Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero

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94 Perguntei porque é preciso solucionar as dúvidas; minha mãe fala uma coisa aí lembro do que ela fala. Tenho rinite, aí perguntei sobre o remédio. A médica disse educadamente que se não fosse caso de internação, nem pensar em tomar remédio. (...) a médica é muito seca; eu estudei, tem coisas que são novas, que são mitos, mas... O fato é que durante a gestação muitas crenças e mitos afloram de todos os lados, a família, as amigas; e quase sempre, em virtude da socialização dos saberes em saúde ser uma área ainda problemática, as mulheres encontram-se entregues unicamente aos conhecimentos que constroem em sua realidade concreta. Enfatizaram a dificuldade na marcação de consultas e exames, e também no agendamento do atendimento odontológico. Também é possível notar que no C.S. Nova Bahia a maioria das gestantes entrevistadas não tem visitado o mesmo médico durante os exames pré-natais; tal fato provavelmente se relaciona à falta de regularidade nas visitas e a dificuldade de marcação nas consultas , em virtude de se tratar de um centro regional que abarca um volume bem grande de consultas de livre demanda; ou ainda, a falta de identificação com o médico (tabela 13). Nas outras duas unidades este fato não acontece. Vale frisar que na maternidade Cândido Mariano, no ambulatório é cobrada uma taxa de R$ 5,00 (cinco reais), que garante o retorno. Assim, no que diz respeito a este item da saúde geral das entrevistadas e a gestação, as informações obtidas a partir dos dados da pesquisa revelaram sua importância na medida em que demonstraram através do discurso delas o quanto as alterações na saúde geral da mulher durante a gestação estão presentes e diminuem sua qualidade de vida, mas acabam tendo de ser encaradas como naturais, e praticamente inquestionáveis, por isto, restando às gestantes aceitá-las e vivenciá-las como parte da sua função biológica e da sua condição social de mulher. Ao considerarem, em sua maioria, sua saúde como excelente, muito boa, boa ou razoável, essas gestantes ratificaram o dito popular que diz que ser mãe é padecer no paraíso , já desde o período da espera da chegada do bebê. Pois mesmo sofrendo com seus padecimentos gestacionais dores, enjôos, vômitos, tonturas, alterações na pressão arterial, alergias, falta de ar, problemas na boca, etc. assumiram-nos como parte das provas necessárias rumo ao (ainda existente) troféu

95 social de mãe-maravilha, perfeita, corajosa, mãe por natureza. . . Ou seja, o único padrão considerado, aceito pela sociedade. Além desse dado, verificou-se que para a saúde geral o conceito de saúde como ausência de doença é bastante forte uma vez que as gestantes revelaram não considerar ser necessário ir ao médico quando não estão sentindo dores. Também a preocupação com a saúde do bebê está em primeiro lugar quando se visita o médico durante os exames pré-natais. Os dados também revelaram que a prática da automedicação das dores antecede a visita ao médico e as práticas anticoncepcionais ainda encontram-se envoltas numa nuvem de tabus e preconceitos, que acabam gerando a gravidez indesejada. Apesar da dificuldade na marcação de consultas, do atendimento nem sempre acontecer como se gostaria, parecem estar satisfeitas com as consultas do período pré-natal, embora tenham revelado também que a solução de suas dúvidas só acontece se perguntarem ao médico. E este perguntar ao médico, ou seja uma certa liberdade para expor suas dúvidas e ansiedades só acontece quando há uma boa relação com ele, o que fica facilitado diante da rotina de consultas com um mesmo profissional. Os dados revelaram que 56,79% das gestantes estavam realizando as consultas pré-natais com o mesmo médico, enquanto 43,21% não o estavam fazendo. Este é uma breve relato das implicações das alterações na saúde geral da mulher durante a gestação na sua condição dentro da sociedade. 3.2.4. SAÚDE/DOENÇA BUCAL CONHECIMENTO CONSTRUÍDO A desqualificação do conhecimento em saúde bucal da população é uma opção da Odontologia no Brasil. Considera-se que as pessoas não reconhecem a importância dos dentes, nem sabem nada sobre a doença cárie, não se cuidam, não fazem prevenção, não vêem, enfim, a saúde bucal como prioridade. Considera-se também o paciente, mesmo sem deixar que ele fale, um ignorante, desinformado, desqualificado: é ele que não sabe ou não quer cuidar, ele é que é pobre, desmotivado, que não dá valor aos seus dentes, que não tem cultura odontológica (Botazzo, 1994, p.48). É preciso, no entanto, ouvir essa população, pois não se deve deixar de considerar que existe sim um saber construído em seu discurso, saber este que não pode mais deixar de ser considerado. É bem verdade que não se trata de um saber

