Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero
90 da existência dos serviços de saúde por causa da gestação, tanto pelos problemas que enfrenta quanto pela preocupação com o bebê. Gravidez é bom só no meio, porque no começo e no final é horrível, insuportável , disse uma delas para expressar toda a diversidade de mudanças incômodas por que passa a mulher neste período. Interessante também ter ouvido de uma delas que o médico pediu repouso mas, como ela mesma disse, Não dá, menina... Dona-de-casa não consegue . Nesta fala verifica-se como a situação ocupada pela mulher dentro da sociedade, ou seja seu papel de dona-de-casa perfeita e infalível a impede mesmo de cumprir ordens médicas, pois o repouso não pode fazer parte do vocabulário da rainha do lar . Viu-se a importância também em considerar o número de visitas feitas pelas gestantes ao pré-natal e se as visitas foram realizadas com o mesmo médico. Segundo o manual de Assistência Pré-Natal do Ministério da Saúde (Brasil, 1999), o calendário de consultas para uma gestante sem fatores de risco detectados deve conter, no mínimo duas consultas médicas, sendo uma no início do pré-natal e outra entre a 29ª e a 32ª semana de gestação. Campanha feita pelo mesmo ministério preconiza como ideal pelo menos seis consultas, devendo haver um intervalo de 4 semanas entre elas, e após 32 semanas de gestação, a mulher deve ser acompanhada semanalmente a fim de que se controle possíveis alterações na pressão arterial, presença de edemas, movimentos do feto e batimentos cárdio-fetais. Com relação à visita ao mesmo médico, sabe-se que esta é uma dificuldade de quem depende do serviço público, em virtude da situação geralmente crítica na marcação de consultas; todavia, sabe-se também que na relação médico-gestante faz-se necessário uma troca, para que se estabeleça uma relação de respeito e confiança e um bom relacionamento; o obstetra deve estar disponível para a dissolução de dúvidas e preocupado em acompanhar a saúde da mulher e o desenvolvimento do bebê (Penna, 1998). A visita ao pré-natal por estas mulheres está associada em primeiríssimo lugar à saúde do bebê. As dez gestantes visitadas em suas residências disseram que vão ao pré-natal por causa da saúde do bebê, sendo que seis delas disseram que também vão pela própria saúde. Mais uma vez se evidencia a tradição de que mais importante que tudo para a mulher é e deve ser o filho, e que o esquecer-se de si mesma é algo perfeitamente natural. Uma das entrevistadas inclusive revelou que até
91 hoje convive com a culpa de um bebê seu que nasceu morto e que muitas amigas adolescentes grávidas não se cuidam e dizem pra que ficar indo ao médico? . Fala esta que também traz à tona a crença de que a visita ao médico só deve acontecer mesmo quando já não se consegue resolver as dores sozinho. A tabela 12 apresenta os dados referentes ao número de visitas feitas ao pré- natal pelas entrevistadas, sendo considerada também a do dia da entrevista. Tabela 12. Número de visitas ao pré-natal, incluindo a do dia da entrevista, Campo Grande-MS, 2000. Nº DE VISITAS AO C.S. U.B.S. MAT. TOTAL PRÉ-NATAL NOVA 26 DE CÂNDIDO BAHIA AGOSTO MARIANO N % uma a duas visitas 6 8 11 25 26,04 três a quatro visitas 9 5 8 22 22,92 cinco a seis visitas 4 4 14 22 22,92 sete a oito vistas 7 5 9 21 21,85 nove a dez vistas 2 2 2,08 mais de dez 3 3 3,13 não sabe 1 1 1,04 TOTAL 26 25 45 96 100 Assim, conforme pode ser visto nos dados expostos acima ( tabela 12), mais da metade das entrevistadas fez até seis visitas ao pré-natal, número preconizado como mínimo ideal pelo Ministério da Saúde. É bem verdade que a análise não pode ser feita assim de maneira tão simplista; seria necessário comparar período de gestação e número de visitas , mas este não é um dos objetivos desta pesquisa. Mesmo assim, é possível observar que as visitas ao médico durante o pré-natal ainda estão abaixo do esperado, e para muitas gestantes, elas só devem acontecer se houver problemas: não se tem a compreensão (porque os serviços de saúde muitas vezes não conseguem se
- Page 56 and 57: 40 problemas bucais em bebês, aí
- Page 58 and 59: 42 brasileira: as condições em qu
- Page 60 and 61: 44 odontológico não é prioridade
- Page 62 and 63: 46 1974; Cozzupoli, 1981; Luz, 1990
- Page 64 and 65: 48 cariados não são característi
- Page 66 and 67: 50 1993; Silveira, 1998). O que é
- Page 68 and 69: 52 esfíncteres até a outras quest
- Page 70 and 71: cada homem e de cada mulher brasile
- Page 72 and 73: 56 próprio do espaço privado, tem
- Page 74 and 75: E ainda no que concerne a essa vuln
- Page 76 and 77: 60 serviços, o percentual do sexo
- Page 78 and 79: 62 sido estatisticamente significan
- Page 80 and 81: 64 problemas, o que pode ser dado p
- Page 82 and 83: 66 Assim, as mulheres continuam con
- Page 84 and 85: 68 sociedade. Desse modo, a abordag
- Page 86 and 87: 70 e os segundos como dados subjeti
- Page 88 and 89: 72 pesquisadas, as gestantes o faze
- Page 90 and 91: Tabela 1. Distribuição das entrev
- Page 92 and 93: Tabela 2. Número de gestantes entr
- Page 94 and 95: 78 A escolaridade também é dado i
- Page 96 and 97: 80 ocupação, encontram-se desempr
