29.04.2013 Views

0 ESCANDALO DA MANDIOCA E A MORTE DE PEDRO JORGE

0 ESCANDALO DA MANDIOCA E A MORTE DE PEDRO JORGE

0 ESCANDALO DA MANDIOCA E A MORTE DE PEDRO JORGE

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

DIARIO <strong>DE</strong> PERNAMBUCO<br />

REcEFE, 6 <strong>DE</strong> AGOSTO <strong>DE</strong> 2001<br />

vlllwmmmms^<br />

12<br />

0 <strong>ESCAN<strong>DA</strong>LO</strong> <strong>DA</strong> <strong>MANDIOCA</strong><br />

E A <strong>MORTE</strong> <strong>DE</strong> <strong>PEDRO</strong> <strong>JORGE</strong>


DIARIO <strong>DE</strong> PERNAMBUCO<br />

RECIFE, 6 <strong>DE</strong> AGOSTO <strong>DE</strong> 2001 - CRIMES QUE ABALARAM PERNAMBUCO<br />

A incrivel lustbria de<br />

" palacios" que 5urgiam<br />

do Chao seco, com o<br />

dinheiro da mandioca<br />

m maio de 1981 espalhou-se<br />

timidamente - primeiro pela<br />

caatinga e pelas pequenas cidades<br />

sertanejas - uma historia que falava de<br />

belas construcoes, mansoes, quase<br />

palacios, no Sertao de Pernambuco,<br />

onde a mais extrema miseria deveria<br />

estar exposta. 0 tamanho das<br />

construcoes e os requintes de luxo<br />

aumentavam no imaginario coletivo,<br />

mas nao se cogitava de exagero quando<br />

se afirmava que aquilo era coisa de<br />

ladroagem. A boca-pequena se<br />

comentava que mais de um bilhao de<br />

cruzeiros do Banco do Brasil de Floresta<br />

tinham ido parar nas contas de alguns<br />

espertos, num passe de magica. Quando<br />

a gatunagem comecou a ser descoberta,<br />

soube-se que tinha agricultor que is ao<br />

CONSEUiO <strong>DE</strong> ADMIN AcAO<br />

PRew>En-<br />

PAUtA CASRRAL <strong>DE</strong> ARAd7o<br />

VKT-PRDOD^WS<br />

GLADSrorve VIMRA BFV)<br />

Joao. BADPJ S<br />

CONSELHEIROS<br />

IBANOR Jost TARTAROn<br />

JOAo AUCIBTO CABRAL DL ARA1,70<br />

DIRLTORL4 EXECUI7V,a<br />

• Dorioo SIP MtLBTLN<strong>DE</strong>NBI<br />

L. Ordwo <strong>DE</strong> :MoLO CA`AJ.LANn<br />

•DIRH1oo<strong>DE</strong>Re<strong>DA</strong> ,Ad)<br />

RIGoRDO LMT,ao<br />

• DIRL1 CR COMERCLV<br />

M.ACBu TRIh<strong>DA</strong>Dr<br />

• DIREroR AnnnSTRAmtrFo uu^Ro<br />

CLAUDIa R<strong>DA</strong>I0 CHAe0C B.ACIUD<br />

• DIRoruR <strong>DE</strong> TDcu oLOGR<br />

A)GRIN Ct"_A<strong>DA</strong><br />

• DucemR DC CIRCULAGkC<br />

VICTOR CHIDID<br />

Gmi Goo A D4 S b:A<br />

Edipo<br />

