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Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero

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tudo bem, segundo as próprias gestantes: tudo legal , perfeito , em dia . Estas<br />

afirmações das entrevistadas reforçam que, para estas gestantes o conceito <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

bucal está também, como o <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> geral, intimamente associado à ausência <strong>de</strong><br />

dores, daí consi<strong>de</strong>rar tudo legal e perfeito. Outras gestantes justificaram sua satisfação<br />

por estarem fazendo tratamento ou por tê-lo feito recentemente. Alg<strong>uma</strong>s gestantes<br />

disseram estar satisfeitas por faltar pouca coisa para a sua saú<strong>de</strong> bucal ficar bem:<br />

tem que obturar só , . . . só um canal e mais nada , só conseguir fazer limpeza .<br />

Estas falas revelam que embora falte pouca coisa para a saú<strong>de</strong> bucal <strong>de</strong>ixá-las<br />

satisfeitas, falta. Obturar só indica a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento restaurador, o que<br />

segundo o relato das próprias gestantes, não é algo assim tão simples <strong>de</strong> se usufruir<br />

<strong>de</strong>ntro do serviço público; quando se fala em tratamento <strong>de</strong> canal isto se complica<br />

ainda mais:<br />

Tinha começado a tratar, tive que rancar um, não teve jeito, não foi<br />

possível fazer canal. (...) Não estou trabalhando, não tenho como pagar e em posto<br />

<strong>de</strong>sanima, muita fila, tem que ter muito tempo disponível, paciência.<br />

fazer o quê?!...<br />

Meu marido está 4 meses na fila <strong>de</strong> espera pro canal; não po<strong>de</strong> pagar,<br />

Tais afirmações <strong>de</strong>monstram a incapacida<strong>de</strong> dos serviços públicos em<br />

oferecer <strong>de</strong>mocraticamente atendimento à medida em que os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

bucal vão se complexificando. Apenas <strong>uma</strong> <strong>de</strong>ssas 31 gestantes satisfeitas aproximou<br />

seu discurso do saber científico odontológico ao dizer Cuido muito: escovo, fio <strong>de</strong>ntal,<br />

passo flúor . Outra resposta extremamente interessante foi a seguinte: Acho que está<br />

tudo bem, não tem nada anormal, fora os que já perdi . . . Tal discurso <strong>de</strong>monstra <strong>uma</strong><br />

forte carga <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminismo com relação ao estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>/doença da boca. E ainda<br />

hoje as pessoas continuam acreditando (pois é o que vivenciam) que, apesar <strong>de</strong> todos<br />

os avanços científicos e tecnológicos que a odontologia brasileira tem alcançado, ter<br />

cárie é um processo natural, e conseqüentemente, per<strong>de</strong>r o <strong>de</strong>nte é só o <strong>de</strong>sfecho<br />

<strong>de</strong>sse processo (Iyda, 1998). Infelizmente, enquanto a odontologia não consegue provar<br />

o contrário e nem informar e gerar saú<strong>de</strong> bucal na população, os cidadãos brasileiros<br />

continuam experimentando perdas <strong>de</strong>ntais <strong>de</strong>sastrosas. Também <strong>uma</strong> das respostas<br />

evi<strong>de</strong>ncia a crença <strong>de</strong> que a gestação é geradora <strong>de</strong> problemas bucais: Geralmente<br />

mulher grávida dá problema no <strong>de</strong>nte, eu não, graças a Deus! . Esta fala, extremamente

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