raimundo nonato queiroz de leão - Governo do Estado do Pará
raimundo nonato queiroz de leão - Governo do Estado do Pará
raimundo nonato queiroz de leão - Governo do Estado do Pará
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~<br />
RAIMUNDO NONATO QUEIROZ DE LEÃO<br />
Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r.<br />
CLÉA NAZARÉ CARNEIRO BICHARA<br />
ESTHER CASTELLO BRANCO MELLO MIRANDA<br />
IRNA CARLA DO ROSÁRIO DE SOUZA CARNEIRO<br />
MARIA REGINA FERNANDES DE OLIVEIRA<br />
NAGIB PONTEIRA ABDON<br />
PEDRO FERNAN DO DA COSTA VASCONCELOS<br />
BIBIANE MONTEIRO DA SILVA<br />
ANDRÉA LUZIA VAZ PAES<br />
LOURIVAL RODRIGUES MARSOLA<br />
Subcoor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res<br />
Editora CEjUP<br />
Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Pará</strong><br />
Instituto Evandro Chagas<br />
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EDn'()MAI1UADA<br />
Editores: Gengis Freire e Ana Rosa Cal Freire<br />
Capa: Etheval<strong>do</strong> Cavalcante<br />
Revisão: Luiz Branco<br />
Editoração Eletrônica: Andréa Pinheiro<br />
índice elabora<strong>do</strong> por: Maria Lucia Almeida -CRB-2/4<br />
Direitos reserva<strong>do</strong>s<br />
Composto e impresso na Graficentro, Gráfica e Editora Ltda.<br />
-Rua Tira<strong>de</strong>ntes, 392 -<br />
para a Editora Cejup Ltda.<br />
<strong>Pará</strong><br />
Trav. Rui Barbosa, 726<br />
66053-260 -Belém -PA<br />
Fone: (091) 225-0355/Fax: 241-3184<br />
São Paulo<br />
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01404-000 -São Paulo -SP<br />
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Da<strong>do</strong>s Internacionais <strong>de</strong> Catalogação na Publicação (CIP)<br />
(Câmara Brasileira <strong>do</strong> Livro, SP, Brasil)<br />
Doenças Infecciosas e Parasitárias: Enfoque Amazônico / Raimun<strong>do</strong><br />
Nonato Queiroz <strong>de</strong> Leão {coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>i}, -Belém: Cejup: UEPA:<br />
Instituto EvandroChagas, 1997,<br />
,886 p.<br />
Vários autores.<br />
ISBN 85-338-0373-7<br />
1. Doenças Parasitárias 2. Doenças Transmissíveis I Leão,<br />
Raimun<strong>do</strong> Nonato Queiroz <strong>de</strong>.<br />
95-5193 CDD-616.96<br />
NLM-WC 695<br />
-<br />
índices para catálogo sistemático:<br />
Doenças Infecciosas e Parasitárias: Medicina 616-96
CONÇEITO<br />
É uma <strong>do</strong>ença bacteriana intestinal<br />
aguda, exclusiva <strong>de</strong> seres humanos e <strong>de</strong> veiculação<br />
pre<strong>do</strong>minantemente hídrica, causada<br />
pela enterotoxina <strong>do</strong> V/brio cho/erae 01.<br />
Po<strong>de</strong> apresentar-se na forma endêmica e epidêmica<br />
e, em sua forma clássica, caracterizase<br />
clinicamente por diarréia aquosa, profusa<br />
e incoercível, com vômitos ocasionais, levan<strong>do</strong>,<br />
conseqüentemente, a uma rápida <strong>de</strong>sidratação<br />
isotônica que, se não combatida a<br />
tempo, po<strong>de</strong> resultar em aci<strong>do</strong>se grave,<br />
colapso circulatório, coma e morte. Após o<br />
reconhecimento <strong>do</strong> ~ cho/erae 0139 como<br />
agente infeccioso <strong>de</strong> uma epi<strong>de</strong>mia que<br />
irrompeu no Oriente Médio em outubro <strong>de</strong><br />
1992, já é aceita a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> cólera como<br />
sen<strong>do</strong> também causada por este sorogrupo <strong>de</strong><br />
vibrião colérico, já que o mesmo apresenta<br />
características clínicas e potencial epidêmico<br />
semelhantes ao <strong>do</strong> ~ cho/erae 01.<br />
HISTÓRICO<br />
Há controvérsia a respeito <strong>do</strong> termo<br />
cólera, achan<strong>do</strong> alguns que se originou <strong>do</strong><br />
hebraico cho/i-ra, que quer dizer "<strong>do</strong>ença<br />
.Zéa Constante Lins-Lainson .Nc7glD Ponteira Ab<strong>do</strong>n<br />
.Cclr117em Ritc7 Bicl7ara Pardauil .AI7dréa Luzia Vaz Paes<br />
.Benedito Hélio da Silva Queiroz<br />
maligna", e outros, que veio <strong>do</strong> grego, signi-<br />
fican<strong>do</strong>, ao que parece, "fluxo <strong>de</strong> bile". Ná<br />
índia, é conhecida como "mari", que se tra-<br />
duz por "<strong>do</strong>ença mortal".<br />
a quadro clínico da <strong>do</strong>ença foi <strong>de</strong>scri-<br />
to com precisão na antigüida<strong>de</strong> por<br />
Hipócrates (século IV a.C.), Galeno (século II<br />
a.C.), Areteo (século 11) e Sy<strong>de</strong>nham (século<br />
XVII), entre outros, mas nenhum <strong>de</strong>les fez<br />
referência ao potencial epidêmico da enfer-<br />
mida<strong>de</strong>. Apesar <strong>de</strong> existirem evidências que<br />
indicam a ocorrência <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias na índia<br />
em tempos muito remotos, e <strong>de</strong>sse aspecto ter<br />
si<strong>do</strong> menciona<strong>do</strong>, já no século 11, por médicos<br />
chineses da dinastia Ham, a primeira<br />
<strong>do</strong>cumentação exata sobre uma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong><br />
cólera <strong>de</strong>ve-se a Vasco da Gama, que a apresentou<br />
em Malabar, em 1498. É possível asse-<br />
gurar-se, contu<strong>do</strong>, que a cólera epidêmica<br />
não se introduziu na Europa antes <strong>do</strong> século<br />
XIX e que a primeira gran<strong>de</strong> pan<strong>de</strong>mia origi-<br />
nou-se em Jessore, na índia, em 1817. A par-<br />
tir <strong>de</strong> então, o biotipo clássico <strong>do</strong> vibrião<br />
colérico rompeu seu reduto asiático primitivo<br />
e expandiu-se, acompanhan<strong>do</strong> <strong>de</strong>slocamen-<br />
tos civis (navega<strong>do</strong>res, peregrinos) e militares<br />
(armada inglesa, tropas russas e <strong>de</strong><br />
Napo<strong>leão</strong>), geran<strong>do</strong> seis pan<strong>de</strong>mias, cinco
450 D9~ÇAS INFECCIOSAS E PARASITARIAS Enfoque AmazÔnico<br />
das quais ocorridas no século passa<strong>do</strong>, com<br />
trágicas conseqüências, e uma já no início<br />
<strong>de</strong>ste século.<br />
Entre 1849 e 1854, o médico john<br />
Snow, em Londres, realizou observações e<br />
estu<strong>do</strong>s, até hoje ainda não supera<strong>do</strong>s, que o<br />
levaram a concluir ser a cólera transmitida<br />
através da água. Não obstante, somente por<br />
ocasião <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias ocorridas no Egito, em<br />
1883, e na índia, em 1884, é que Robert Koch<br />
veio a <strong>de</strong>scobrir o agente causal da <strong>do</strong>ença,<br />
então <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> <strong>de</strong> Kommabazi//us (bacilo<br />
em forma <strong>de</strong> vírgula).<br />
A primeira notícia <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong><br />
cólera nas Américas data <strong>de</strong> 1832, quan<strong>do</strong> se<br />
apresentou uma epi<strong>de</strong>mia em Quebec e, mais<br />
tar<strong>de</strong>, em Nova York. Em 1885, no <strong>de</strong>correr<br />
da 3~ pan<strong>de</strong>mia, ela entrou pela primeira vez<br />
no Brasil, através <strong>de</strong> Belém <strong>do</strong> <strong>Pará</strong>, trazida<br />
pela galera "Defensor", proce<strong>de</strong>nte da cida<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> Portoj Portugal. Da capital, a <strong>do</strong>ença partiu<br />
em célere marcha, atingin<strong>do</strong> várias cida<strong>de</strong>s,<br />
vilas e povoa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> <strong>Pará</strong>,<br />
c°n:'° bem <strong>de</strong>screve o eminente historia<strong>do</strong>r<br />
paraense Arthur Vianna em sua obra As<br />
Epi<strong>de</strong>mias <strong>do</strong> <strong>Pará</strong> (1908, reeditada em 1975).<br />
Em Cametá, provocou uma verda<strong>de</strong>ira hecatombe,<br />
que acabou por vitimar também o<br />
então presi<strong>de</strong>nte da Província, Ângelo<br />
Custódio, que ali se contaminou quan<strong>do</strong>, com<br />
sua presença, tentava acalmar a aflição <strong>do</strong><br />
povo cametaense, vin<strong>do</strong> a apresentar os primeiros<br />
sintomas da <strong>do</strong>ença e a fa.lecer a bor<strong>do</strong><br />
da embarcação que o trazia <strong>de</strong> volta a Belém.<br />
A cólera chegou posteriormente à Bahia e ao<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro e, das três Províncias inicialmente<br />
acometidas, irradiou-se para to<strong>do</strong>s os<br />
quadrantes <strong>do</strong> território nacional, vin<strong>do</strong> a<br />
atingir o Exército brasileiro durante a guerra<br />
contra o Paraguai, fato <strong>de</strong>scrito em páginas<br />
pungentes por Taunay na retirada da Laguna.<br />
As Províncias inicialmente poupadas, como<br />
Ceará e Piauí, acabaram sen<strong>do</strong> também<br />
alcançadas, já no fim daquela pan<strong>de</strong>mia, em<br />
1862. Em 1893, por ocasião da 5~ pan<strong>de</strong>mia,<br />
a cólera retornou ao Brasil, <strong>de</strong>sta vez porém<br />
com pouca expansão e pequena gravida<strong>de</strong>,<br />
atingin<strong>do</strong> São Paulo e o Vale <strong>do</strong> Paraíba, com<br />
extensão ao Rio <strong>de</strong> janeiro.<br />
Em 1906, Gottschlich <strong>de</strong>screveu um<br />
novo biotipo <strong>de</strong> vibrião colérico <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> EI T or, por ter si<strong>do</strong> isola<strong>do</strong> <strong>de</strong> peregrinos<br />
provenientes da Meca, que se encontravam<br />
sob quarentena na Estação <strong>de</strong> EI T or, no Egito.<br />
A correlação entre esse biotipo <strong>de</strong> ~ cholerae<br />
e epi<strong>de</strong>mias graves só veio porém a ser feita<br />
em 1962, quan<strong>do</strong> a Organização Mundial <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> (OMS) o aceitou <strong>de</strong>finitivamente como<br />
agente responsável pela epi<strong>de</strong>mia que eclodiu<br />
na Ilha <strong>de</strong> Sulawesi (Célebes), dan<strong>do</strong> início à<br />
7~ e atual pan<strong>de</strong>mia. Das ilhas Célebes, o biotipo<br />
FI Tor<strong>de</strong> ~ cholerae01 expandiu-se pela<br />
Ásia, Oriente Médio, costa oriental <strong>do</strong><br />
Mediterrâneo, parte asiática e européia da ex-<br />
União Soviética. Em 1970, chegou aos países<br />
<strong>do</strong> norte e <strong>do</strong> oeste <strong>do</strong> continente africano,<br />
trazen<strong>do</strong> preocupação às autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> internacionais. Temia-se, inclusive, que<br />
viesse a penetrar na América <strong>do</strong> Sul através <strong>do</strong><br />
Brasil, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às escalas feitas, na costa<br />
noroeste da África, por aeronaves que faziam<br />
a rota entre cida<strong>de</strong>s européias e Recife.<br />
Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> ser o laboratório <strong>de</strong> primordial<br />
importância para <strong>de</strong>tectar a entrada <strong>de</strong> uma<br />
<strong>de</strong>terminada <strong>do</strong>ença em áreas antes livres<br />
<strong>de</strong>la, em 1971 a OPAS/OMS e o Ministério da<br />
Saú<strong>de</strong> investiram no treinamento <strong>de</strong> pessoas<br />
capacitadas a realizar, <strong>de</strong>ntro da re<strong>de</strong> nacional<strong>de</strong><br />
laboratórios <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, o diagnóstico<br />
laboratorial da cólera, seguin<strong>do</strong> técnicas<br />
padronizadas pelo 'Laboratório Central <strong>de</strong><br />
Controle <strong>de</strong> Doenças (CDC), Atlanta, EUA. A<br />
vigilância laboratorial da cólera passou então<br />
a ser realizada em to<strong>do</strong> o território brasileiro,<br />
fican<strong>do</strong> o Instituto Evandro Chagas (IEC), através<br />
<strong>de</strong> sua Seção <strong>de</strong> Bacteriologia, seu responsável<br />
no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Pará</strong>. Entre 1970 a 1976, o<br />
continente africano foi quase totalmente invadi<strong>do</strong><br />
e, em 1973, foram registra<strong>do</strong>s surtos na<br />
Itália e uma epi<strong>de</strong>mia em Portugal. Isto veio a<br />
aumentar ainda mais o risco da reintrodução<br />
da <strong>do</strong>ença no Brasil, uma vez que, nessa<br />
época, era gran<strong>de</strong> o número <strong>de</strong> portugueses e<br />
angolanos que buscavam o nosso país, fugin<strong>do</strong><br />