JUnLA'AL DL'ARID<br />

BnstraA-s<br />

&NtIq<br />

ftw=gdo visa<br />

IiuCAdRAJ JUNDJR<br />

de Pwdu¢o<br />

PATATICA Comunica4eo & Ediwra<br />

Fonres:FundacaoJoaquim Nabuco,<br />

Arquivo Pdbbco do Estado de<br />

Pernambuco. Arquivo do Diano de<br />

Pernambuco<br />

Banco do Brasil pedir CR$ 20 mil emprestados e o<br />

financiamento chegava a Cr$ 400 mil. Oficialmente, o<br />

dinheiro teria sido destinado ao plantio de mandioca. Na<br />

verdade, porem, ele havia se espalhado em 300<br />

financiamentos irregulares, que eram associados aquelas<br />

mansoes com piscinas, construidas onde faltava agua ate<br />

para matar a sede. Fazendeiros inventaram enormes-extensoes<br />

de terra que nao existiam. Somando o total<br />

registrado no Branco do Brasil daria 4.748 quilometros<br />

quadrados, area superior a do municipio.<br />

Politicos de oposicao que sabiam do "fenoreno" nao<br />

tinham muito entusiasmo para denunciar orque faltavam<br />

provas robustas e ate porque se vivia ainda um clima<br />

muito dificil. 0 pais era governado por militares, de formal<br />

mais atenuada, depois da anistia de 79, mas ainda trnha o I,<br />

rescaldo dos tempos de silencio forcado. Quem denunciassp<br />

qualquer irregularidade do sisterna era logo tachado de<br />

comunista e passava a ser visto como um terrorista em<br />

potencial.<br />

Uma briga de familial sertanejas, porem, iria furar a<br />

barreira de silencio em torn do que viria a ser conhecido<br />

como "escandalo da mandioca". Um Ferraz, adversario<br />

ferrenho de um Novaes, comecou a espalhar a informacao<br />

o escandalo comecou a ganhar corpo. Nao fosse a briga de<br />

familias, tudo teria permanecido abafado, beneficiando ume<br />

punhado de pessoas que utilizavam todos os meios para<br />

tirar proveito. Um ganhava porque tudo passava por suas<br />

maos. Outro, porque estava muito proximo e nao podia ficat<br />

de fora. Mais adiante, um outro se impunha pela patente,<br />

mais outro porque gerenciava a agencia do Banco e assim a<br />

rede se estabelecia num pacto de confianca quebrado pelo<br />

sentimento de vinganca entre os Ferraz e os Novaes de<br />

Floresta, um pobre municipio sertanejo que precisaria<br />

acumular o orcamento durante trinta e tres anos para<br />

chegar aos valores que foram distribuidos irregularmente a<br />

pretexto do plantio de mandioca.


