Leia mais... - De Sambas e Congadas
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Congada de Cunha<br />
Para eles a experiência do catolicismo<br />
também era um elo com a África natal<br />
(crescentemente idealizada à medida<br />
que se afastava no tempo), devido à existência<br />
de chefes que se diziam católicos<br />
no Congo e em Angola e à incorporação<br />
de ritos e objetos de culto do catolicismo<br />
por algumas populações centro-africanas.<br />
Essa familiaridade anterior com<br />
formas de catolicismo africano ajudou a<br />
construção de uma identidade elaborada<br />
e reproduzida por meio dos reinados<br />
negros realizados nas irmandades.<br />
~ 88 ~<br />
Conforme Tinhorão, desde o século XV a<br />
tradição de se celebrar o rei do Congo já era praticada<br />
em Portugal pelos africanos lá presentes. Por<br />
meio de pesquisas documentais, o autor menciona<br />
a devoção destes negros a Nossa Senhora do<br />
Rosário e suas organizações por meio de confrarias<br />
no território de Portugal. Contudo, o autor<br />
considera que neste período tais coroações representavam<br />
demonstração simbólica e desdobramento<br />
das ações missionárias e econômicas empenhadas<br />
por Portugal na África, as quais tinham<br />
sua base no tráfico de escravos.<br />
Estas festas celebradas com a presença do<br />
rei do Congo eram, em certa medida, aceitas e<br />
toleradas por administradores da sociedade colonial<br />
e por senhores, em razão de diversos fatores.<br />
Paulo Dias (2001) nos explica que até mesmo o<br />
discurso de cronistas não era tão agressivo quando<br />
se abordava a Congada, considerando que o<br />
mesmo não ocorria quando era relatado o batuque,<br />
manifestação cultural sem relação com o<br />
universo religioso católico, no período da Colônia<br />
e no Império. O batuque era concebido pelos<br />
cronistas como diversão “desonesta”, ao contrário<br />
das <strong>Congadas</strong>, consideradas como prática<br />
“honesta” ao passo que atendiam aos preceitos<br />
cristãos em seus cortejos em homenagem aos<br />
santos católicos. Contudo, Souza menciona que<br />
as irmandades relacionadas aos santos católicos<br />
de certo modo acomodavam os escravos às normas<br />
e padrões da sociedade escravista, fato que<br />
em parte explica a tolerância aos festejos de coroação<br />
do rei do Congo. A este respeito são considerados<br />
também aspectos simbólicos que revelam<br />
a aceitação desta manifestação cultural, como a<br />
trajetória do império português e seu intento de<br />
expansão, cujo alicerce centrava-se na conversão<br />
da população dos territórios ocupados ao catolicismo.<br />
Importante mencionar a presença do catolicismo<br />
no Congo, país que incorporou esta religião<br />
como parte do poder central no ano de 1491,<br />
mantendo paralelamente sua soberania e crenças<br />
tradicionais. A introdução do catolicismo e sua<br />
incorporação pelos chefes de Estado do Congo,<br />
o que representava o êxito das ações missionárias<br />
portuguesas, foi tema bastante festejado publicamente.<br />
Algumas passagens ilustram a aceitação<br />
do festejo da Congada por diferentes segmentos<br />
da sociedade, que, muitas vezes chegavam a