da revolução em Angola, alguns <strong>do</strong>s quais<br />
vin<strong>do</strong> para trabalhar no Projeto Jari e<br />
Agropecuária, em Almeirim, PA. O Ministério<br />
da Saú<strong>de</strong> criou então, através da Portaria
284/B5B <strong>de</strong> 03/10/1973, a Comissão Nacional<br />
<strong>de</strong> Prevenção da Cólera, que se <strong>de</strong>s<strong>do</strong>brou em<br />
17 comissões estaduais e em diversas municipais.<br />
Em 1974, o IEC iniciou a monitorização<br />
ambiental (águas <strong>de</strong> esgoto) em Belém, com<br />
resulta<strong>do</strong>s publica<strong>do</strong>s por Lins (1977) e, em<br />
1975, passou a exercer, com o auxílio da<br />
então Capitania <strong>do</strong>s Portos, Aeroportos e<br />
Fronteiras, o controle bacteriológico <strong>de</strong> imigrantes<br />
proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> áreas afetadas pela<br />
cólera. Com o <strong>de</strong>clínio da pan<strong>de</strong>mia no fim<br />
da década <strong>de</strong> 70, observou-se um relaxamento<br />
mundial na vigilância epi<strong>de</strong>miológica da<br />
cólera, até que, em 1989, a <strong>do</strong>ença passou a<br />
apresentar um recru<strong>de</strong>scimento significativo<br />
na Ásia e na África e, em janeiro <strong>de</strong> 1991,<br />
alcançou finalmente a América <strong>do</strong> 5ul por via<br />
marítima e através <strong>do</strong> Peru.<br />
ETIOLOGIA<br />
-<br />
Sorogrupos 01 e 0139 <strong>de</strong> Vibrio cholerae,<br />
agente bacteriano Gram-negativo, com<br />
característica morfológica <strong>de</strong> bastonete, reto<br />
ou ligeiramente encurva<strong>do</strong> em forma <strong>de</strong> vírgula<br />
(vibrião), com 2 a 4 ~m <strong>de</strong> comprimento,<br />
e que se locomove ativamente por meio<br />
<strong>de</strong> um flagelo polar monotríquio.<br />
São hoje conheci<strong>do</strong>s 155 grupos sorológicos<br />
(caracterização das frações <strong>do</strong> antígeno<br />
somático "O") no sistema i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> por<br />
Sakazaki e Shimada para a espécie \/: cholerae.<br />
No entanto, excetuan<strong>do</strong>-se o sorogrupo<br />
01 e, atualmente, o 0139, to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>mais<br />
não evi<strong>de</strong>nciaram, até então, uma projeção<br />
epidêmica, apresentan<strong>do</strong>-se apenas como<br />
agentes <strong>de</strong> casos isola<strong>do</strong>s ou <strong>de</strong> pequenos<br />
surtos circunscritos <strong>de</strong> diarréia. Distinguemse,<br />
no sorogrupo 01, três frações antigênicas,<br />
<strong>de</strong>nominadas A, B e C, cuja distribuição permite<br />
dividir este sorogrupo nos sorotipos<br />
Ogawa (frações A e B), Inaba (frações A e C)<br />
e Hikogima (A, B e C).<br />
Dtferenças observadas em certas características<br />
bioquímicas e biológicas apontadas<br />
na tabela 1 .28, levaram ao reconhecimento<br />
<strong>de</strong> <strong>do</strong>is biotipos ou biovarieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> \/: cholerae<br />
01:0 clássico (R. Koch, 1884) e o EI ror<br />
(Gottschlich, 1906).<br />
Tabela 1.28 -Diferenciação <strong>do</strong>s biotipos <strong>de</strong> \I: cholerae<br />
A sobrevivência <strong>do</strong> vibrião colérico é<br />
facilmente afetada por certos fatores ambientais<br />
<strong>de</strong>sfavoráveis, como a exposição à luz<br />
solar (raios ultravioleta), <strong>de</strong>ssecação, aci<strong>de</strong>z<br />
(o pH ma1S favorável situa-se na faixa <strong>de</strong> 7,0<br />
a 9,0, com limites <strong>de</strong> tolerância <strong>de</strong> 5,5 a 10,0)<br />
e competição com outros microorganismos<br />
(nas águas que contêm gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
outras bactérias, o tempo <strong>de</strong> sobrevivência<br />
<strong>do</strong>s vibriões é, <strong>de</strong> aproximadamente, 1 a 2<br />
dias, enquanto que, na água estéril, filtrada<br />
ou esterilizada em autoclave, oscila entre~ 17<br />
dias a temperatura ambiente e 42 dias a 5 a<br />
10QC. O biotipo EI Tor apresenta, porém,<br />
maior resistência às condições externas<br />
adversas, sobreviven<strong>do</strong> por mais tempo que o<br />
biotipo clássico no meio ambiente, além <strong>de</strong><br />
ser menos patogênico que este último, causan<strong>do</strong>,<br />
com muito mais freqüência, infecções<br />
assintomáticas e leves.<br />
DISTRIBUiÇÃO<br />
EPIDEMIOLOGIA<br />
É universal, existin<strong>do</strong> sob a forma endêmica<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> épocas remotas, nas planícies <strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>lta <strong>do</strong>s rios Ganges e Bramaputra, na pàrie<br />
oriental da índia e em Bangla<strong>de</strong>sh. Dessas<br />
zonasendêmicas, o bacilo tem-se propaga<strong>do</strong><br />
a várias regiões <strong>do</strong> globo, causan<strong>do</strong> epi<strong>de</strong>-
452 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS -Enfoque Amazônico<br />
mijas e pan<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> variável.<br />
Antes <strong>de</strong> 1900 ocorreram 5 pan<strong>de</strong>mias<br />
<strong>de</strong> cólera, todas presumivelmente ocasionadas<br />
pelo biotipo clássico <strong>de</strong> Vibrio cho/erae<br />
01. A primeira (1817-1823) esten<strong>de</strong>u-se <strong>do</strong><br />
vale <strong>do</strong> rio Ganges a outras regiões da Ásia e<br />
da África. Na segunda (1826-1837), terceira<br />
(1846-1862), quarta (1864-1875) e quinta<br />
(1887 -1896), a disseminação da cólera acompanhou<br />
as rotas <strong>de</strong> comércio atingin<strong>do</strong>, além<br />
da Ásia e da África, a Europa, a América <strong>do</strong><br />
Norte e a América <strong>do</strong> Sul. A sexta pan<strong>de</strong>mia<br />
registrou-se no início <strong>de</strong>ste século (1902-<br />
1923), com epi<strong>de</strong>mias severas na Ásia e surtos<br />
limita<strong>do</strong>s na África e na Europa, sem atingir,<br />
contu<strong>do</strong>, o continente americano. Da mesma<br />
forma como ocorreu com as 5 primeiras, presume-se<br />
que a sexta pan<strong>de</strong>mia tenha si<strong>do</strong> causada<br />
pelo biotipo clássico <strong>do</strong> ~ cho/erae 01.<br />
A sétima pan<strong>de</strong>mia, ainda em curso,<br />
iniciou-se em 1961, a partir <strong>de</strong> um foco endêmico<br />
na In<strong>do</strong>nésia, espalhan<strong>do</strong>-se por quase<br />
toda a Ásia, região oriental da Europa, África<br />
e Península Ibérica, atingin<strong>do</strong> a Itália em<br />
1973 e produzin<strong>do</strong> pequenos surtos no Japão<br />
em 1977 e 1978. Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, foi<br />
notifica<strong>do</strong> um caso <strong>de</strong> origem não i<strong>de</strong>ntificada<br />
no Texas em 1973, <strong>de</strong>tectadas infecções<br />
esporádicas na Louisiana (8 casos e 3 infecções<br />
assintomáticas) em 1978 e registra<strong>do</strong> um<br />
surto que afetou 16 pessoas no Texas em<br />
1981. Casos esporádicos importa<strong>do</strong>s têm<br />
apareci<strong>do</strong> em viajantes que regressaram à<br />
Europa Oci<strong>de</strong>ntal, ao Canadá, aos Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s e à Austrália, proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> áreas<br />
com circulação <strong>de</strong> ~ cho/erae.<br />
Na América Latina, a entrada <strong>de</strong>sta sétima<br />
pan<strong>de</strong>mia ocorreu através <strong>do</strong> litoral<br />
peruano, entre os dias 23 e 29 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong><br />
1991. Expandiu-se <strong>de</strong> forma explosiva ao<br />
largo <strong>de</strong>sse litoral, esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se, posteriormente,<br />
pelas regiões da Cordilheira <strong>do</strong>s<br />
An<strong>de</strong>s e da Amazônia peruana para atingir<br />
posteriormente o Brasil e outros países sulamericanos.<br />
No Brasil, os primeiros casos <strong>de</strong> cólera<br />
foram <strong>de</strong>tecta<strong>do</strong>s em abri) <strong>de</strong> 1991, no município<br />
<strong>de</strong> Benjamim Constant, Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
Amazonas, fronteira com o Peru. A epi<strong>de</strong>mia<br />
alastrou-se progressivamente pela região<br />
Norte até o <strong>Pará</strong> e o Amapá, seguin<strong>do</strong> o curso<br />
<strong>do</strong> rio Solimões/Amazonas e seus afluentes,<br />
principais vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> pessoas da<br />
região. No final <strong>de</strong> 1991, atingiu o município<br />
<strong>de</strong> São Luiz <strong>do</strong> Maranhão. Em fevereiro <strong>de</strong><br />
1992 foi <strong>de</strong>tectada no sertão da Paraíba e,<br />
logo a seguir, no agreste pernambucano, acaban<strong>do</strong><br />
por atingir to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
Nor<strong>de</strong>ste até o fim <strong>de</strong> 1992, ano em que foi<br />
também registra<strong>do</strong> um caso autóctone no Rio<br />
<strong>de</strong> janeiro e outro no Espírito Santo. Em 1993,<br />
observou-se o recru<strong>de</strong>scimento da <strong>do</strong>ença em<br />
alguns Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste e seu avanço para<br />
as regiões Su<strong>de</strong>ste e Sul, com <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong><br />
casos em Minas Gerais, Espírito Santo, Rio <strong>de</strong><br />
janeiro, São Paulo e Paraná. Em 1994, ela<br />
continuou em franca expansão, <strong>de</strong> maneira tal<br />
que, <strong>do</strong> início <strong>do</strong> ano até a primeira quinzena<br />
<strong>do</strong> mês <strong>de</strong> abril, havia si<strong>do</strong> registra<strong>do</strong> um<br />
número <strong>de</strong> casos correspon<strong>de</strong>nte a 50% <strong>do</strong><br />
total notifica<strong>do</strong> no ano anterior. Observou-se,<br />
nesse ano, um recru<strong>de</strong>scimento em to<strong>do</strong>s os<br />
Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste, particularmente no<br />
Ceará, Paraíba, Rio Gran<strong>de</strong> dc Norte e<br />
Alagoas, por apresentarem maiores coeficientes<br />
<strong>de</strong> incidência. As unida<strong>de</strong>s da fe<strong>de</strong>ração<br />
que, até <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1994, ainda não<br />
haviam apresenta<strong>do</strong> casos autóctones confirma<strong>do</strong>s<br />
da <strong>do</strong>ença foram Roraima, Tocantins,<br />
Mato Grosso <strong>do</strong> Sul, Goiás, Santa Catarina,<br />
Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul e o Distrito Fe<strong>de</strong>ral.<br />
Com base em da<strong>do</strong>s dó Centro <strong>de</strong><br />
Epi<strong>de</strong>miologia da Fundação Nacional <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong>, Ministério da Saú<strong>de</strong>, (1993; 1995a,<br />
\<br />
1995b, 1995c), <strong>do</strong> início da epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong><br />
cólera no país, em abril <strong>de</strong> 1991, até <strong>de</strong>zembro<br />
<strong>de</strong> 1994, foram notifica<strong>do</strong>s, na macrorregião<br />
Norte (incluin<strong>do</strong> o Maranhão), 13.943<br />
casos <strong>de</strong> cólera e 300 óbitos pela <strong>do</strong>ença<br />
(tabela 2.28). Através da tabela 3.28, po<strong>de</strong>-se<br />
observar os coeficientes anuais <strong>de</strong> incidência<br />
e <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> registra<strong>do</strong>s por Unida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ssa macrorregião.<br />
RESERVATÓRIOS E FONTES DE INFECÇÃO<br />
o único reservatório comprova<strong>do</strong> é o<br />
homem e a <strong>do</strong>ença mantém-se através <strong>do</strong>
CÓLERA<br />
Tabela 2.28 -Cólera na região Norte: número <strong>de</strong> casos e <strong>de</strong> óbitos por Unida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>rada. 991-1994<br />
Fonte: M.S. -Fundação Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> -CENEPI<br />
Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica e Controle <strong>de</strong> Agravos<br />
Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Doenças Entéricas<br />
Tabela 3.28 -Cólera na região Norte: Coeficiente <strong>de</strong> incidência e <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong><br />