de confianca quebrado pelo sentimento de<br />

vinganca entre os Ferraz e os Novaes de Floresta,<br />

um pobre municipio sertanejo que precisaria<br />

acumular o oraamento durante trinta e tres anos<br />

para chegar aos valores que foram distribuidos<br />

irregularmente a pretexto do plantio de mandioca.<br />

HOUVE RANGER <strong>DE</strong><br />

<strong>DE</strong>NTES QUANDO A<br />

HISTORIA COME^OU<br />

A GANHAR MUNDOS<br />

As irregularidades comecaram a se espalhar e<br />

nao havia como esconde-las, principalmente<br />

porque as informacoes tinham origem<br />

inclusive atraves de politicos ligados ao sistema. 0<br />

Banco Central mandou uma auditoria para<br />

Floresta e a historia causou uma grande<br />

consternacao. Liderava o esquema de fraude toda a<br />

direcao do Banco do Brasil na cidade<br />

pernambucana. 0 chefe de fiscalizacao, um<br />

carioca, suicidou-se na cidade de Arcoverde, onde<br />

havia comprado um predio por 12 milhoes de<br />

cruzeiros. 0 chefe de cadastro negociou um<br />

tratamento especial com os inspetores do Banco do<br />

Brasil em troca de informacoes sobre a<br />

engrenagem e o que se ficou sabendo dai por<br />

diante deixou a populacao estarrecida: havia<br />

cadastros falsificados, financiamentos em nome de<br />

defuntos, fazendeiro que tirava dinheiro em nome<br />

de ate quarenta "laranjas" - aqueles que<br />

emprestavam o nome para a negociata -, aplicacao<br />

do custeio agricola em caderneta de poupanca,<br />

desvio do dinheiro da mandioca para construcao<br />

de casas, compras de imoveis e automoveis,<br />

abertura de comercio e ate para o plantio de outras<br />

lavouras, tudo isso sob o manto do perdao da<br />

divida. 0 esquema montado era simples: na hora<br />

do acerto de contas, os fazendeiros beneficiados<br />

apelariam para um programa federal e um seguro<br />

cobriria as lavouras "que haviam sido destruidas<br />

pela seca". 0 problema foi que choveu.<br />

Em julho a Policia Federal prendeu um bancario<br />

envolvido no escandalo e que ja se encontrava em<br />

Rondonia. 0 juiz federal Genival Matias decretou a<br />

prisao preventiva desse e de outros bancarios, mas<br />

a relacao era enorme: tinha 100 implicados. Urn<br />

dos bancarios ouvido pelo juiz federal Genival<br />

Matias desenhou em rapidas linhas o que estava<br />

acontecendo em Floresta; "A agencia do Banco do<br />

Brasil virou uma bagunca, um saco furado,<br />

chegando ao ponto de as oporacoes corretas serem<br />

uma excecao. Dos financiamentos efetuados, em<br />

DIARIo <strong>DE</strong> PERNAMBUCo<br />

REUFE, 6 <strong>DE</strong> AGOSTO <strong>DE</strong> 2001 - CRIMES QUE ABALARAM PERNAMBUCO<br />

sua quase totalidade os recebedores nada<br />

plantaram".Em setembro, o ministro da<br />

Fazenda, Ernane Galveas, determinou a<br />

busca e apreensao dos bens moveis e<br />

imoveis de onze indicados em decreto de<br />

prisao administrativa. No mesmo mes, a<br />

Policia Federal apreendeu cerca de 150<br />

arenas que estavam em poder de um dos<br />

implicados. Em novembro, o ex-chefe do<br />

escritorio da Emater em Floresta informava<br />

ao juiz que nas vistorias realizadas em 1981<br />

em Floresta foram encontradas pessoas que<br />

moravam em casas de taipa e que<br />

oficialmente tinham sido beneficiadas com<br />

financiamentos de tres milhoes, ate quatro<br />

milhoes de cruzeiros.<br />

UM PROCURADOR<br />

<strong>DA</strong> REPUBLICA E<br />

ABATIDO NA PORTA<br />

<strong>DE</strong> UMA PA<strong>DA</strong>RIA<br />

A noticia, na prilneira paging do<br />

DIARIO de 4 de marco de 1982 abalou<br />

Pernambuco e se espalhou por todo o<br />

Pais:<br />

"Coen tres tiros de revolver (um no bravo,<br />

outro no abdomen e o ultimo no queixo) foi<br />

assassinado, as 18h40m de ontem, proximo<br />

a sua residencia, o procurador da Republica<br />

Pedro Jorge Melo, que apresentou denuncia<br />

contra 25 pessoas envolvidas no'escandalo<br />

da mandioca'. 0 bel. Pedro Jorge de Melo<br />

tinha 32 anos de idade, saiu de sua<br />

reside"ncia, na Rua Mauricio Viana, 204,<br />

Jardim Atlantico, Casa Caiada, Olinda, para<br />

comprar leite e pao. Mal tinha saido da<br />

padaria com um pacote de leite e paes, foi<br />

acertado por um desconhecido de cor clara,<br />

com presumivelmente 29 anos, de camisa<br />

de manga comprida branca, que correu ate<br />

um Chevette Hatch de cor bege, que ja o<br />

esperava com o motor ligado. Segundo<br />

testemunhas, o homicida estava de 'tocaia'<br />

em um dos predios vizinhos. Ao ver o<br />

procurador tombar mortalmente ferido, um<br />

cobrador de onibus tentou anotar a placa do<br />

Chevette, sendo atingido pelo outro<br />

ocupante do veiculo, sendo levado as<br />

pressas ao Hospital da Restauracao, onde se<br />

encontra internado. Acredita a policia que<br />

as informacoes do rapaz sejam importantes,<br />

pois ele viu os ocupantes do carro e as


DIARio <strong>DE</strong> PERNAMEUCO<br />

REcn, 6 <strong>DE</strong> AGOS7O <strong>DE</strong> 2001 - CRIM QUE ABALARAM PERNAMBUCO<br />

