dentes . Há que se considerar que a extração é tida como recurso para aliviar a dor não apenas na nossa cultura atual, mas desde o Egito Antigo (Andrade, 1998). Assim, apesar de todo avanço tecnológico experimentado pela odontologia, a opção pela extração para alívio da dor e resolução de tal problema ainda é a de primeira escolha para a maioria da população. Das gestantes que relataram não terem tido problemas bucais antes de ficarem grávidas, duas respostas interessantes demonstram as diferenças entre o discurso odontológico, científico , e o popular, desprovido de cientificidade , mas rico em realidade: Não, nada sério, só cáries , que mais uma vez demonstra o ponto de vista popular que considera a cárie como inevitável, praticamente natural; e Não, só fiz canal só, já faz quase um ano , que não considera o tratamento de canal como
107 conseqüência de problemas bucais. Mais do que isso, essa aceitação dos problemas bucais parece fazer parte da constituição social da identidade feminina, que revela uma conformidade, uma aceitação de problemas bucais, durante a gestação, como parte da sua condição de mulher, mãe. A tabela 17, por sua vez, revela as respostas das gestantes à seguinte pergunta: e agora que está grávida, está tendo algum problema com a sua boca? . Tabela 17. Identificação de problemas bucais, durante a gestação, pelas entrevistadas, Campo Grande-MS, 2000. IDENTIFICAÇÃO DE C.S. U.B.S. 26 DE MAT. TOTAL PROBLEMAS BUCAIS AGOSTO CÂNDIDO NOVA DURANTE A GESTAÇÃO MARIANO BAHIA N % sim 13 8 27 52 50 não 13 17 18 44 50 TOTAL 26 25 45 96 100 Das 96 entrevistadas, 50%dizem ter tido problemas, e 50% não os têm. Os problemas identificados foram: sangramento gengival, cáries, mau-hálito, dores, enfraquecimento dos dentes, queda de obturações, fratura de dentes. Entre as gestantes que disseram não estar tendo problemas, duas considerações importantes feitas por elas: uma frisou que não está tendo problemas nesta gravidez, e outra considerou que não está tendo problemas, só sangramento da gengiva . Esta última consideração, mais uma vez, revela o quanto as relações sociais de gênero permeiam o universo da gestante no que concerne à sua saúde bucal. Ora o sangramento gengival é uma alteração que merece ser considerada como um problema, mas como faz parte da cultura a crença de que gravidez e problemas bucais
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conseqüência <strong>de</strong> problemas bucais. Mais do que isso, essa aceitação dos problemas<br />
bucais parece fazer parte da constituição social da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> feminina, que revela <strong>uma</strong><br />
conformida<strong>de</strong>, <strong>uma</strong> aceitação <strong>de</strong> problemas bucais, durante a gestação, como parte da<br />
sua condição <strong>de</strong> mulher, mãe.<br />
A tabela 17, por sua vez, revela as respostas das gestantes à seguinte<br />
pergunta: e agora que está grávida, está tendo algum problema com a sua boca? .<br />
Tabela 17. I<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> problemas bucais, durante a gestação, pelas<br />
entrevistadas, Campo Gran<strong>de</strong>-MS, 2000.<br />
IDENTIFICAÇÃO DE C.S. U.B.S. 26 DE MAT. TOTAL<br />
PROBLEMAS BUCAIS AGOSTO CÂNDIDO<br />
NOVA<br />
DURANTE A GESTAÇÃO MARIANO<br />
BAHIA<br />
N %<br />
sim 13 8 27 52 50<br />
não 13 17 18 44 50<br />
TOTAL 26 25 45 96 100<br />
Das 96 entrevistadas, 50%dizem ter tido problemas, e 50% não os têm. Os<br />
problemas i<strong>de</strong>ntificados foram: sangramento gengival, cáries, mau-hálito, dores,<br />
enfraquecimento dos <strong>de</strong>ntes, queda <strong>de</strong> obturações, fratura <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes.<br />
Entre as gestantes que disseram não estar tendo problemas, duas<br />
consi<strong>de</strong>rações importantes feitas por elas: <strong>uma</strong> frisou que não está tendo problemas<br />
nesta gravi<strong>de</strong>z, e outra consi<strong>de</strong>rou que não está tendo problemas, só sangramento da<br />
gengiva . Esta última consi<strong>de</strong>ração, mais <strong>uma</strong> vez, revela o quanto as relações sociais<br />
<strong>de</strong> gênero permeiam o universo da gestante no que concerne à sua saú<strong>de</strong> bucal. Ora<br />
o sangramento gengival é <strong>uma</strong> alteração que merece ser consi<strong>de</strong>rada como um<br />
problema, mas como faz parte da cultura a crença <strong>de</strong> que gravi<strong>de</strong>z e problemas bucais