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Saúde Bucal de Gestantes: uma Abordagem de Gênero

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como se não fosse permitido admitir que a gravi<strong>de</strong>z traz sim <strong>de</strong>sconfortos à mulher. Daí<br />

não verbalizarem explicitamente que enfrentam problemas ao classificarem seu estado<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Entretanto, muitas dores, enjôos, vômitos, tonturas, alterações na pressão<br />

arterial, alergias, falta <strong>de</strong> ar, problemas na boca, diabetes, risco <strong>de</strong> aborto, hemorragias,<br />

foram citados pelas gestantes como os principais problemas em relação à própria<br />

saú<strong>de</strong>. Foi interessante perceber que, na fala <strong>de</strong> <strong>uma</strong> das gestantes, essas mulheres<br />

muitas vezes não encontram nos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar, nem <strong>de</strong><br />

esclarecer suas dúvidas e ansieda<strong>de</strong>s: os médicos não aten<strong>de</strong>m do jeito que gostaria<br />

; não explicam direito as coisas no posto . Essas falas expressam as <strong>de</strong>ficiências na<br />

relação médico-paciente, tão <strong>de</strong>sgastada <strong>de</strong>ntro do serviço público, sempre com<br />

prejuízo para o paciente; a não atenção às necessida<strong>de</strong>s reais da paciente que está<br />

buscando os serviços. Conforme foi possível observar no diário <strong>de</strong> campo <strong>uma</strong> das<br />

entrevistadas passou mal antes do final da entrevista, tendo que ficar no repouso da<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se encontrava. Mas, mesmo diante <strong>de</strong> tantas alterações na<br />

saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas mulheres diante da gravi<strong>de</strong>z, um maior percentual consi<strong>de</strong>rou boa a sua<br />

saú<strong>de</strong>. E <strong>uma</strong> resposta resume tal postura: fora as coisas normais, <strong>de</strong> praxe, que a<br />

gestante tem . Na verda<strong>de</strong>, através da sua fala po<strong>de</strong>-se constatar que as mulheres<br />

acabam por acreditar que dores e outros problemas são inerentes à gestação, e<br />

aceitam como natural, parte da maternida<strong>de</strong>, tal situação. Essa aceitação não é por<br />

acaso, mas é imanente à condição feminina. Sob a perspectiva das relações <strong>de</strong> gênero,<br />

tal fato passa a ser compreensível na medida em que a mulher é biológica e<br />

socialmente reduzida à condição <strong>de</strong> reprodutora, e tudo o que a gestação traz consigo<br />

os incômodos, as dores, as mudanças <strong>de</strong>ve ser encarado também como sendo<br />

fisiológico, natural, normal.<br />

Também é possível i<strong>de</strong>ntificar que entre as dores e incômodos expressos<br />

pelas gestantes não estão apenas as manifestações físicas, mas também problemas<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m emocional e social: marido <strong>de</strong>sempregado, por exemplo, gerou em <strong>uma</strong> das<br />

gestantes, como ela própria disse, nervosismo e muitas dores, além da falta <strong>de</strong> sono<br />

durante a noite .

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