placas, que nao devem ser'frias', pois senao os<br />

assassinos nao teriam tentado elimina-lo<br />

tambem".<br />

No dia 5 de marco de 1982 nao se falava em<br />

outra coisa em Pernambuco e a imprensa dava<br />

cobertura muito discreta ao caso porque todas as<br />

atencoes estavam voltadas para a visita do<br />

presidente Figueiredo. 0 prefeito de Olinda,<br />

Germano Coelho, decretou luto oficial de tres<br />

dias no municipio. A Assembleia Legislativa<br />

aprovou voto de pesar requerido pelo deputado<br />

Sergio Longman. No requerimento, o deputado<br />

alertava que o gangsterismo estava agindo em<br />

Pernambuco e desafiava a todos.<br />

0 que se dizia do procurador? Quase um<br />

beneditino. Havia nascido em Alagoas e veio<br />

estudar no Recife, onde ficou. Estudou no Mosteiro<br />

de Sao Bento, de onde saiu como "professo<br />

simples". Bem perto de ser um beneditino. Os<br />

frades celebraram uma missa de corpo presente<br />

com mais de 500 pessoas, predominantemente<br />

juizes, advogados e politicos de oposicao.<br />

A Policia Federal passou a proteger a casa da<br />

viuva do procurador Pedro Jorge. 0 Ministerio<br />

Publico Estadual manifestou repddio e condenou<br />

com veemencia "o covarde e brutal assassinato".<br />

No dia 8 de marco era preso o primeiro suspeito<br />

do crime, um dos funcionarios do Banco do<br />

Brasil, envolvido no caso. No dia 9 de marco<br />

chegava ao Recife o procurador-geral da<br />

Republica para acompanhar as investigacoes. Na<br />

chegada do procurador-geral, Inocencio Martires,<br />

o escandalo ganhou nova dimensao: ficou-se<br />

sabendo que o procurador Pedro Jorge estava<br />

afastado do caso da mandioca e a Associacao<br />

Nacional dos Procuradores Federais anunciou<br />

que iria apurar as razoes. Martires disse<br />

simplesmente que havia recebido uma carta de<br />

Pedro Jorge pedindo afastamento do caso, sem<br />

fazer qualquer mencao a ameacas que<br />

porventura estivesse sofrendo. 0 procurador foi,<br />

assim, assassinado quando ja estava fora do<br />

processo. A policia Federal informou que havia<br />

prendido mais tres suspeitos, sem revelar os<br />

nomes. Agora eram quatro detidos no<br />

Departamento de Policia Federal.<br />

A Comissao de Justica e Paz distribuiu nota<br />

oficial lamentando a viole"ncia que havia gerado a<br />

morte do procurador e reafirmava seu protesto<br />

contra a impunidade. E lembrava que ha quase<br />

dez anos "tombou o ex-procurador Djalma Raposo<br />

sem que ate hoje seus assassinos sejam conhecidos<br />

e, sobretudo, punidos". Lembrou, tambem, a<br />

morte do padre Henrique, em 1969, "sem que ate<br />

hoje sequer se busque ler o que ja diz o processo".<br />

Pedro Jorge<br />

Procuradores federais de todo o Pais se<br />

reuniram no Recife em solidariedade a familia<br />

de Pedro Jorge e, tambem, para reivindicar a<br />

apuracao das diligencias desenvolvidas pela<br />

Policia Federal.<br />

Uma noticia dessas normalmente tomaria<br />

um enorme espaco em qualquer jornal, mas<br />

o crime coincidiu com a vinda a<br />

Pernambuco do general Figueiredo e,<br />