por Unida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>rada. 1991-1994<br />
Fonte: M.S. -Fundação Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> -CENEPI -Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miol6gica e Controle<br />
<strong>de</strong> Agravos -Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Doenças Entéricas<br />
A -incidência<br />
B -mortalida<strong>de</strong><br />
ciclo <strong>de</strong> transmissão homem-meio ambientehomem.<br />
Embora alguns animais que vivem<br />
em locais contamina<strong>do</strong>s tenham si<strong>do</strong> encontra<strong>do</strong>s<br />
albergan<strong>do</strong> o microorganismo e expelin<strong>do</strong>-o<br />
passivamente, não existem provas <strong>de</strong><br />
que constituam reservatórios reais. Após<br />
1970, vários estu<strong>do</strong>s têm sugeri<strong>do</strong> a possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> existirem reservatórios ambientais,<br />
como certas plantas aquáticas e frutos <strong>do</strong> mar<br />
(crustáceos e bivalvos), responsabilizan<strong>do</strong>-os,<br />
inclusive, por alguns surtos isola<strong>do</strong>s que<br />
ocorreram nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, Itália e<br />
Austrália.<br />
São fontes <strong>de</strong> infecção os <strong>do</strong>entes, seja<br />
no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> incubação, na fase das manifestações<br />
clínicas e na convalescença, e os<br />
porta<strong>do</strong>res assintomáticos. Como fontes <strong>de</strong><br />
infecção, têm igual importância os <strong>do</strong>entes<br />
que exibem a forma grave da <strong>do</strong>ença e os que<br />
apresentam formas oligossintomáticas, que<br />
passam facilmente <strong>de</strong>spercebidas. Mais <strong>de</strong><br />
90% <strong>do</strong>s casos <strong>de</strong> cólera correspon<strong>de</strong>m a for-<br />
mas leves e mo<strong>de</strong>radas, tornan<strong>do</strong> difícil dis-<br />
tingui-los <strong>de</strong> outras enfermida<strong>de</strong>s diarréicas.<br />
A eliminação <strong>do</strong> vibrião faz-se, sobre-<br />
tu<strong>do</strong>, pelas fezes, mas também pelos vômitos<br />
e, ocasionalmente, pela urina. Os vibriões<br />
coléricos <strong>de</strong>saparecem rapidamente das fezes<br />
<strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes e <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res sadios que, em<br />
regra, não mais os eliminam ao termo <strong>de</strong> 10<br />
dias. Têm si<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>s, contu<strong>do</strong>, porta<strong>do</strong>res<br />
crônicos <strong>do</strong> biotipo EI To~ que o alber-<br />
gam por mais <strong>de</strong> 3 meses, eliminan<strong>do</strong>-o por<br />
várias semanas e, às vezes, por mais <strong>de</strong> 1 ano.<br />
453
454 DQENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS -Enfoque AmazÔnico<br />
Ao que parece, os porta<strong>do</strong>res crônicos são<br />
raros e seu papel na manutenção da infecção<br />
ainda não foi esclareci<strong>do</strong>. Existem, porém,<br />
evidências <strong>de</strong> que são mais importantes <strong>do</strong><br />
que se pensava há alguns anos atrás.<br />
Não se conhece o mecanismo pelo<br />
qual o agente infeccioso sobrevive durante os<br />
perío<strong>do</strong>s interepidêmicos. Todavia, apesar<br />
<strong>de</strong>, em geral, os indivíduos infecta<strong>do</strong>s eliminarem<br />
o vibrião só durante 1 semana ou 2,<br />
quan<strong>do</strong> cura<strong>do</strong>s sem o emprego <strong>de</strong> antibiótico,<br />
a elevada proporção <strong>de</strong> infecções assintomáticas<br />
assegura a manutenção <strong>do</strong> ciclo <strong>de</strong><br />
transmissão. Nas zonas endêmicas, a persistência<br />
da infecção é também facilitada pela<br />
curta duração da imunida<strong>de</strong> pós-infecciosa, o<br />
que permite freqüentes reinfecções.<br />
MODO DE TRANSMISSÃO<br />
A transmissão faz-se, primariamente,<br />
através da ingestão <strong>de</strong> água contamínada<br />
com fezes e/ou vômitos <strong>de</strong> pacientes ou pelas<br />
fezes <strong>de</strong> porta<strong>do</strong>res e, secundariamente, pela<br />
íngestão <strong>de</strong> alimentos que entraram em contato<br />
com a água contamínada ou foram manipula<strong>do</strong>s<br />
por mãos contaminadas <strong>de</strong> <strong>do</strong>entes<br />
ou <strong>de</strong> porta<strong>do</strong>res assíntomátícos. Peíxes, crustáceos<br />
ou bivalvos, marínhos ou dulcícolas,<br />
provenientes <strong>de</strong> águas poluídas, comi<strong>do</strong>s<br />
crus ou mal cozi<strong>do</strong>s, têm si<strong>do</strong> responsáveís<br />
por epi<strong>de</strong>mías e surtos ísola<strong>do</strong>s da <strong>do</strong>ença em<br />
, .,<br />
varlos palses.<br />
As verduras, legumes e frutas também<br />
representam um risco, particularmente quan<strong>do</strong><br />
regadas com águas servídas, sem esquecer,<br />
ainda, o perígo <strong>do</strong> consumo <strong>de</strong> gelo<br />
fabrica<strong>do</strong> com água contamínada.<br />
As moscas po<strong>de</strong>m transportar, aos alímentos,<br />
os microorganismos presentes nas<br />
<strong>de</strong>jeções <strong>do</strong>s indivíduos infecta<strong>do</strong>s.. Apesar<br />
<strong>de</strong>sses vetores mecânícos não <strong>de</strong>sempenharem<br />
papel relevante na propagação da <strong>do</strong>ença,<br />
<strong>de</strong>ve-se colocar telas nas janelas e portas<br />
das enfermarias on<strong>de</strong> se encontrem <strong>do</strong>entes<br />
<strong>de</strong> cólera.<br />
Adícíonalmente, e como mecanismo<br />
mais raro <strong>de</strong> transmissão, tem-se observa<strong>do</strong> a<br />
propagação <strong>de</strong> pessoa a pessoa, sem veículo<br />
aparente, em conglomera<strong>do</strong>s humanos que<br />
vivem em condições <strong>de</strong> promiscuida<strong>de</strong>.<br />
Embora sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> pouca importância epi<strong>de</strong>miológica,<br />
este tipo <strong>de</strong> disseminação foi responsabiliza<strong>do</strong><br />
por uma epi<strong>de</strong>mia, em 1970,<br />
que afetou 3 regiões <strong>de</strong>sérticas da África, 'em<br />
plena estação seca, on<strong>de</strong> praticamente não<br />
existiam reservatórios <strong>de</strong> água. Fatores como<br />
a concentração <strong>de</strong> pessoas e o contato i nterpessoal<br />
direto, que rege a vida africana (saudação<br />
mão-boca-fronte, refeições comuns<br />
com o uso das mãos) estavam sempre presentes<br />
no contexto da transmissão. Os autores<br />
afirmam que on<strong>de</strong> não há uma diluição da<br />
<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> microbianaj pela ausência <strong>de</strong><br />
água, os surtos comportam-se <strong>de</strong> maneira<br />
explosiva, afetan<strong>do</strong> populações inteiras, o<br />
que po<strong>de</strong> explicar alguns surtos importantes<br />
ocorri<strong>do</strong>s no sertão nor<strong>de</strong>stino, na alta estação<br />
seca (Brasil, 1994).<br />
São fatores essenciais para a disseminação<br />
da <strong>do</strong>ença as condições <strong>de</strong>ficientes <strong>de</strong><br />
saneamento e, em particular, a falta <strong>de</strong> água<br />
potável em quantida<strong>de</strong> suficiente para aten<strong>de</strong>r<br />
às necessida<strong>de</strong>s individuais e coletivas.<br />
Por outr01a<strong>do</strong>, os hábitos higiênicos pessoais<br />
ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s propiciam ainda mais a sua<br />
difusão, razão por que a <strong>do</strong>ença se encontra<br />
usualmente confinada aos grupos <strong>de</strong> baixo<br />
nível sócio-econômico. Mesmo em epi<strong>de</strong>mias<br />
severas, a taxa <strong>de</strong> ataque da <strong>do</strong>ença<br />
raramente exce<strong>de</strong> a 2%.<br />
A contaminação maciça <strong>de</strong> mananciais<br />
e reservatórios com menor volume <strong>de</strong> água,<br />
e/ou <strong>do</strong> lençol freático, e a intermitência <strong>de</strong><br />
distribuição <strong>de</strong> água na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> abastecimento,<br />
possibilitan<strong>do</strong> a passagem <strong>de</strong> águas contaminadas<br />
para <strong>de</strong>ntro das tubulações, têm si<strong>do</strong><br />
responsáveis por epi<strong>de</strong>mias explosivas, com<br />
gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> casos e formas graves.<br />
Convém lembrar que o biotipo E/ ror<br />
produz, com muito mais freqüência, infecções<br />
assintomáticas e leves (a relação entre o<br />
número <strong>de</strong> <strong>do</strong>el)tes e o <strong>de</strong> porta<strong>do</strong>res assintomáticos<br />
com o biotipo E/ ror é <strong>de</strong> 120 a<br />
1.100, enquanto que, com o biotipo clássico<br />
é <strong>de</strong> apenas 12 a 14), além <strong>de</strong> ser mais resistente,<br />
sobreviven<strong>do</strong> por mais tempo que o<br />
clássico no meio ambiente, fatores que difi-
CÓLERA<br />
cultam, <strong>de</strong> maneira significativa, as ações <strong>de</strong><br />
vigilância epi<strong>de</strong>miológica e constituem um<br />
entrave para o bloqueio efetivo <strong>do</strong>s surtos da<br />
<strong>do</strong>ença, particularmente em áreas <strong>de</strong>ficientes<br />
<strong>de</strong> saneamento básico.<br />
PATOGENIA<br />
A cólera é, tipicamente, uma <strong>do</strong>ença<br />
diarréica aguda, <strong>de</strong> caráter secretório, e toda<br />
a sua patogenia resulta da ação exercida pela<br />
toxina colérica sobre os enterócitos <strong>de</strong> intestino<br />
<strong>de</strong>lga<strong>do</strong>.<br />
Os vibriões penetram no organismo<br />
humano por via oral e, para produzir a enfermida<strong>de</strong>,<br />
precisam, inicialmente, ultrapassar o<br />
ambiente áci<strong>do</strong> <strong>do</strong> estômago, para então colonizar<br />
o intestino <strong>de</strong>lga<strong>do</strong> e produzir toxina.<br />
A ingestão <strong>de</strong> microorganismos junto<br />
com alimentos, o emprego <strong>de</strong> antiáci<strong>do</strong>s ou<br />
bloquea<strong>do</strong>res H2, a acloridria e a gastrecto-<br />
mia parcial, entre outros fatores, favorecem a<br />
infecção, uma vez que diminuem a aci<strong>de</strong>z<br />
gástrica, fazen<strong>do</strong> com que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
vibriões necessária para ocasionar a <strong>do</strong>ença.<br />
baixe, <strong>de</strong> 1010 em uma pessoa com aci<strong>de</strong>z<br />
gástrica normal e em jejum, para 103 microor-<br />
ganismos.<br />
Uma vez superada a primeira linha <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> hospe<strong>de</strong>iro, o I/: cho!erae tem<br />
ainda <strong>de</strong> produzir mucinase, um fator <strong>de</strong> virulência<br />
que lhe permite a ultrapassagem da<br />
segunda barreira, representada pela camada<br />
<strong>de</strong> muco intestinal. Ao alcançar a mucosa <strong>do</strong><br />
intestino <strong>de</strong>lga<strong>do</strong> (duo<strong>de</strong>no e jejuno, principalmente),<br />
on<strong>de</strong> encontra um ambiente alcalino,<br />
a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para a sua sobrevivência e<br />
multiplicação, o vibrião a<strong>de</strong>re à borda ciliada<br />
das células epiteliais, graças ao fator <strong>de</strong> a<strong>de</strong>rência,<br />
passan<strong>do</strong>, em seguida, a liberar uma<br />
exotoxina. Esta toxina atua sobre as células<br />
da mucosa intestinal, causan<strong>do</strong> uma rotura<br />
no seu equilíbrio fisiológico e fazen<strong>do</strong> com<br />
que seja secretada uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
líqui<strong>do</strong> isotônico.<br />
A enterotóxina colérica é uma proteína<br />
com peso molecular correspon<strong>de</strong>nte a<br />
84.000 daltons e possui 2 subunida<strong>de</strong>s em<br />
sua estrutura funcional, <strong>de</strong>nominadas A e B.<br />
A fração B, composta <strong>de</strong> 5 subunida<strong>de</strong>s, com<br />
11.500 daltons cada, é externa, enzimaticamente<br />
inativa e serve apenas para fixar a toxina<br />
ao gangliosí<strong>de</strong>o GM" receptor lipídico<br />
localiza<strong>do</strong> na membrana citoplasmática das<br />