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social <strong>de</strong> mãe-maravilha, perfeita, corajosa, mãe por natureza. . . Ou seja, o único<br />

padrão consi<strong>de</strong>rado, aceito pela socieda<strong>de</strong>. Além <strong>de</strong>sse dado, verificou-se que para a<br />

saú<strong>de</strong> geral o conceito <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como ausência <strong>de</strong> doença é bastante forte <strong>uma</strong> vez<br />

que as gestantes revelaram não consi<strong>de</strong>rar ser necessário ir ao médico quando não<br />

estão sentindo dores. Também a preocupação com a saú<strong>de</strong> do bebê está em primeiro<br />

lugar quando se visita o médico durante os exames pré-natais. Os dados também<br />

revelaram que a prática da automedicação das dores antece<strong>de</strong> a visita ao médico e as<br />

práticas anticoncepcionais ainda encontram-se envoltas n<strong>uma</strong> nuvem <strong>de</strong> tabus e<br />

preconceitos, que acabam gerando a gravi<strong>de</strong>z in<strong>de</strong>sejada. Apesar da dificulda<strong>de</strong> na<br />

marcação <strong>de</strong> consultas, do atendimento nem sempre acontecer como se gostaria,<br />

parecem estar satisfeitas com as consultas do período pré-natal, embora tenham<br />

revelado também que a solução <strong>de</strong> suas dúvidas só acontece se perguntarem ao<br />

médico. E este perguntar ao médico, ou seja <strong>uma</strong> certa liberda<strong>de</strong> para expor suas<br />

dúvidas e ansieda<strong>de</strong>s só acontece quando há <strong>uma</strong> boa relação com ele, o que fica<br />

facilitado diante da rotina <strong>de</strong> consultas com um mesmo profissional. Os dados<br />

revelaram que 56,79% das gestantes estavam realizando as consultas pré-natais com<br />

o mesmo médico, enquanto 43,21% não o estavam fazendo. Este é <strong>uma</strong> breve relato<br />

das implicações das alterações na saú<strong>de</strong> geral da mulher durante a gestação na sua<br />

condição <strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong>.<br />

3.2.4. SAÚDE/DOENÇA BUCAL CONHECIMENTO CONSTRUÍDO<br />

A <strong>de</strong>squalificação do conhecimento em saú<strong>de</strong> bucal da população é <strong>uma</strong><br />

opção da Odontologia no Brasil. Consi<strong>de</strong>ra-se que as pessoas não reconhecem a<br />

importância dos <strong>de</strong>ntes, nem sabem nada sobre a doença cárie, não se cuidam, não<br />

fazem prevenção, não vêem, enfim, a saú<strong>de</strong> bucal como priorida<strong>de</strong>. Consi<strong>de</strong>ra-se<br />

também o paciente, mesmo sem <strong>de</strong>ixar que ele fale, um ignorante, <strong>de</strong>sinformado,<br />

<strong>de</strong>squalificado: é ele que não sabe ou não quer cuidar, ele é que é pobre, <strong>de</strong>smotivado,<br />

que não dá valor aos seus <strong>de</strong>ntes, que não tem cultura odontológica (Botazzo, 1994,<br />

p.48).<br />

É preciso, no entanto, ouvir essa população, pois não se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rar que existe sim um saber construído em seu discurso, saber este que não<br />

po<strong>de</strong> mais <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado. É bem verda<strong>de</strong> que não se trata <strong>de</strong> um saber

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