naturalmente, ele tomaria todo espaco. A<br />

morte do procurador e a repercussao,<br />

principalmente nos meios juridicos, ocuparia<br />

um espaco discreto nos dias seguintes, mas a<br />

determinacao do governo federal em apurar<br />

o que havia acontecido permitiu que o<br />

noticiario crescesse, mesmo quando um oficial<br />

da Policia Militar, o entao major Ferreira,<br />

passou a ser o principal suspeito. Primeiro, de<br />

haver executado o procurador e depois como<br />

autor intelectual. 0 major negou tudo, em<br />

depoimento no dia 29 de marco. 0 depoimento<br />

teve um grande destaque e houve mobilizacao<br />

de um grupo anticomunista fanatico<br />

identificado como TFP - Tradicao, Familia e<br />

Propriedade. A presenca da TFP apoiando o<br />

major dava uma conotacao politica ao atentado.


QUEM <strong>DE</strong>U 0 TIRO<br />

QUE MATOU 0<br />

PROCURADOR? ESSA<br />

ERA A QUESTAO<br />

urante todo mes de abril de 1982 a policia<br />

ficou tateando em torno de pistas. Prendeu<br />

^.. ' quatro suspeitos, chegou a pensar que o<br />

executor havia sido o major - um eximio atirador -<br />

e a historia se arrastou por todo mes de abril, ja<br />

entao com uma hipotese que ganhava corpo: o<br />

autor dos tiros que mataram o procurador ja<br />

deveria ter sido silenciado. No final de abril o<br />

major Ferreira foi afastado do cargo. No dia 29<br />

uma testemunha - cujo nome nao foi divulgado<br />

pela policia - dava detalhes do crime. Disse que o<br />

matador levava o revolver preso no pulso por uma<br />

correia de couro e amparou o bravo que segurava a<br />

arma com a outra mao. Era uma indicacao muito<br />

clara de que se tratava de um pistoleiro.<br />

A policia intensificou as investigacoes no Sertao<br />

e no inicio de maio ja se anunciava que estava<br />

muito proxima a descoberta do matador. No dia 4<br />

de maio, dois meses depois do crime, a noticia<br />

ganhava destaque: Preso o pistoleiro que matou o<br />

procurador. No dia seguinte ele era exposto para as<br />

fotografias da imprensa, depois de haver detalhado<br />

toda a trama e a execucao do procurador Pedro<br />

Jorge. Agora nao havia mais como o major Ferreira<br />

sustentar que era inocente. 0 pistoleiro Elias Nunes<br />

Nogueira, de Serra Talhada, a 420 quilometros do<br />

Recife, confessou em depoimento a Policia Federal<br />

couro havia assassinado o procurador Pedro Jorge de<br />

Melo e Silva, a mando do major Jose Ferreira dos<br />

Anjos, que o contratou por Cr$ 200 mil. 0 pistoleiro<br />

disse que atirou tres vezes com um revolver Taurus<br />

calibre 39, com balas dumdum (especiais) entregues<br />

pelo major Ferreira. 0 sargento PM Jose Lopes de<br />

Almeida levava uma espingarda 12 e foi quern fez o<br />

reconhecimento do procurador.<br />

DIAIU0 <strong>DE</strong> PERNAMBUCO<br />

RECwE, 6 <strong>DE</strong> AGOSTO <strong>DE</strong> 2001 - CRIMES QUE ABALARAM PERNAMBUCO<br />

Major Ferreira


DIARIO <strong>DE</strong> PERNAMBUCO<br />

REC[FE, 6 <strong>DE</strong> AGOSTO <strong>DE</strong> 2001 - CRIMES QUE ABALARAM PERNAMBUCO<br />