células epiteliais da mucosa intestinal. A<br />
subunida<strong>de</strong> A, interna, com ativida<strong>de</strong> enzimática<br />
e biológica, é responsável pelo efeito<br />
tóxico da molécula, sen<strong>do</strong> constituída <strong>de</strong> 2<br />
fragmentos: A, (23.000 daltons), a parte ativa,<br />
e A2 (5.000 daltons), que faz a união <strong>de</strong> A 1<br />
com as 5 subunida<strong>de</strong>s B <strong>do</strong> envoltório.<br />
O mecanismo pelo qual a toxina age,<br />
inicia-se, portanto, com a a<strong>de</strong>rência <strong>de</strong> sua<br />
subunida<strong>de</strong> B ao gangliosí<strong>de</strong>o GM" substân-<br />
cia receptora presente nas células <strong>do</strong> epitélio<br />
intestinal; a seguir, as ligações sulfidrila (que<br />
mantêm unidas as subunida<strong>de</strong>s A e B) rompem-se,<br />
e a subunida<strong>de</strong> A penetra através da<br />
pare<strong>de</strong> celular, atingin<strong>do</strong> o interior <strong>do</strong> enterócito,<br />
on<strong>de</strong> estimula, <strong>de</strong> forma importante, a ativida<strong>de</strong><br />
da a<strong>de</strong>nilciclase, levan<strong>do</strong> a uma superprodução<br />
<strong>do</strong> AMP-cíclico, responsável, por<br />
sua vez, pela secreção intestinal <strong>de</strong> bicarbonato,<br />
potássio/. cloro e água/. além da diminuição<br />
na absorção <strong>do</strong> cloreto <strong>de</strong> sódio e água.<br />
Esse flui<strong>do</strong> é pobre em proteína e rico<br />
em Na+, K+, CI- e HCO3-, e sua perda maciça<br />
conduz, rapidamente, ao quadro <strong>de</strong> <strong>de</strong>sidratação.<br />
Contu<strong>do</strong>, a bomba <strong>de</strong> Na+ é preservada,<br />
o que permite areabsorção <strong>do</strong> sódio em<br />
presença <strong>de</strong> glicose, explican<strong>do</strong> a notável eficiência<br />
da reidratação oral no tratamento da<br />
<strong>do</strong>ença.<br />
A perda <strong>de</strong> eletrólitos e líqui<strong>do</strong>s da circulação<br />
e espaços intercelu)ares é consi<strong>de</strong>rável,<br />
po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser fatal se não corrigi da a<br />
tempo.<br />
MANIFESTAÇÕES CLíNICAS<br />
o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> incubação da <strong>do</strong>ença<br />
varia <strong>de</strong> algumas horas a 5 dias, sen<strong>do</strong> geralmente<br />
<strong>de</strong> 2 a 3 dias.<br />
A cólera apresenta gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> aspectos, que vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> infecções inaparentes<br />
até casos <strong>de</strong> diarréia profusa e grave.<br />
Apesar das infecções assintomátícas e das for-
456 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITARIAS -Enfoque Amazônico<br />
mas benignas da <strong>do</strong>ença serem mais freqüen-<br />
tes, são as menos diagnosticadas, o que tal-<br />
vez se constitua no maior fator responsável<br />
pela disseminação <strong>do</strong> bacilo. Levan<strong>do</strong>-se em<br />
consi<strong>de</strong>ração as manifestações clínicas, a<br />
infecção pelo vibrião colérico po<strong>de</strong> ser divi-<br />
dida nas seguintes formas:<br />
INFECÇÕES INAPARENTES<br />
Caracterizam-se pela ausência <strong>de</strong> sintomas,<br />
consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se o indivíduo infecta<strong>do</strong><br />
como porta<strong>do</strong>r são.<br />
INFECÇÕES BENIGNAS<br />
o quadro clínico manifesta-se <strong>de</strong> forma<br />
insidiosa, cursan<strong>do</strong> com diarréia discreta, <strong>do</strong>r<br />
ab<strong>do</strong>minal sem expressão, mal-estar, assemelhan<strong>do</strong>-se<br />
a outras gastroenterites .inespecíficaso<br />
Aqui, também, o diagnóstico costuma ser<br />
estabeleci<strong>do</strong> através da i<strong>de</strong>ntificação laboratorial<br />
<strong>do</strong> agente infeccioso.<br />
INFECÇÕES GRAVES<br />
Nos casos graves, típicos, o início é<br />
súbito, com diarréia aquosa, profusa e incoer-<br />
cível, e inúmeras evacuações diárias. Na<br />
maioria <strong>do</strong>s casos não ocorre febre.<br />
As fezes são líquidas, sem pus, muco<br />
ou sangue, com a aparência clássica <strong>de</strong> água<br />
<strong>de</strong> arroz (aspecto não muito encontra<strong>do</strong> em<br />
nosso meio) ou <strong>de</strong> água amarelo-esver<strong>de</strong>ada<br />
e têm, na gran<strong>de</strong> maioria das vezes, um o<strong>do</strong>r<br />
característico <strong>de</strong> peixe. Todavia, po<strong>de</strong> haver,<br />
<strong>de</strong> início, a presença <strong>de</strong> muco nas fezes e,<br />
nos casos mais graves em que há gran<strong>de</strong> con-<br />
gestão das partes altas <strong>do</strong> cólon, o material<br />
fecal po<strong>de</strong> apresentar-se, com coloração<br />
rósea, atestan<strong>do</strong> a presença <strong>de</strong> sangue. Os<br />
vômitos, conseqüentes à aciâose metabólica,<br />
vinculada à gran<strong>de</strong> perda hidroeletrolítica,<br />
são aquosos e acabam por se assemelhar às<br />
próprias fezes.<br />
A perda <strong>de</strong> líqui<strong>do</strong> (em torno <strong>de</strong> 1 a 2<br />
litros por hora) e <strong>de</strong> etetrólitos é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
monta, levan<strong>do</strong>, conseqüentemente, a uma<br />
rápida <strong>de</strong>sidratação, cujo quadro clínico é<br />
representa<strong>do</strong> por se<strong>de</strong> intensa, astenia, rápida<br />
perda <strong>de</strong> peso, diminuição <strong>do</strong> turgor da pele<br />
que se torna enrugada e seca, principalmente<br />
nas mãos ("mãos <strong>de</strong> lava<strong>de</strong>ira"), olhos encova<strong>do</strong>s,<br />
com olhar para<strong>do</strong> e vago, voz sumidiça<br />
e cãibras, que atingem a musculatura <strong>do</strong><br />
abdômen e <strong>do</strong>s membros superiores e inferiores<br />
(panturrilhas principalmente). Os músculos<br />
afeta<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>m assemelhar-se a verda<strong>de</strong>iras<br />
barras rígidas, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pleção<br />
<strong>de</strong> potássio e cloretos, que origina o distúrbio<br />
da função neuromuscular. Caso não haja<br />
uma reposição rápida da volemia para corrigir<br />
os distúrbios hidroeletrolíticos e áci<strong>do</strong>básicos,<br />
o paciente evolui com colapso periférico,<br />
pulso rápi<strong>do</strong> e débil, hipotensão arterial<br />
ou, até mesmo, pressão arterial inaudível,<br />
bulhas abafadas à ausculta cardíaca, cianose,<br />
esfriamento das extremida<strong>de</strong>s, oligúria, anúria,<br />
choque hipovolêmico, coma e morte.<br />
Existem variações <strong>do</strong> quadro clínico,<br />
com prognóstico grave, como a chamada<br />
"cólera tifói<strong>de</strong>", em que a temperatura elevase<br />
a 40°C ou mais, acompanhada <strong>de</strong> complicações,<br />
e evoluin<strong>do</strong> para o êxito letal. Outra<br />
forma atípica grave <strong>de</strong> cólera, ocasional em<br />
crianças, é a chamada "cólera seca", que se<br />
manifesta, inicialmente, por um quadro <strong>de</strong><br />
íleo paralítico. O paciente apresenta distensão<br />
ab<strong>do</strong>minal, çom gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
líqui<strong>do</strong> reti<strong>do</strong> na luz <strong>do</strong> intestino grosso e <strong>de</strong>lga<strong>do</strong>,<br />
e a <strong>de</strong>sidratação ocorre sem que a<br />
perda <strong>de</strong> líqui<strong>do</strong> seja evi<strong>de</strong>nte (<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a<br />
ausência <strong>de</strong> diarréia), fato este que po<strong>de</strong>trazer<br />
dificulda<strong>de</strong>s iniciais para o diagnóstico e,<br />
<strong>de</strong>sta maneira, contribuir para a morte rápida<br />
<strong>do</strong> paciente.<br />
EXAMES COMPLEMENTARES<br />
PROV AS ESPECíFICAS<br />
o diagnóstico etiológico é fundamental<br />
para a comprovação das primeiras evidências<br />
(clínicas e ambientais) <strong>de</strong> circulação <strong>do</strong> \I:<br />
cho/erae em <strong>de</strong>terminada área.<br />
Ten<strong>do</strong>-se em consi<strong>de</strong>ração que as<br />
manifestações clínicas da forma clássica<br />
(grave) da <strong>do</strong>ença são bem características,
uma vez comprovada a entrada da cólera, o<br />
diagnóstico laboratorial passa a <strong>de</strong>sempenhar<br />
papel complementar ao diagnóstico clínico.<br />
Todavia, nas formas inaparentes e nas formas<br />
benignas, pobres em sintomatologia, a confir-<br />
mação etiológica faz-se necessária. Após o<br />
restabelecimento <strong>do</strong> silêncio epi<strong>de</strong>miológico,<br />
a monitorização das diarréias e <strong>do</strong> ambiente,<br />
através <strong>do</strong>s exames laboratoriais específicos,<br />
volta a ter gran<strong>de</strong> relevância.<br />
A pesquisa laboratorial <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os<br />
casos suspeitos é recomendada apenas em<br />
áreas em que não há evidência <strong>de</strong> circulação<br />
<strong>do</strong> li: cho/erae. Em áreas <strong>de</strong> circulação com-<br />
provada, o diagnóstico laboratorial <strong>de</strong>verá ser<br />
uti I iza<strong>do</strong> em torno <strong>de</strong> 1 0% <strong>do</strong>s casos em<br />
adultos e 100% em crianças menores <strong>de</strong> 5<br />
anos, embora o tamanho da amostra venha a<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>do</strong> volume <strong>de</strong> casos e da capacida<strong>de</strong><br />
operacional <strong>do</strong> laboratório. Estes exames<br />
visam aferir a proprieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> diagnóstico clí-<br />
nico-epi<strong>de</strong>miológico, monitorar a circulação<br />
<strong>do</strong> li: cho/erae patogênico na população e<br />
avaliar sua resistência aos antibióticos, bem<br />
como as possíveis mudanças <strong>de</strong> sorotipo em<br />
casos autóctones ou importa<strong>do</strong>s. Acresce-se a<br />
isto o fato <strong>de</strong> que outros patógenos intestinais<br />
precisam também ser pesquisa<strong>do</strong>s, principal-<br />
mente nos casos negativos para li: cho/erae.<br />
O méto<strong>do</strong> até então mais recomenda<strong>do</strong><br />
para o diagnóstico laboratorial da cólera con-<br />
siste ~o cultivo, em meios apropria<strong>do</strong>s, das<br />
fezes <strong>de</strong> <strong>do</strong>entes ou porta<strong>do</strong>res assintomáti-<br />
cos, visan<strong>do</strong> o isolamento <strong>do</strong> vibrião coléri-<br />
co, segui<strong>do</strong> da i<strong>de</strong>ntificação bioquímica: e da<br />
caracterrzação sorológica da cepa isolada.<br />
Testes rápi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> imunodiagnóstico<br />
para a <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong> antígeno lipossacarídico<br />
da superfície celular <strong>do</strong> li: cho/erae (coagluti-<br />
nação, látex, imunofluorescência direta e<br />
outros) e testes genéticos (PCR e sondas <strong>de</strong><br />
DNA) têm si<strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>s e eventualmente<br />
utiliza<strong>do</strong>s em diagnóstico nos últimos tempos.<br />
A maioria <strong>de</strong>les, porém, é onerosa, <strong>de</strong> difícil<br />
execução em laboratórios <strong>de</strong> menor porte e,<br />
apesar <strong>de</strong> conduzir a um diagnóstico mais<br />
precoce, não apresenta a vantagem <strong>do</strong> méto-<br />
<strong>do</strong> convencional que, por meio <strong>do</strong> isolamen-<br />
to da cepa, permite <strong>de</strong>terminar não só o bioti-<br />
po e o sorotipo <strong>do</strong> ~ cho/erae 01 circulante,<br />
como sua sensibilida<strong>de</strong> aos antimicrobianos.<br />
O êxito <strong>do</strong> isolamento <strong>do</strong> agente infec-<br />
cioso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma coleta a<strong>de</strong>quada das<br />
fezes, antes da administração <strong>de</strong> antibiótico<br />
ao paciente, e <strong>do</strong> transporte apropria<strong>do</strong> da<br />
amostra coletada.<br />
A amostra <strong>de</strong> fezes in natura <strong>de</strong>ve ser<br />
recolhida em recipiente <strong>de</strong> boca larga, limpo<br />
e/ou esteriliza<strong>do</strong> (não utilizar substâncias quí-<br />
micas), não sen<strong>do</strong> recomenda<strong>do</strong> recolher<br />
