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Leia mais... - De Sambas e Congadas

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gros trazidos para o trabalho escravo nas lavouras<br />

comerciais, assim como contrabando no período<br />

posterior à proibição do tráfico negreiro, foi decisiva<br />

para a formação da Congada em Ilhabela.<br />

<strong>De</strong>vido à grande devoção por parte de todos os<br />

envolvidos com esta expressão cultural, nos dias<br />

de festa <strong>De</strong>us está no céu e São Benedito na terra,<br />

homenageado e reverenciado.<br />

Os preparativos para a grande festa são<br />

iniciados na cidade com antecedência de um mês<br />

e envolve toda a população local. Todos os alimentos<br />

oferecidos à população nos dias de festa<br />

são provenientes de doações, sobretudo de moradores<br />

e comerciantes locais. A prefeitura também<br />

contribui com os preparativos da festa, assim<br />

como cede uma escola para a realização da tradicional<br />

Ucharia. Alcedino José da Cruz, o Dino,<br />

soldado do embaixador na Congada, ilustra bem<br />

o que esta celebração significa para os congueiros.<br />

Em suas palavras:<br />

É difícil explicar o que é a Congada, né?<br />

A Congada, na verdade, é uma união<br />

do povo de Ilhabela, posso dizê isso.<br />

Porque, se num tiver igreja, num tem<br />

Congada. Se num tiver a levantação do<br />

mastro, não tem Congada. Se num tiver<br />

Ucharia, não tem Congada. Então, é um<br />

grupo. A Congada é a devoção dos congueiros<br />

com São Benedito e, como São<br />

Benedito é da igreja católica, a Congada<br />

é isso. É uma união de igreja, povo, é<br />

Ilhabela, a Congada é Ilhabela.<br />

Dino começou a participar do grupo com cinco<br />

anos de idade, por influência de seus avós, mãe e<br />

tios, familiares envolvidos com a prática da Congada<br />

local. Hoje o congueiro cumpre a função de<br />

soldado do embaixador, entretanto, já foi outrora<br />

~ 109 ~<br />

soldado, até os dezoito anos, permaneceu cinco<br />

anos como príncipe e, posteriormente, foi embaixador<br />

durante quatorze anos consecutivos. Há<br />

dois anos Dino abandonou este posto, devido a<br />

um problema de coluna que o impede de realizar<br />

os esforços que o cargo demanda. Com cinquenta<br />

e um anos, Dino completa quarenta e seis anos na<br />

Congada de Ilhabela. A trajetória deste congueiro<br />

ilustra muito bem a composição da Congada local,<br />

que comporta integrantes de diferentes faixas<br />

etárias, desde crianças aprendizes, até idosos com<br />

histórias parecidas com a de Dino.<br />

A festa de São Benedito é composta por<br />

diversas atividades religiosas festivas e de entretenimento,<br />

apresentações musicais durante a noite.<br />

A festa é iniciada na sexta-feira com o levanta-<br />

mento do mastro do santo homenageado, seguido<br />

de apresentação da Congada Mirim, formada<br />

por trinta crianças. Logo depois, há a distribuição<br />

do bolo de São Benedito e da “concertada”, bebida<br />

elaborada com pinga, cravo, canela e açúcar. Já no<br />

sábado pela manhã ocorre a “Meia Lua”, pequena<br />

procissão em que congueiros caminham ao som<br />

da marimba e dos atabaques, carregando o andor<br />

de São Benedito, com coreografia própria. Após a<br />

Meia Lua ocorrem dois bailes das ruas da Vila, no<br />

centro da cidade. Aproximadamente ao meio dia<br />

e meia ocorre a Ucharia, almoço servido a toda<br />

a população presente na localidade nos dias de<br />

festa. Já às duas e meia da tarde a Congada realiza<br />

três bailes completos. No domingo, dia de<br />

encerramento da festa de São Benedito, ocorre a<br />

Meia Lua às oito e meia da manhã. Às nove horas<br />

ocorre a Missa dos Congos na Igreja Matriz Nossa<br />

Senhora D’Ajuda e Bom Sucesso. Já por volta<br />

das dez e meia são iniciados dois bailes. Na hora<br />

do almoço ocorre a Ucharia, sendo que no início<br />

da tarde é iniciado o primeiro dos três bailes que<br />

encerrarão a festa de São Benedito. Após o último<br />

baile é realizada uma procissão com o andor de<br />

São Benedito junto com queima de fogos.<br />

Conforme nos explica Corrêa (1981), a Congada<br />

de Ilhabela simboliza a luta de dois grupos que<br />

se desentendem pelo fato ambos reivindicarem<br />

para si o direito de festejar São Benedito. Dino<br />

também ressalta que a Congada representa uma<br />

guerra entre pai e filho, já que o embaixador é filho<br />

do rei, fato revelado do último baile. Sem que<br />

este fato seja desvendado, o embaixador tenta<br />

tomar o reinado do rei. <strong>De</strong>vido à complexidade<br />

desta congada, são diversos os personagens presentes<br />

no momento do folguedo. Iracema Corrêa,<br />

em pesquisa realizada sobre a Congada em Ilha-

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