A HISTORIA COMO<br />

FOI CONTA<strong>DA</strong> PELO<br />

HOMEM QUE <strong>DE</strong>U<br />

OS TIROS MORTALS<br />

No dia 15 de fevereiro de 1982 o entao major<br />

Ferreira, da Policia Militar de Pernambuco,<br />

se encontrou corn EHAC Nine Noa>FJRA e<br />

teve com ele um acerto em Serra Talhada, dentro<br />

de um carro de marca Variant II, que era de<br />

propriedade do militar. Em maio, quando foi preso<br />

como executor da morte do procurador Pedro<br />

Jorge, o pistoleiro contou uma Tonga historia,<br />

que passou a constar das paginas 478 a 486<br />

do processo, e que o DIARIO resumiu assim:<br />

"Elias, eu quero que voce va ao Recife<br />

para fazer um servico: matar o<br />

procurador da mandioca, que esta me<br />

prejudicando e a amigos meus", ordenou<br />

Ferreira.<br />

Como Elias estava ern Serra Talhada<br />

apenas para vingar a morte do seu irmao<br />

assassinado por Vilmar Gaia, um pistoleiro<br />

famoso em Pernambuco, a principio relutou.<br />

Entretanto, Elias devia favores ao major, pois este<br />

prendera certa vez Vilmar Gaia que, ate hoje,<br />

ninguem sabe como fugiu da cadeira.<br />

Corn a promessa de que depois que matasse o<br />

procurador o major ajudaria na busca a Vilmar<br />

Gaia, Elias comecou a acertar o "servico". Preto de<br />

Cr$ 200 mil, sendo Cr$ 100 mil a vista e o restante<br />

apos o crime. Ainda titubeante, Elias perguntou a<br />

Irineu Ferraz (que o acompanhara para o encontro)<br />

se devia mesmo aceitar. Este, como nao se querendo<br />

envolver, respondeu:Voce e quern sabe. 0 major<br />

Ferreira e amigo e a gente deve favor a ele. Se voce<br />

quiser it va e, se nao quiser, nao va". Elias foi.<br />

No dia seguinte, o sargento Lopes foi busca-lo em<br />

Serra Talhada. Chegou de madrugada a casa do<br />

major Ferreira, onde dormiu. As 8h30m Lopes ja<br />

estava para apanhar Elias a fim de comecarem as<br />

buscas ao procurador. A essa altura, o pistoleiro ja<br />

estava com o revolver cedido pelo major, pois se<br />

encontrasse Pedro Jorge devia mata-lo logo. Buscas<br />

infrutiferas. Quatro dias depois Elias resolveu voltar<br />

para Serra Talhada, porque estava perdendo muito<br />

tempo.<br />

'Mas voce ja vai? perguntou o oficial militar.<br />

'Nao vai nem passar o Carnaval aqui?' Como<br />

nao tinha jeito, o major concordou, mas<br />

marcou para o dia 27 um novo contato, na<br />

central da Telpe, por volta das 19h30.