material fecal conti<strong>do</strong> nas roupas, superfícies<br />
<strong>de</strong> camas ou no chão. O processamento <strong>de</strong>s-<br />
sas amostras no laboratório <strong>de</strong>ve ser feito o<br />
mais breve possível, não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ultrapassar<br />
2 horas após a coleta se mantidas à tempera-<br />
tura ambiente, ou 5 horas se conservadas sob<br />
refrigeração (4 a 8°C).<br />
Na coleta <strong>de</strong> amostras retais, o swab<br />
<strong>de</strong>ve ser ume<strong>de</strong>ci<strong>do</strong> em solução fisiológica<br />
ou água <strong>de</strong>stilada esterilizadas e introduzi<strong>do</strong>,<br />
a seguir, na ampola reta I <strong>do</strong> paciente (cerca<br />
<strong>de</strong> 2 cm), fazen<strong>do</strong>-se compressão, em movi-<br />
mentos rotatórios suaves, por toda a extensão<br />
da ampola. As amostras obtidas por swab<br />
introduzi<strong>do</strong> diretamente na ampola reta I ou<br />
por swab imerso nas fezes in natura <strong>de</strong>vem<br />
ser acondiciona<strong>do</strong>s em meios <strong>de</strong> transporte,<br />
po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser utiliza<strong>do</strong> o Cary-Blair ou a água<br />
peptonada alcalina (APA). Caso contrário,<br />
<strong>de</strong>vem ser se meadas, <strong>de</strong> imediato, nos meios<br />
<strong>de</strong> cultivo apropria<strong>do</strong>s. O meio <strong>de</strong> transporte<br />
<strong>de</strong> Cary-Blair conserva, até 4 semanas, nume-<br />
rosos tipos <strong>de</strong> bactérias, inclusive vibriões.<br />
No entanto, como o swab retal ou fecal con-<br />
tém outros microorganismos da flora intesti-<br />
nal, recomenda-se processá-lo <strong>de</strong> 24 a 72<br />
horas após a coleta (a 30°C) ou até 7 dias, se<br />
manti<strong>do</strong> sob refrigeração (4 a 8°C). I}s amos-<br />
tras acondicionadas em tubos <strong>de</strong> APA <strong>de</strong>vem<br />
,<br />
ser processadas no laboratório até 12 horas<br />
após a coleta, se mantidas à temperatura<br />
ambiente.<br />
Espécimens fecais po<strong>de</strong>m também ser<br />
transporta<strong>do</strong>s ao laboratório, utilizan<strong>do</strong>-se a<br />
técnica <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> filtro, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />
Dold e Ketterer (1,944) e Barua (1947). Este<br />
procedimento consiste em espalhar, com o<br />
auxílio <strong>de</strong> um fragmento <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou outro
458 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITARIAS -Enfoque Amazônico<br />
material, as fezes (diarréicas ou emulsionadas<br />
em água esterilizada) em 2/3 <strong>de</strong> uma das<br />
superfícies <strong>de</strong> tiras <strong>de</strong> papel <strong>de</strong> filtro, tipo<br />
xarope ou <strong>de</strong> mata-borrão, com 2,5 cm <strong>de</strong><br />
largura e 6,5 cm <strong>de</strong> comprimento. As tiras <strong>de</strong><br />
papel <strong>de</strong> filtro, com o esfregaço fecal, <strong>de</strong>vem<br />
ser então acondicionadas, <strong>de</strong> imediato, em<br />
invólucros plásticos, perfeitamente veda<strong>do</strong>s,<br />
para evitar a <strong>de</strong>ssecação <strong>do</strong> material fecal, a<br />
..., 1<br />
Semeadura direta em TCBS-ágar<br />
35-379C/18-24 Hs<br />
fim <strong>de</strong> que seja mantida a viabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
vibrião colérico.<br />
O processo <strong>de</strong> isolamento e i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>do</strong> v: cho/erae, a partir <strong>de</strong> amostras clínicas,<br />
obe<strong>de</strong>ce as etapas esquematizadas na<br />
figura 1.28.<br />
Os testes sorológicos po<strong>de</strong>m ser uti I iza<strong>do</strong>s<br />
para confirmação diagnóstica durante o<br />
perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> convalescença (na falta <strong>de</strong> um<br />
FEZES<br />
TCBS-ágat'"/~~~<br />
35-37°Cl18-24 Hs<br />
""'-'<br />
5-10 colônias sacarose $ (amarelas), circulares,<br />
brilhantes, convexas, <strong>de</strong> 2-5 mm <strong>de</strong> diâmetro<br />
T51, Kligler + LIA<br />
(*) Meio <strong>de</strong> triagem<br />
IAL, C & V<br />
e ágar nutritivo<br />
Teste <strong>de</strong> Oxidase<br />
Enriquecimento em APA 35-37°C<br />
06.08 Hs (não agitar o frasco)<br />
ffi ~ Provas Bioquímicas complementares<br />
Aglutinação em lâmina com anti-soro polivalente <strong>do</strong> V. cholerae,<br />
sorogrupo 01<br />
,,#:"""""'/""""""""""""<br />
ffi e Aglutinação em lâmina com<br />
~ anti-soro 0139<br />
Sorotipagem (*) Resulta<strong>do</strong> no meio <strong>de</strong> triagem:<br />
/" lactose e In<strong>do</strong>l $ / e<br />
/ "" Glicose $ sem gás lDC $<br />
Inaba Ogawa H2S e Motilida<strong>de</strong> $<br />
Sacarose $<br />
Figura 1.28 -Esquema <strong>de</strong> isolamento e i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> Vi brio cholerae a pal1ir <strong>de</strong> amostras <strong>de</strong> fezes
diagnóstico etiológico prévio), como marca<strong>do</strong>r<br />
epi<strong>de</strong>miológico da infecção ou para<br />
medir a eficácia da imunização em novas<br />
vacinas pesquisadas.<br />
Pacientes com quadro clínico <strong>de</strong> cólera<br />
geralmente <strong>de</strong>senvolvem anticorpos agluti-<br />
nantes e vibriocidas, em altos títulos, 5 a 7<br />
dias após o início <strong>do</strong>s sintomas. Contu<strong>do</strong>,<br />
para que se chegue a um diagnóstico pelo<br />
méto<strong>do</strong> sorológico, necessário se torna o<br />
exame <strong>de</strong> amostras <strong>de</strong> soro pareadas, a pri-<br />
meira coletada entre 1 a 3 dias <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença e a<br />
segunda entre 7 a 14 dias. O diagnóstico é<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> positivo, quan<strong>do</strong> se observa uma<br />
conversão sorológica e um aumento <strong>de</strong> título<br />
superior a 4 diluições duplas seriadas.<br />
Os anticorpos aglutinantes usualmente<br />
caem a níveis muito baixos, 6 a 12 semanas<br />
após a recuperação <strong>do</strong> paciente. Todavia,<br />
tem-se verifica<strong>do</strong> que o título homólogo con-<br />
tinua alto (1 :160 ou maior) nos porta<strong>do</strong>rescrônicos.<br />
Desta maneira, o teste <strong>de</strong> soroaglu-<br />
ti nação po<strong>de</strong> auxiliar na <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> porta-<br />
<strong>do</strong>res crônicos, se realiza<strong>do</strong> 6 a 12 semanas<br />
após a recuperação <strong>do</strong> paciente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
não seja em área hiperendêmica.<br />
PROVAS INESPECíFICAS<br />
459<br />
uréia e <strong>de</strong> creatinina, bem como das proteínas<br />
plasmáticas. O potássio sérico, inicialmente<br />
normal, <strong>de</strong>pois ligeiramente aumenta<strong>do</strong>,<br />
diminui à medida que se corrige a aci<strong>do</strong>se,<br />
po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, entretanto, sofrer alterações significativas<br />
nos casos em que há insuficiência<br />
renal ou choque hipovolêmico. O sódio e o<br />
cloro estão em níveis normais, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />
com a natureza isotônica da diarréia.<br />
Ocasionalmente instala-se hfpoglicemia <strong>de</strong><br />
causa <strong>de</strong>sconhecida (Greenough 111, 1995).<br />
O exame <strong>de</strong> urina revela <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />
baixa, entre 1.002 e 1.009, albuminúria, às<br />
vezes bastante elevada, presença <strong>de</strong> corpos<br />
cetônicos, com cilindros granulosos e mais<br />
raramente hialinos, não sen<strong>do</strong> comum a<br />
hematúria e a piúria.<br />
O encontro <strong>de</strong> leucócitos nas fezes é<br />
raro, e <strong>de</strong> hemácias raríssimo.<br />
Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que as manifestações clí-<br />
nicas da cólera variam muito <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong>;<br />
o seu diagnóstico diferencial terá <strong>de</strong> ser feito<br />
com todas as <strong>de</strong>mais <strong>do</strong>enças diarréicas agu-<br />
das, infecciosas ou não, principalmente nos<br />
cásos ocorri<strong>do</strong>s em crianças.<br />
As intoxicações alimentares agudas,<br />
Nos casos graves <strong>de</strong> cólera, a intensa causadas pela ingestão <strong>de</strong> enterotoxinas bac-<br />
perda líquida leva a a1terações laboratoriais terianas pré-formadas nos alimentos (Staphytípicas<br />
<strong>do</strong> quadro hemático e da bioquímica /ococcus aureus, Baci//us cereus e C/ostridium<br />
<strong>do</strong> sangue, bem como <strong>do</strong>s valores urinários. perfringens) ou <strong>de</strong> alimentos naturalmente<br />
Devi<strong>do</strong> à hemoconcentração, o sangue tóxicos (certas espécies <strong>de</strong> cogumelos vene-<br />
torna-se viscoso, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a hematimetria nosos e <strong>de</strong> peixes, entre outros), po<strong>de</strong>m asse-<br />
atingir 6 a 8 milhões <strong>de</strong> células/ml, com melhar-se muito à cólera, pelas características<br />
aumento correspon<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> hematócrito e da da diarréia aguda, da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> surgi-<br />
hemoglobina. A velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemossedimento <strong>de</strong> colapso e <strong>do</strong> freqüente aparecimentação<br />
(VHS) é baixa. Há leucocitose, por mento <strong>de</strong> vários casos numa mesma oportu-<br />
conta <strong>do</strong>s neutrófi los, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se observar nida<strong>de</strong>. Isto também se aplica às diferentes<br />
uma elevação <strong>de</strong> até 15 a 20 mil leucóci-tos/mio toxinfecções bacterianas, em que, como na<br />
As alterações bioquímicas <strong>do</strong> sangue<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da gravida<strong>de</strong> <strong>do</strong> quadro clínico e<br />
<strong>do</strong> início da terapêutica (hidratação a<strong>de</strong>qua-da).<br />
Ocorrem, com certa freqüência aci<strong>do</strong>se<br />
metabólica, diminuição <strong>do</strong> pH sangüíneo(7.1<br />
a 7.2) e da concentração <strong>de</strong> bicarbonato.<br />
Nos casos mais graves, há uma elevação <strong>de</strong><br />
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL<br />
cólera, o agente infeccioso ingeri<strong>do</strong> com o<br />
alimento multiplica:'se no intestino, passan<strong>do</strong><br />
a produzir e a liberar a toxina <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante<br />
<strong>do</strong> processo diarréico: Escherichia co/i ente-<br />
rotoxigênica (ETEC), Vibrio parahaemo/itico<br />
(há evidências <strong>de</strong> que a patogênese esteja<br />
relacionada à produção <strong>de</strong> uma citotoxinae,<br />
também, a um mecanismo invasor), Aero-
monas hydrophíla etc. As disenterias bacte-<br />
rianas agudas causadas por microorganismos<br />
<strong>de</strong> ação patogênica invasiva, como vários<br />
tipos sorológicos <strong>de</strong> Salmonella, as espécies<br />
<strong>de</strong> Shígella, o Campylobacter jejuní e a<br />
Escheríchía calí invasora (EIEC), também<br />
<strong>de</strong>vem ser incluídas no diagnóstico diferen-<br />
cial da cólera. As espécies <strong>de</strong> Shígella, o C<br />
jejuníe a EIEC, exercem seu mecanismo inya-<br />
sivo com <strong>de</strong>struição da camada epitelial da<br />
mucosa <strong>do</strong> intestino e, em conseqüência, as<br />
fezes apresentam-se geralmente mucói<strong>de</strong>s e<br />
sanguinolentas, com gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> leu-<br />
cócitos. Todavia, no caso <strong>do</strong> C jejuní, os<br />
pacientes são muitas vezes acometi<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />
diarréia aquosa, semelhante à causada por<br />
bactérias enterotoxigênicas, e estu<strong>do</strong>s recen-<br />
tes mostraram que este microorganismo pro-<br />
duz uma enterotoxina semelhante à entero-<br />
toxina termolábil (L T) <strong>de</strong> E. calí; o que suge-<br />
re ser sua patogenicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>corrente tanto<br />
<strong>de</strong> invasão como <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> toxinas, os<br />