- Page 98 and 99: 82 central de Campo Grande, acaba r
- Page 100 and 101: 3.2.2. SAÚDE GERAL E GESTAÇÃO -
- Page 102 and 103: 86 tendo, na maioria das vezes, opo
- Page 104 and 105: 88 O discurso das gestantes, nas en
- Page 108 and 109: 92 fazer entender) de que o pré-na
- Page 110 and 111: 94 Perguntei porque é preciso solu
- Page 112 and 113: 96 sustentado pela cientificidade,
- Page 114 and 115: 98 útil, revela a representação
- Page 116 and 117: 100 porque são considerados normai
- Page 118 and 119: 102 (...) para além da manducaçã
- Page 120 and 121: 104 Tabela 15. Gestação traz ou n
- Page 122 and 123: 106 Tal pergunta foi feita com obje
- Page 124 and 125: 108 são inseparáveis, resta a est
- Page 126 and 127: 110 Outras categorias citadas encon
- Page 128 and 129: 112 gestantes pela perda de cálcio
- Page 130 and 131: Tabela 21 . Grávida pode ir sem pr
- Page 132 and 133: 116 para lembrar que, durante o pr
- Page 134 and 135: 118 (Maldonado, 1990). Deve-se tamb
- Page 136 and 137: 120 Tabela 23. Alterações na freq
- Page 138 and 139: 122 pesquisadas, apenas confirmam u
- Page 140 and 141: Tabela 25. Freqüência diária de
- Page 142 and 143: 126 A tabela 27, por sua vez demons
- Page 144 and 145: 128 cariogênica, que se deve à fa
- Page 146 and 147: Tabela 30. Problemas com enjôo ou
- Page 148 and 149: 132 escovação da noite é conside
- Page 150 and 151: 134 algodão, cotonete ou até fral
- Page 152 and 153: 136 Estes dados revelam que, embora
- Page 154 and 155: 138 Assim, através desses quatro
90<br />
da existência dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> por causa da gestação, tanto pelos problemas que<br />
enfrenta quanto pela preocupação com o bebê.<br />
Gravi<strong>de</strong>z é bom só no meio, porque no começo e no final é horrível,<br />
insuportável , disse <strong>uma</strong> <strong>de</strong>las para expressar toda a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudanças<br />
incômodas por que passa a mulher neste período. Interessante também ter ouvido <strong>de</strong><br />
<strong>uma</strong> <strong>de</strong>las que o médico pediu repouso mas, como ela mesma disse, Não dá,<br />
menina... Dona-<strong>de</strong>-casa não consegue . Nesta fala verifica-se como a situação ocupada<br />
pela mulher <strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong>, ou seja seu papel <strong>de</strong> dona-<strong>de</strong>-casa perfeita e infalível<br />
a impe<strong>de</strong> mesmo <strong>de</strong> cumprir or<strong>de</strong>ns médicas, pois o repouso não po<strong>de</strong> fazer parte do<br />
vocabulário da rainha do lar .<br />
Viu-se a importância também em consi<strong>de</strong>rar o número <strong>de</strong> visitas feitas pelas<br />
gestantes ao pré-natal e se as visitas foram realizadas com o mesmo médico. Segundo<br />
o manual <strong>de</strong> Assistência Pré-Natal do Ministério da <strong>Saú<strong>de</strong></strong> (Brasil, 1999), o calendário<br />
<strong>de</strong> consultas para <strong>uma</strong> gestante sem fatores <strong>de</strong> risco <strong>de</strong>tectados <strong>de</strong>ve conter, no<br />
mínimo duas consultas médicas, sendo <strong>uma</strong> no início do pré-natal e outra entre a 29ª<br />
e a 32ª semana <strong>de</strong> gestação. Campanha feita pelo mesmo ministério preconiza como<br />
i<strong>de</strong>al pelo menos seis consultas, <strong>de</strong>vendo haver um intervalo <strong>de</strong> 4 semanas entre elas,<br />
e após 32 semanas <strong>de</strong> gestação, a mulher <strong>de</strong>ve ser acompanhada semanalmente a fim<br />
<strong>de</strong> que se controle possíveis alterações na pressão arterial, presença <strong>de</strong> e<strong>de</strong>mas,<br />
movimentos do feto e batimentos cárdio-fetais. Com relação à visita ao mesmo médico,<br />
sabe-se que esta é <strong>uma</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do serviço público, em virtu<strong>de</strong><br />
da situação geralmente crítica na marcação <strong>de</strong> consultas; todavia, sabe-se também<br />
que na relação médico-gestante faz-se necessário <strong>uma</strong> troca, para que se estabeleça<br />
<strong>uma</strong> relação <strong>de</strong> respeito e confiança e um bom relacionamento; o obstetra <strong>de</strong>ve estar<br />
disponível para a dissolução <strong>de</strong> dúvidas e preocupado em acompanhar a saú<strong>de</strong> da<br />
mulher e o <strong>de</strong>senvolvimento do bebê (Penna, 1998).<br />
A visita ao pré-natal por estas mulheres está associada em primeiríssimo<br />
lugar à saú<strong>de</strong> do bebê. As <strong>de</strong>z gestantes visitadas em suas residências disseram que<br />
vão ao pré-natal por causa da saú<strong>de</strong> do bebê, sendo que seis <strong>de</strong>las disseram que<br />
também vão pela própria saú<strong>de</strong>. Mais <strong>uma</strong> vez se evi<strong>de</strong>ncia a tradição <strong>de</strong> que mais<br />
importante que tudo para a mulher é e <strong>de</strong>ve ser o filho, e que o esquecer-se <strong>de</strong> si<br />
mesma é algo perfeitamente natural. Uma das entrevistadas inclusive revelou que até