Elias foi para Varzea do Ico, onde mora<br />

seu pai, e ficou la ate o novo contato com o<br />

major. No dia 27, como combinara, o pistoleiro<br />

recebeu o recado. 'Elias, faz tudo e<br />

retorna hoje para o Recife, pois o servico tem<br />

que ser feito ate o dia 3. Quando chegar fique<br />

no mesmo lugar'.<br />

Na capital, Elias admirou-se do carro, um<br />

Chevette Hatch, cor bege, a alcool, que estava<br />

a sua espera com o sargento Lopes ao<br />

volante. Voces estao com um carro bonito',<br />

comentou Elias, ao mesmo tempo que conhecia<br />

mais uma pessoa: Euclides de Souza<br />

Ferraz, o Clido.<br />

Rodaram varios dias sem sucesso em busca<br />

do procurador. No dia 3 de marco voltaram a<br />

se encontrar. Agora a equipe ficara completa:<br />

Heronides Cavalcanti e Jorge Ferraz, que<br />

estavam no Detran, se uniram a Elias e Lopes.<br />

Os dos primeiros dirigiam um Passat e foram<br />

em direcao a Olinda. Vamos pegar o homem<br />

hoje de qualquer jeito', falou Clido.<br />

Deram muitas voltas e, ja a noite, pararam<br />

num sinal. Finalmente viram um Passat de<br />

cor azul. Era o procurador. 0 sargento Lopes<br />

ultrapassou o veiculo de Pedro Jorge varias<br />

vezes para que Elias gravasse sua fisionomia.<br />

Pedro Jorge, como fazia sempre, antes de<br />

chegar parou na Panificadora Panja.<br />

Comprou pao e leite.<br />

'Elias, desca e atire no homem', ordenou<br />

Lopes. 0 pistoleiro sentiu que era a Nora. Na<br />

sua memoria a recomendacao: 'Atire na<br />

cabeca'. Os tres disparos compassados. Dois<br />

atingiram o alvo e o terceiro a porta do carro.<br />

0 pistoleiro permaneceu mais alguns segundos<br />

para confirmar se a missao estava<br />

cumprida. Elias deu doffs pulos para tras,<br />

entrou no carro e fugiram para a cidade de<br />

Vitoria de Santo Antao".<br />

DIARIO <strong>DE</strong> PERNAMBUCO<br />

RECIEE, 6 <strong>DE</strong> AGOSTO <strong>DE</strong> 2001- CRIMES QUE ABALARAM PERNAMBUCO<br />

0 LIBELO ERA 0<br />

SINAL <strong>DE</strong> QUE<br />

PATENTE NAO<br />

<strong>DA</strong>VA IMUNI<strong>DA</strong><strong>DE</strong><br />

No dia 3 de marco de 1983, um ano depois<br />

da morte do procurador Pedro Jorge,<br />

Pernambuco viveu intensas emocoes. A<br />

capela do Mosteiro de Sao Bento, em Olinda,<br />

ficou lotada para a celebracao de uma missa<br />

lembrando a morte do procurador. A liturgia foi<br />

celebrada por dom Basilio Penido, amigo de<br />

Pedro Jorge. Em improviso, ele falou sobre o<br />

procurador e disse que Pedro Jorge sempre havia<br />

procurado fazer o been. 'Era um exemplo para<br />

sua geracao', disse dom Penido. E emocionado<br />

fez votos para que a Justica fosse realizada com a<br />

punicao dos acusados. No mesmo dia, o<br />

procurador Aristides Junqueira apresentava a<br />

Justica Federal o libelo contra sete acusados pelo<br />

assassinio do procurador e tentativa de<br />

homicidio contra o estudante Joao Batista Viana.<br />

Do entao major Jose Ferreira dos Anjos, disse o<br />

procurador: "0 reu Jose Ferreira dos Anjos, ao<br />

concorrer para a pratica do homicidio contra<br />

Pedro Jorge de Melo e Silva assumiu o risco decometimento<br />

do crime praticado contra Joao<br />

Batista Vianna, para assegurar a impunidade do<br />

homicidio praticado contra Pedro Jorge". Acusa o<br />

major de ter cedido seu autombvel - o Chevette<br />

Hatch - para transporte dos pistoleiros e pratica<br />

do crime. Mais: "o reu ajustou a execucao da<br />

morte da vitima, mediante paga a outrem.<br />

0 reu ajustou a morte da vitima por motivo<br />

torpe (vinganca)". Com o ex-major, a demincia<br />

se estendia a Heronides Cavalcanti Ribeiro,<br />

que concorreu para o crime dando cobertura<br />

a execucao de Pedro Jorge e foi "o autor do<br />

disparo que produziu lesoes em Joao Batista<br />

Viana Pereira", para "assegurar a impunidade<br />

do homicidio contra Pedro Jorge". No libelo<br />

contra Euclides de Souza, diz o procurador<br />

que o reu concorreu para o crime dando<br />

cobertura a sua execucao. 0 reu Jose Lopes<br />

concorreu para o crime transportando o autor<br />

dos disparos ate o local da execucao. Foi,<br />

tambem, quem identificou a vitima para o autor<br />

dos disparos. E o libelo continua, explicando a<br />

participacao de Irineu Ferraz, Jorge Ferraz e,<br />

finalmente, Elias Nunes Nogueira, autor dos<br />

disparos, executou o crime mediante<br />

pagamento.<br />

0

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!