<strong>do</strong>is mecanismos operan<strong>do</strong> simultânea ou<br />
separadamente. Ressalte-se, ainda que, na<br />
infância, a shigelose e a salmonelose, entre<br />
outras <strong>do</strong>enças entéricas invasivas, também<br />
po<strong>de</strong>m levar facilmente ao quadro da "sín-<br />
drome colérica". Em sua forma atípica grave,<br />
<strong>de</strong>nominada "cólera tifói<strong>de</strong>", a nosologia em<br />
questão po<strong>de</strong> simular até mesmo a febre<br />
tifói<strong>de</strong>, com a qual terá <strong>de</strong> ser diferenciada.<br />
No contexto da etiologia bacteriana há a<br />
consi<strong>de</strong>rar, ainda, as Escheríchía calí entero-<br />
patogênicas clássicas (EPEC), que se sobres-<br />
saem como uma das causas mais freqüentes<br />
<strong>de</strong> diarréia na prjmeira infância, sobretu<strong>do</strong><br />
nos 6 primeiros meses <strong>de</strong> vida, e o<br />
Clostnaíum dlfficíle, habitante normal <strong>do</strong><br />
intestino, capaz <strong>de</strong> provocar a colite pseu<strong>do</strong>-<br />
membranosa, comumente associada ao uso<br />
indiscrimina<strong>do</strong> <strong>de</strong> antibióticos, principal-<br />
mente da clindamicina.<br />
As enterites viraisagudas, bem como as<br />
causadas por protozoários, também figuram<br />
entre os processos diarréicos infecciosos a<br />
serem diferencia<strong>do</strong>s da cólera.<br />
O rotavírus e o vírus Norwalk são os<br />
agentes etiológicos mais comumente associa-<br />
<strong>do</strong>s a surtos epidêmicos <strong>de</strong> gastroenterites<br />
virais agudas. Todavia, enquanto na infecção<br />
por rotavírus a enfermida<strong>de</strong> pre<strong>do</strong>mina em<br />
lactentes menores <strong>de</strong> 2 anos e é sazonal nos<br />
países <strong>de</strong> clima tempera<strong>do</strong>, on<strong>de</strong> inci<strong>de</strong> mais<br />
nos meses frios (nos trópicos ocorre durante o<br />
ano to<strong>do</strong>), no caso <strong>do</strong> agente <strong>de</strong> Norwalk, a<br />
<strong>do</strong>ença afeta principalmente a<strong>do</strong>lescentes e<br />
adultos, sem apresentar tendência sazonal.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, o vírus Norwalk ten<strong>de</strong> a cau-<br />
sar gastroenterites benignas, que regri<strong>de</strong>m em<br />
48 a 72 horas, enquanto que, nas infecções<br />
por rotavírus, a remissão completa <strong>do</strong> quadro<br />
clínico só costuma ocorrer por volta <strong>do</strong> 82<br />
dia, ao que se acresce o fato da diarréia, <strong>de</strong><br />
início súbito e usualmente aquosa, incidir<br />
num grupo etário naturalmente susceptível a<br />
processos graves <strong>de</strong> <strong>de</strong>sidratação.<br />
Os a<strong>de</strong>novírus, astrovírus, calicivírus,<br />
coronavírus e enterovírus (especialmente<br />
cepas que não se cultivam em linhas celula-<br />
res susceptíveis) têm si<strong>do</strong> também incrimina-<br />
<strong>do</strong>s como causa <strong>de</strong> enterites agudas.<br />
No tocante aos protozoários, é oportu-<br />
no ressaltar que a forma álgida da malária<br />
maligna ou tropical, em que o P/asmodium<br />
fa/ciparum é encontra<strong>do</strong> nos capilares visce-<br />
rais e da mucosa intestinal em gran<strong>de</strong> quanti-<br />
da<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> simular com exatidão a cólera.<br />
Entre os protozoários que se encontram parti-<br />
cularmente associa<strong>do</strong>s aos processos disenté-<br />
ricos, <strong>de</strong>staca-se a Ciardia /amb/ia, por ser<br />
capaz <strong>de</strong> provocar quadros diarréicos agu-<br />
<strong>do</strong>s, haven<strong>do</strong> a citar ainda a Entamoeba<br />
histo/ystica (causa<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> diarréia <strong>do</strong> tipo<br />
mucosanguinolento, <strong>de</strong> caráter intermitente e<br />
contínuo) e, como agentes causa<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />
disenterias em imuno<strong>de</strong>primi<strong>do</strong>s, o<br />
Cryptosporidium, a Dientamoeba fragi/is, o<br />
Ba/antidium co/i e a Isospora heI/i. Certos<br />
vírus, como o herpes (1 e 2) e o citomegalo-<br />
vírus; fungos, como a Candida a/bicans; e<br />
bactérias, como as enterobactérias, principalmente<br />
as <strong>do</strong> gênero Sa/mone//a, também são<br />
comumente responsáveis por processos diar-<br />
réicos graves em pacientes imunocomprometi<strong>do</strong>s,<br />
particularmente nos porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> vírus<br />
HIV.<br />
Em outras circunstâncias, a cólera<br />
<strong>de</strong>verá ainda ser diferenciada das seguintes
patologias: certas helmintíases, que po<strong>de</strong>m<br />
causar diarréia profusa e líquida, como a<br />
estrongi loidíase e a esquistossomose em sua<br />
forma toxêmica (ambas são capazes <strong>de</strong> pro-<br />
duzir quadro <strong>de</strong> vômitos, epigastralgia e diar-<br />
réia aquosa) e, entre as não infecciosas, o<br />
envenenamento por metais pesa<strong>do</strong>s como o<br />
mercúrio, arsênico e antimônio. Embora pro-<br />
voquem quadros diarréicos <strong>de</strong> menor intensi-<br />
da<strong>de</strong>, as patologias inflamatórias e neoplási-<br />
cas <strong>do</strong> intestino também po<strong>de</strong>m simular<br />
casos <strong>de</strong> cólera leve ou mo<strong>de</strong>rada.<br />
ESPECíFICO<br />
.TRATAMENTO<br />
A correta utilização <strong>de</strong> antibióticos no<br />
tratamento da cólera contribui, significativamente,<br />
para reduzir o volume e a duração da<br />
diarréia, além <strong>de</strong> encurtar o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> excreção<br />
<strong>do</strong> bacilo. Deve-se iniciar a antibioticoterapia<br />
somente após a colheita <strong>do</strong> material<br />
para exame. Sua administração <strong>de</strong>ve ser por<br />
via oral.! quan<strong>do</strong> cessam os vômitos, usualmente<br />
3 a 4 horas apóS, o início da reidratação.<br />
Vale lembrar que o li: cho/erae não<br />
inva<strong>de</strong> a mucosa e, assim sen<strong>do</strong>, o uso <strong>de</strong><br />
antibiótico por via parenteral é pouco efetivo.<br />
A droga <strong>de</strong> escolha para adultos e<br />
crianças acima <strong>de</strong> 8 anos é a tetraciclina, na<br />
<strong>do</strong>se <strong>de</strong> 500 mg <strong>de</strong> 6/6 horas, durante 3 dias.<br />
Nos pacientes com menos <strong>de</strong> 40 kg, a <strong>do</strong>se<br />
<strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> 50 mg/kg/dia, dividida em 4<br />
tomadas, por 72 horas. O cloranfenicol é<br />
igualmente efetivo, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser utiliza<strong>do</strong> nas<br />
mesmas <strong>do</strong>ses e durante o mesmo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
tempo que as tetraciclinas. Também po<strong>de</strong>m<br />
ser utilizadas a <strong>do</strong>xiciclina, 300 mg em <strong>do</strong>se<br />
única, ou a furazoli<strong>do</strong>na, 100 mg <strong>de</strong> 6/6<br />
horas por 3 dias.<br />
Para crianças com ida<strong>de</strong> inferior a 8<br />
anos, tem si<strong>do</strong> recomendada a associação<br />
sulfametoxazol + trimetoprima, nas <strong>do</strong>ses <strong>de</strong><br />
50 e 10 mg/kg, respectivamente, administrada<br />
por via oral, a intervalos <strong>de</strong> 12 hQras, por<br />
3 dias consecutivos.<br />
Quanto às gestantes e nutrizes, <strong>de</strong>ve-se<br />
fazer uma avaliação prévia sobre as vanta-<br />
gens e <strong>de</strong>svantagens que po<strong>de</strong>m advir da<br />
aplicação <strong>do</strong> antibiótico, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> prescindirse<br />
<strong>de</strong> sua administração, se necessário.<br />
Nestes casos/. os antibióticos mais indica<strong>do</strong>s<br />
são a ampicilina ou a eritromicina, na <strong>do</strong>se<br />
<strong>de</strong> 500 mg a cada 6 horas, durante 3 dias. A<br />
eritromicina é também recomendada nos<br />
casos on<strong>de</strong> há relato <strong>de</strong> reação alérgica à<br />
tetraciclina ou a compostos sulfamídicos.<br />
Na ocorrêncra <strong>de</strong> choque hipovolêmico,<br />
a admínistração <strong>do</strong> antibiótico <strong>de</strong>ve ser<br />
iniciada logo que o paciente sair <strong>de</strong>sse esta<strong>do</strong><br />
e recuperar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingerir com<br />
segurança. A alta po<strong>de</strong>rá ser dada 24 horas<br />
após o <strong>de</strong>saparecimento da diarréia e <strong>do</strong> tér-<br />
mino da antibioticoterapia.<br />
Vale ressaltar que estu<strong>do</strong>s até então<br />
realiza<strong>do</strong>s sobre a resistência <strong>do</strong> vibrião colé-<br />
rico aOs antibióticos, vêm manten<strong>do</strong> a tetracr-<br />
clina como primeira opção terapêutica, inclu-<br />
sive nos casos <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>s ao \I: cho/erae 0139,<br />
que se tem mostra<strong>do</strong> resistente à furazoli<strong>do</strong>na<br />
e ao sulfametoxazol + trimetoprima. Deve-se<br />
suspeitar <strong>de</strong> resistência da cepa Infectante .ao<br />
antibiótico aplica<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> a diarréia per-<br />
siste por mais <strong>de</strong> 48 horas após o início <strong>de</strong><br />
sua admrnistração.<br />
INESPECíFICO<br />
Consiste na reposição, por via oral ou<br />
parenteral, <strong>de</strong> líqui<strong>do</strong>s e e-letrólitos perdi<strong>do</strong>s<br />
pela diarréia e pelo vômito. A avaliação <strong>do</strong><br />
esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sidratação <strong>do</strong> paciente, que po<strong>de</strong><br />
ser <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> por sinais crínicos, tais como<br />
as características <strong>do</strong> pulso, o grau <strong>de</strong> turgescência<br />
da pele e a pressão arterial, <strong>de</strong>ntre<br />
outros (figura 2.28), é que vai orientar o<br />
esquema <strong>de</strong> reposição hidroeletrolítica, conforme<br />
veremos a segu i r:<br />
Sem sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>sidratação (Plano Ii A")<br />
Po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser trata<strong>do</strong> no próprio<br />
<strong>do</strong>micílio, com líqui<strong>do</strong>s por via oral como<br />
água, chás caseiros, sucos, água <strong>de</strong> arroz e<br />
água <strong>de</strong> coco, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>~se usar, paralelamente,<br />
a solução <strong>de</strong> reidratação oral (SRO). Os<br />
pacientes <strong>de</strong>vem receber orientação para<br />
fazer uso <strong>de</strong>sses líqui<strong>do</strong>s após cada evacuação<br />
ou vômito; os adultos po<strong>de</strong>m tomar a
ESTADO GERAL<br />
OLHOS<br />
LAGRIMAS<br />
BOCA E LÍNGUA<br />
SEDE<br />
Bem alerta<br />
Normais<br />
Presentes<br />
Úmidas<br />
Bebe normal<br />
Sem se<strong>de</strong><br />
quantida<strong>de</strong> que aceitarem e, as crianças, <strong>de</strong><br />
acor<strong>do</strong> com a ida<strong>de</strong>: abaixo <strong>de</strong> 2 anos, 50 a<br />
100 ml, acima <strong>de</strong> 2 anos, 100 a 200 ml, num<br />
intervalo <strong>de</strong> 4 horas. A alimentação habitual<br />
<strong>de</strong>verá ser mantida e estimulada, corrigin<strong>do</strong>se<br />
apenas os eventuais erros dietéticos, e a<br />
amamentação <strong>de</strong>ve ser mantida nos lactente:~,<br />
Os pacientes, ou seus responsáveis, <strong>de</strong>verão<br />
ser orienta<strong>do</strong>s a procurar assistência<br />
médica, no caso <strong>de</strong> agravamento <strong>do</strong> quadro<br />
diarréico, e quanto aos cuida<strong>do</strong>s higiênicos a<br />
sprpm tom~<strong>do</strong>s-<br />
Irrita<strong>do</strong>, intranqüilo<br />
Fun<strong>do</strong>s<br />
Ausentes<br />
Secas<br />
Se<strong>de</strong>nto, bebe rápi<strong>do</strong> e<br />
àvidamente<br />
SINAL DA PREGA Desaparece lentamente<br />
Desaparece rapidamente<br />
ENCHIMENTO CAPILAR (1)<br />
Normal<br />
(até 3 segun<strong>do</strong>s)<br />
Rápi<strong>do</strong>, débil<br />
Prejudica<strong>do</strong><br />
(3-5 segun<strong>do</strong>s)<br />
COMATOSO, HIPOTÔNICO<br />
Muito fun<strong>do</strong>s e secos<br />
Ausentes<br />
Muito secas<br />
BEBE COM DIFICULDADE<br />
OU NÃO É CAPAZ DE BEBER<br />
