Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero

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102 (...) para além da manducação fisiológica, a boca é também um dos nossos aparelhos de prazer. A ávida boca que suga o generoso seio é a mesma que tritura e consome o mundo. Isto a põe imediatamente articulada, mais que qualquer outra víscera, com o mundo do trabalho e da cultura, com as estruturas psíquicas e com o terreno da representação. ( Botazzo, 2000, p.285). Embora seja difícil encontrar autores que toquem nesta questão das funções da boca, além de Botazzo (2000a), contribuições interessantes também são dadas por Rossetti (1999), que lembra que a zona oral está intimamente ligada ao cérebro. A boca expressa nossa afetividade, é nossa intermediária entre o interior e o exterior... Todas as expressões profundas do ser humano estão vinculadas à boca. (p.17). É através da nossa boca, enfim, que conseguimos ou não expressar também sentimentos como a alegria, a tristeza, o espanto, o amor, o ódio. De fato a boca oferece imensas possibilidades na medida em que nos põe em contato com o mundo, é através dela que expressamos nossos pensamentos, falamos de nós mesmos, verbalizamos nossos sentimentos, medos, angústias. Talvez pelas dores e problemas bucais que relataram, fique até difícil lembrar dessa função da boca em gerar prazer. Ou pode-se até dizer que os problemas bucais impedem de se aproveitar melhor o que a boca pode nos oferecer, em termos de suas funções. Nenhuma das mulheres se referiu ao papel da boca na sua sexualidade, por exemplo. Quanto a achar importante tratar dos dentes, 100% das gestantes respondeu afirmativamente, reconhecendo tal importância. No entanto, quando perguntou-se o porquê dessa importância evidenciou-se aqui a predominância do conceito de saúde como ausência de doença, ou mais especificamente, ausência de dor, através de respostas como pra evitar dor de dente ; sinto dor de dente direto ; mau-hálito, né , muito desagradável, até pra me alimentar tenho dificuldades , entre outras. As gestantes associaram a importância de tratar os dentes à aparência, beleza; à própria expressão da alegria; à saúde geral; à alimentação e à comunicação. Também se manifestou uma certa preocupação com a manutenção dos dentes: senão fica sem dente, aí, Deus me livre, aí não dá ; se não tratar, acaba tendo que usar dentadura . Infelizmente, parece mesmo que a representação que os brasileiros têm de dente é a

103 dor . Essas mulheres o demonstraram claramente ao dizerem frases como dor de dente é terrível para justificar a importância de tratar dos dentes. Não se pode também ignorar o fato de que as 96 gestantes, ainda que com essa representação, reconheceram a importância de tratar dos dentes. As gestantes lembraram ainda que, apesar de reconhecerem a importância de tratar dos dentes, o que é difícil é os dentistas: caro e no posto, muito enrolado . Uma reivindicação muito justa, que evidencia o caráter extremamente privado e excludente da prática odontológica. Com o objetivo de identificar os problemas de saúde bucal mais enfrentados pelas gestantes, perguntou-se a elas se achavam que a gestação trazia algum problema para seus dentes. Como a literatura existente (Sonis, 1985 e Oliveira, 1990, entre outros) na área tem identificado tais problemas, optamos por oferecer às entrevistadas as seguintes alternativas: não traz problemas; sangra a gengiva; dá cárie; enfraquece os dentes, dá mau-hálito; caem obturações (problemas estes identificados como mais comuns nos trabalhos que nos antecedem); e outros, onde foi possível identificar problemas não considerados nas alternativas, além do que puderam ser identificados mais de um problema por cada gestante. A tabela 15 , então, revela os dados encontrados a esse respeito: 58, 33% das gestantes parece estar enfrentando, ou, pelo menos, sendo capaz de identificar problemas bucais, enquanto os outros 41,67% não identificaram problemas bucais em virtude da gestação.

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dor . Essas mulheres o <strong>de</strong>monstraram claramente ao dizerem frases como dor <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>nte é terrível para justificar a importância <strong>de</strong> tratar dos <strong>de</strong>ntes. Não se po<strong>de</strong> também<br />

ignorar o fato <strong>de</strong> que as 96 gestantes, ainda que com essa representação,<br />

reconheceram a importância <strong>de</strong> tratar dos <strong>de</strong>ntes. As gestantes lembraram ainda que,<br />

apesar <strong>de</strong> reconhecerem a importância <strong>de</strong> tratar dos <strong>de</strong>ntes, o que é difícil é os<br />

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Com o objetivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> bucal mais enfrentados<br />

pelas gestantes, perguntou-se a elas se achavam que a gestação trazia algum<br />

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entre outros) na área tem i<strong>de</strong>ntificado tais problemas, optamos por oferecer às<br />

entrevistadas as seguintes alternativas: não traz problemas; sangra a gengiva; dá cárie;<br />

enfraquece os <strong>de</strong>ntes, dá mau-hálito; caem obturações (problemas estes i<strong>de</strong>ntificados<br />

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i<strong>de</strong>ntificados mais <strong>de</strong> um problema por cada gestante.<br />

A tabela 15 , então, revela os dados encontrados a esse respeito: 58, 33%<br />

das gestantes parece estar enfrentando, ou, pelo menos, sendo capaz <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar<br />

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