DESAPARECE MUITO<br />
LENTAMENTE<br />
(mais <strong>de</strong> 2 segun<strong>do</strong>s)<br />
MUITO PREJUDICADO<br />
(mais <strong>de</strong> 5 segun<strong>do</strong>s)<br />
Com <strong>de</strong>sidratação leve ou mo<strong>de</strong>rada<br />
(Plano "B")<br />
Mesmo no caso <strong>do</strong> paciente apresentar<br />
sinais e sintomas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sidratação leve ou<br />
mo<strong>de</strong>rada (se<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rada, discreto preguea-<br />
mento da pele, mucosas secas, lacrimejamen-<br />
to reduzi<strong>do</strong>, olhos um pouco encova<strong>do</strong>s), sua<br />
reidratação <strong>de</strong>verá ser procedida, inteiramen-<br />
te, por via oral~ No adulto, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
SRO a ser ingerida <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá da se<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
paciente. No caso <strong>de</strong> crianças, a orientação é<br />
a <strong>de</strong> prescrever-se 50 a 100 ml/kg a serem
,<br />
CÓLERA 463<br />
toma<strong>do</strong>s nas quatro primeiras horas. Os lactentes<br />
amamenta<strong>do</strong>s ao seio <strong>de</strong>verão continuar<br />
receben<strong>do</strong> o leite materno; para os<br />
pacientes com outro tipo <strong>de</strong> alimentação,<br />
administrar somente a SRa.<br />
Na vigência <strong>de</strong> vômitos durante a reidratação<br />
oral, reduzir o volume, por tomada,<br />
e aumentar a freqüência da administração da<br />
SRa. A SRO po<strong>de</strong> ser administrada através <strong>de</strong><br />
sonda nasogástrica, quan<strong>do</strong> necessário.<br />
Convém avaliar, constantemente, o esta<strong>do</strong><br />
clínico <strong>do</strong> paciente, para <strong>de</strong>tectar qualquer<br />
alteração clínica importante, que recomen<strong>de</strong><br />
medidas adicionais, como a hidratação venosa.<br />
Com <strong>de</strong>sidratação grave (Plano IIC")<br />
Se o paciente apresentar sinais e sintomas<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sidratação grave, sem ou com choque<br />
(pali<strong>de</strong>z acentuada, pulso radial filiforme,<br />
hipotensão arterial, <strong>de</strong>pressão <strong>do</strong> sensório),<br />
a reidratação <strong>de</strong>ve ser iniciada, imediatamente,<br />
por via en<strong>do</strong>venosa.<br />
Em adultos <strong>de</strong>vem ser puncionadas,<br />
simultaneamente, duas veias calibrosas, com<br />
agulhas grossas <strong>de</strong> nQ 18, 19 ou 20! administran<strong>do</strong>-se,<br />
em uma <strong>de</strong>las, soro fisiológico<br />
(solução <strong>de</strong> cloreto <strong>de</strong> sódio a 0,9%) e, na<br />
outra, solução <strong>de</strong> Ringer-lactato ou solução<br />
polieletrolítica (composta <strong>de</strong> sódio, potássio,<br />
cloro, acetato e <strong>de</strong>xtrose). Deve-se <strong>de</strong>ixar as<br />
soluções correrem, <strong>de</strong>. forma rápida, em<br />
ambas as veías, administran<strong>do</strong>-se tanto volume<br />
quanto for necessário para tirar o paciente<br />
<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sidratação grave e ou choque;<br />
para tanto, po<strong>de</strong>rá ser necessário infundir<br />
até 2 litros das soluções em um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
30 minutos. Assim que <strong>de</strong>saparecerem os<br />
sinais <strong>de</strong> choque (pulso palpável e melhoria<br />
<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> consciência), a velocida<strong>de</strong> da<br />
infusão <strong>de</strong>verá ser reduzida para 70 ml/kg no<br />
espaço <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> 2 horas e 30 minutos. É<br />
aconselhável administrar, concomitantemente,<br />
a SRO, em <strong>do</strong>ses pequenas e freqüentes,<br />
tão logo o paciente a aceite e, uma vez superada<br />
a necessida<strong>de</strong> da hidratação en<strong>do</strong>venosa,<br />
ele po<strong>de</strong>rá passar, completamente, para a<br />
reidratação oral, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tolere a SRO sem<br />
vomitar. A alimentação <strong>de</strong>ve ser instituída<br />
precocemente, logo que tenha si<strong>do</strong> concluída<br />
a reidratação e tenham cessa<strong>do</strong> os vômitos.<br />
É importante atentar para a diurese, já<br />
que a insuficiência renal aguda po<strong>de</strong> surgir<br />
como complicação e, quan<strong>do</strong> isto acontece, a<br />
oligúria persiste, apesar <strong>do</strong> paciente encontrar-se<br />
convenientemente hidrata<strong>do</strong>. Aconselha-se,<br />
neste caso, o uso <strong>de</strong> diuréticos <strong>de</strong> alça,<br />
tipo furosemida, que aumentam, normalmente,<br />
o fluxo sangüíneo renal na zona cortical<br />
externa. Po<strong>de</strong>m ser administradas altas <strong>do</strong>ses<br />
<strong>de</strong> furosemida (200 a 400 mg/dia), em pequenos<br />
volumes <strong>de</strong> veículo (100 a 200 ml <strong>de</strong><br />
solução glicosada a 5% ou solução fisiológica);<br />
caso não haja resposta da diurese e apareçam<br />
sinais clínicos e laboratoriais <strong>de</strong> aci<strong>do</strong>se<br />
metabólica severa, alterações <strong>do</strong> sensório e<br />
uremia são indica<strong>do</strong>s os méto<strong>do</strong>s dialíticos.<br />
Em algumas circunstâncias, a hidratação<br />
venosa terá <strong>de</strong> ser feita com cu ida<strong>do</strong>s<br />
especiais, principalmente em i<strong>do</strong>sos, crian-<br />
ças,gestantes, asmáticos, diabéticos, nefropatas,<br />
cardiopatas e porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença pulmonar<br />
obstrutiva crônica.<br />
Vale mencionar, como a<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, ser contra-indica<strong>do</strong><br />
o uso <strong>de</strong> antidiarréicos, antieméticos,<br />
antiespasmódicos,. corticosterói<strong>de</strong>s ou<br />
estimulantes cardíacos.<br />
Em crianças com <strong>de</strong>sidratação grave, a<br />
reidratação parenteral <strong>de</strong>ve ser iniciada o<br />
mais precocemente possível, puncionan<strong>do</strong>se<br />
a veia com agulhas <strong>de</strong> nQ 21, 22 ou 23.<br />
Todavia, até que a reidratação en<strong>do</strong>venosa<br />
seja instalada, ou até que se proceda, se for<br />
o caso, a transferência <strong>do</strong> paciente para outra<br />
unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com melhores recursos,<br />
<strong>de</strong>ve-se administrar, <strong>de</strong> imediato, a SRO,<br />
através <strong>de</strong> sonda nasogástrica ou <strong>de</strong> conta-<br />
gotas.<br />
A solução indicada para a reidrataçãoé<br />
composta <strong>de</strong> partes iguais <strong>de</strong> soro glicosa<strong>do</strong><br />
(5G) a 5% e <strong>de</strong> soro fisiológico (5F), adicionan<strong>do</strong>-se,<br />
a cada 100 ml <strong>de</strong>sta solução, a<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bicarbonato <strong>de</strong> sódionecessária<br />
para obter uma concentração final <strong>de</strong> 23<br />
mEq/litro (em bicarbonato). Esta quantida<strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>rá variar <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a concentração<br />
da solução <strong>de</strong> NaHCO3 disponível, conforme<br />
exemplifica<strong>do</strong> a seguir:<br />
7,0 ml:<br />
-Sol. <strong>de</strong> bicarbonato <strong>de</strong> sódio a 3,0%
464 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS -Enfoque Amilzõnico<br />
-Sol. <strong>de</strong> bicarbonato <strong>de</strong> sódio a 5,0%<br />
4,Oml;<br />
-Sol. <strong>de</strong> bicarbonato <strong>de</strong> sódio a 8,4%<br />
2,5 ml;<br />
-Sol <strong>de</strong> bicarbonato <strong>de</strong> sódio a 10,0%<br />
2,0 mio<br />
A solução assim obtida <strong>de</strong>ve ser aplicada,<br />
intravenosamente, no volume total <strong>de</strong><br />
100 ml/kg, durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2 horas.<br />
Após o restabelecimento da diurese, acrescentar<br />
cloreto <strong>de</strong> potássio a 10% na proporção<br />
<strong>de</strong> 1 ml para cada 100 ml da solução que<br />
faltar transfundir. Ressalte-se por oportuno<br />
que, na fase rápida da reidratação, não é<br />
aconselhável o uso da solução <strong>de</strong> Ringer-lactato,<br />
ou <strong>de</strong> outras que também possam induzir<br />
hipernatremia, principalmente em crianças<br />
menores <strong>de</strong> 2 anos. Não se <strong>de</strong>ve, também,<br />
utilizar a soltlção glicofisiológica disponível<br />
no merca<strong>do</strong>, uma vez que possui concentrações<br />
<strong>de</strong> cloreto <strong>de</strong> sódio e <strong>de</strong> glicose<br />
diferentes da solução 1:1 <strong>de</strong> SF e <strong>de</strong> SG a 5%<br />
recomendada. Se disponível, a solução polieletrolítica<br />
po<strong>de</strong>rá ser empregada na fase <strong>de</strong><br />
manutenção e reposição, não se ten<strong>do</strong>, no<br />
caso, <strong>de</strong> adicionar bicarbonato ou necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> fazer quaisquer outros cálculos além <strong>do</strong><br />
volume, conforme <strong>de</strong>scrito para as necessida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> líqui<strong>do</strong>s na mencionada fase, esquematizada<br />
na figura 3.28.<br />
Com o emprego <strong>de</strong>stes esquemas terapêuticos,<br />
a expectativa é <strong>de</strong> que a hidratação<br />
en<strong>do</strong>venosa possa ser dispensada a partir <strong>de</strong><br />
3 a 4 horas <strong>de</strong> sua administração ininterrupta<br />
e que a maior parte das crianças complete<br />
sua reidratação por via oral, diminuin<strong>do</strong>,<br />
assim, o risco <strong>de</strong> complicações, que po<strong>de</strong>m<br />
surgir pelo manejo ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> da reposição<br />
hidreletrolítica por via parenteral. Um bom<br />
indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> que o paciente saiu <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sidratação grave, ou choque, é o restabele-<br />
cim~nto <strong>do</strong> pulso radial, em termos <strong>de</strong> fre-<br />
qüência e amplitu<strong>de</strong> (pulso cheio e regular).<br />
Ao passar para a hidratação oral, a criança<br />
<strong>de</strong>ve ficar sob constante avaliação clínica,<br />
consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se, inclusive, a possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> seu retorno à reidratação en<strong>do</strong>venosa,<br />
embora isto só venha a ocorrer em um redu-<br />
zi<strong>do</strong> número <strong>de</strong> casos.<br />
De um mo<strong>do</strong> geral, a hospitalização<br />
prolongada <strong>de</strong>snecessária <strong>de</strong>ve ser evitada, e<br />
os pacientes, já em reidratação oral, po<strong>de</strong>m<br />
receber alta, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tenha cessa<strong>do</strong> total-<br />
mente a diarréia. No momento da alta, eles<br />
ou seus responsáveis <strong>de</strong>vem ser provi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 2<br />
envelopes da SRO e <strong>de</strong>vidamente instruí<strong>do</strong>s<br />
quanto ao seu preparo e uso, alimentação<br />
a<strong>de</strong>quada e utilização <strong>de</strong> líqui<strong>do</strong>s.<br />
Vale lembrar, finalmente, que a hidra-<br />
tação parenteral, quan<strong>do</strong> feita <strong>de</strong> maneira<br />
ina<strong>de</strong>quada, po<strong>de</strong> levar a complicações<br />
como:<br />
-hiperidratação;<br />
-complicações <strong>do</strong> sistema nervoso<br />
central em crianças (especialmente <strong>de</strong>snutridas)<br />
, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a hipog1icemia e hipernatremia,<br />
resultantes da administração <strong>de</strong> soluções iso-<br />
tônicas;<br />
-reações pirogênicas habituais, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />
ao gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> solução infundida à<br />
temperatura ambiente.<br />
PROFILAXIA<br />
A cólera só consegue se propagar em<br />
países on<strong>de</strong> as condições <strong>de</strong> saneamento<br />
básico, <strong>de</strong> higiene pessoal e <strong>de</strong> infra-estrutu-<br />
ra <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> são precárias ou inexistentes.
CÓLERA 465<br />
Assim sen<strong>do</strong>, as estratégias por excelência a<br />
serem seguidas para a prevenção da cólera<br />
constituem-se em:<br />
-Destino a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> <strong>do</strong>s <strong>de</strong>jetos huma-<br />
nos, através <strong>de</strong> fossa biológica e re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
esgoto;<br />
-Fornecimento e utilização <strong>de</strong> água<br />
<strong>de</strong>vidamente tratada, principalmente para<br />
consumo;<br />
-Educação <strong>do</strong>s indivíduos para que<br />
melhorem seus hábitos higiênicos pessoais<br />
(particularmente a lavagem dás mãos antes<br />
<strong>do</strong> manuseio <strong>de</strong> alimentos e após evacuações)<br />
e os <strong>de</strong> manipulação, conservação e<br />
preparo <strong>de</strong> alimentos;<br />
-Vigilância sanitária a<strong>de</strong>quada por<br />
parte <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> competentes, não<br />
só quanto à exigência <strong>de</strong> instalações higiêni-<br />
cas e <strong>de</strong> uma higtene pessoal correta <strong>do</strong><br />
manipula<strong>do</strong>r <strong>de</strong> alimentos, seja a nível industrial<br />
ou artesanal, como pelo controle <strong>de</strong> qua-<br />
lida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s alimentos, através <strong>de</strong> exames per-<br />
tinentes, feitos com a regularida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vida;<br />
-Combate aos vetores, sobretu<strong>do</strong> às<br />
moscas, por meio <strong>de</strong> inseticidas ou <strong>de</strong> outras<br />
práticas, bem como pela coleta, acondiciona-<br />
mento e <strong>de</strong>stino a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> <strong>do</strong> lixo.<br />
Em áreas on<strong>de</strong> a infra-estrutura sanitá-<br />
ria é <strong>de</strong>ficiente, <strong>de</strong>ve-se evitar o consumo <strong>de</strong><br />
alimentos crus e mal cozi<strong>do</strong>s, bem como<br />
aqueles <strong>de</strong> procedência duvi<strong>do</strong>sa. A água <strong>de</strong><br />
consumo <strong>de</strong>ve ser fervida ou clorada (0,045<br />
miou 2 gotas <strong>de</strong> solução <strong>de</strong> hipoclorito <strong>de</strong><br />
sódio a 2,5% -ou água sanitária -para cada<br />
litro <strong>de</strong> água, que estará em condições <strong>de</strong> uso<br />
após 30 minutos). Na <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong> hortifru-<br />
tigranjeiros, <strong>de</strong>ve-se fazer a lavagem prévia<br />
com água corrente e, em seguida, <strong>de</strong>ixá-los<br />
<strong>de</strong> molho, por 30 minutos, em uma solução<br />
conten<strong>do</strong> 1 colher das <strong>de</strong> sopa (15 ml) <strong>de</strong><br />
hipoclorito <strong>de</strong> sódio a 2,5% (ou água sanitá-<br />
ria) por litro <strong>de</strong> água (não se <strong>de</strong>ve reutilizar a<br />
solução após o uso). Os recipientes usa<strong>do</strong>s,<br />
tanto para tratar a água <strong>de</strong> beber como os<br />
hortifrutigranjeiros, <strong>de</strong>vem estar bem limpos e<br />
não ser <strong>de</strong> metal.<br />
A experiência alcançada nos últimos<br />
anos <strong>de</strong>monstrou que as medidas clássicas<br />
a<strong>do</strong>tadas no passa<strong>do</strong> diante <strong>do</strong> perigo imi-<br />
nente <strong>de</strong> entrada da cólera em um país (qua-<br />
rentena, vacinação, quimioprofilaxia <strong>de</strong><br />
massa, restrição ao tráfico <strong>de</strong> passageiros e a<br />
proibição da importação <strong>de</strong> alimentos) em<br />
nada contribuíram para evitar a introdução<br />
da cólera em países on<strong>de</strong> são precárias as<br />
condições <strong>de</strong> saneamento ambiental e <strong>de</strong><br />
higiene individual. Por outro la<strong>do</strong>, a aplica-<br />
ção exagerada <strong>de</strong> medidas ineficientes, como<br />
a da restrição à circulação <strong>de</strong> pessoas e mer-<br />
ca<strong>do</strong>rias, causaram sérios prejuízos econômi-<br />
cos e provocaram represálias, geran<strong>do</strong> confu-<br />
são no tráfego internacional.<br />
A quimioprofilaxia em massa e <strong>de</strong> con-<br />
tatos <strong>do</strong>miciliares não é indicada, uma vez<br />
que po<strong>de</strong> levar a uma alteração da flora intes-<br />
tinal <strong>de</strong> indivíduos sadios, aumentan<strong>do</strong> a sua<br />
susceptibilida<strong>de</strong> à infecção por \;: cho/erae,<br />
bem como ao surgimento <strong>de</strong> cepas resistentes<br />
<strong>do</strong> vibrião corérico e <strong>de</strong> outras bactérias.<br />
Além disto, tal medida tem se mostra<strong>do</strong> inefi-<br />
caz para conter a propagação da epi<strong>de</strong>mia, já<br />
que o efeito <strong>do</strong> antibiótico tem curta duração<br />
e o meio ambiente continua contamina<strong>do</strong><br />
além <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> proteção <strong>do</strong> antibiótico.<br />
Há a consi<strong>de</strong>rar ainda o fato <strong>de</strong> que não é<br />
fácil persuadir pessoas assintomáticas a toma-<br />
rem estas drogas. A rigor, a quimioprofilaxia<br />
justifica-se apenas em surtos <strong>de</strong> cólera ocorri-<br />
<strong>do</strong>s em comunida<strong>de</strong>s fechadas, quan<strong>do</strong> hou-<br />
ver possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratar to<strong>do</strong>s os indivíduos<br />
simultaneamente e mantê-los isola<strong>do</strong>s das<br />
fontes <strong>de</strong> contaminação. Contu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>verá<br />
haver a garantia <strong>de</strong> que, no ambiente on<strong>de</strong><br />
habitam, não existe circulação <strong>do</strong> \;: cho/e-<br />
rae.<br />
A imunização ativa através da vacina-<br />
ção é questionável. A vacina disponível<br />
atualmente ainda é a parenteral, à base <strong>de</strong><br />
bactérias (\I: cho/erae 01) mortas, e que foi<br />
<strong>de</strong>senvolvida há, aproximadamente, 100<br />
anos. Des<strong>de</strong> 1973, seu uso <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser<br />
recomenda<strong>do</strong> pela OMS, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> apre-<br />
sentar baixa eficácia (a soroconversão é<br />
observada em apenas 30 a 50% <strong>do</strong>s indiví-<br />
duos que recebem as duas <strong>do</strong>ses da vacina) e<br />
<strong>de</strong> conferir imunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> curta duração (3 a 6<br />
meses), imunida<strong>de</strong> esta que, como acontece<br />
geralmente com as vacinas, só é conseguida
após <strong>de</strong>corri<strong>do</strong>s 7 a 14 dias <strong>de</strong> sua aplicação.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, além <strong>de</strong> não alterar a severida<strong>de</strong><br />
da <strong>do</strong>ença, a vacina não reduz a taxa <strong>de</strong><br />
infecções assintomáticas e, <strong>de</strong>sta maneira,<br />
não previne a introdução nem a disseminação<br />
da cólera em um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> país.<br />
Outro fator negativo, referente à vacinação, é<br />
que esta costuma dar uma falsa impressão <strong>de</strong><br />
segurança às pessoas vacinadas, bem como<br />
um sentimento <strong>de</strong> realização e satisfação às<br />
autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, levan<strong>do</strong>-as, conseqüentemente,<br />
a negl igenciarem as precauções<br />
mais efetivas <strong>de</strong> prevenção da <strong>do</strong>ença.<br />
Ultimamente vêm sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvidas<br />
vacinas orais contra a cólera, ainda não disponíveis<br />
para uso em saú<strong>de</strong> pública, com<br />
ênfase para duas <strong>de</strong>las:<br />
-Vacina oral CE/B -composta <strong>de</strong> células<br />
mortas <strong>de</strong> ti: cholerae 01 <strong>de</strong> ambos os<br />
sorotipos, Inaba e Ogawa, e <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is biotipos,<br />
clássico e EI Tor (componente CE), às<br />
quais é agregada uma subunida<strong>de</strong> B purificada<br />
<strong>de</strong> toxina colérica (componente B).<br />
Estu<strong>do</strong>s feitos em Bangla<strong>de</strong>sh mostraram que<br />
esta vacina estimula tanto a resposta local <strong>de</strong><br />
anticorpos (intestinal), como a resposta <strong>de</strong><br />
anticorpos séricos e, além <strong>de</strong> não ter qualquer<br />
efeito secundário, confere uma proteção<br />
significativa contra a diarréia causada por E<br />
calí enterotoxigênica, produtora <strong>de</strong> toxina L T.<br />
Todavia, os resulta<strong>do</strong>s promissores <strong>de</strong>sta<br />
vacina, particularmente os relativos à duração<br />
da infecção, só foram observa<strong>do</strong>s em<br />
adultos. A baixa e relativamente curta proteção<br />
observada em crianças ainda não foi perfeitamente<br />
elucidada, mas po<strong>de</strong> refletir uma<br />
contribuição importante da imunida<strong>de</strong> por<br />
exposição natural ao ti: cholerae, que ocorre<br />
freqüentemente em Bangla<strong>de</strong>sh e leva a<br />
<strong>de</strong>senvolver uma imunida<strong>de</strong> natural em adultos.<br />
Se isto for verda<strong>de</strong>iro, a eficácia da vacina<br />
em pessoas que não tenham si<strong>do</strong> expostas<br />
ao ti: cholerae, po<strong>de</strong> ser mais baixa <strong>do</strong> que<br />
aquela observada em Bangla<strong>de</strong>sh. Encontram-se<br />
atualmente em andamento estu<strong>do</strong>s<br />
que visam melhorar esta vacina, com modificações<br />
em sua composição e também em sua<br />
preparação, a ser utilizada em forma <strong>de</strong> pó<br />
(em Bangla<strong>de</strong>sh foi usada a forma líquida).<br />
-Vacina oral CVD 103 -HgR -esta é<br />
uma vacina <strong>de</strong> células vivas <strong>de</strong> ti: cho/erae01,<br />
manipulada geneticamente para retirar o<br />
gene que codifica a subunida<strong>de</strong> A da toxinacolérica,<br />
às quais é adiciona<strong>do</strong> um marca<strong>do</strong>r<br />
<strong>de</strong> resistência ao mercúrio. A vacina tem<br />
mostra<strong>do</strong> uma pequena tendência a causar<br />
diarréia muito leve, ao ser administrada emvoluntários.<br />
Sem embargo, um gran<strong>de</strong> núme-<br />
ro <strong>de</strong> pessoas não apresenta qualquer efeito<br />
secundário <strong>de</strong>pois da imunização. Esta vaci-<br />
na ainda não foi testada através <strong>de</strong> um traba-<br />
lho <strong>de</strong> campo mas tem si<strong>do</strong> amplamente ava-<br />
liada em voluntários. Os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s<br />
pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América mostraram<br />
que uma simples <strong>do</strong>se da vacina em questão<br />
(5x10 cfu) é mais imunogênica que 3 <strong>do</strong>ses<br />
da vacina CE/B: 92% <strong>do</strong>s indivíduos testa<strong>do</strong>s<br />
tiveram uma resposta <strong>de</strong> 4 vezes ou mais <strong>de</strong><br />
anticorpos vibriocidas; logrou-se uma proteção<br />
<strong>de</strong> 89 -100% contra o ti: cho/erae 01 <strong>do</strong><br />
biotipo E/ Tore observou-se uma proteção <strong>de</strong><br />
83% contra a cólera grave (1 litro ou mais <strong>de</strong><br />
fezes líquidas). Em voluntários da Tailândia e<br />
da In<strong>do</strong>nésia foi observada uma soroconver-<br />
são bem melhor em estudantes <strong>do</strong> que em<br />
recrutas militares e, em crianças da<br />
In<strong>do</strong>nésia, obtiveram-se resulta<strong>do</strong>s satisfatórios<br />
<strong>de</strong> soroconversão (70-90%) com uma<br />
única <strong>do</strong>se <strong>de</strong> 5x10 cfu. Estu<strong>do</strong>s posteriores<br />
foram planeja<strong>do</strong>s, e <strong>de</strong>vem estar sen<strong>do</strong> atual-<br />
mente executa<strong>do</strong>s, em estudantes da<br />
Tailândia e em recrutas militares, com a fina-<br />
lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer qual é a <strong>do</strong>se imunogê-<br />
nica consistente da vacina CDV 103 -HgR.<br />
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