Leia mais... - De Sambas e Congadas
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<strong>De</strong> modo distinto das expressões culturais<br />
anteriormente apresentadas, a Congada,<br />
ou Congo, particulariza-se por se apresentar<br />
como manifestação musical e dramática<br />
realizada em louvor a São Benedito, Nossa Senhora<br />
do Rosário e Santa Ifigênia. São grupos<br />
musicais festivos e religiosos que saem em cortejos<br />
reverenciando seus santos de devoção. Especificamente<br />
no território paulista, a cidade de<br />
Aparecida é o cenário de um grande encontro de<br />
<strong>Congadas</strong>, Moçambiques, Vilões e Catopês, que<br />
há <strong>mais</strong> de cem anos se reúnem “festam” anualmente<br />
em devoção a São Benedito. Outras cidades<br />
do Estado de São Paulo também realizam<br />
estas festividades que agregam diversas <strong>Congadas</strong><br />
em louvor a seus santos padroeiros, como<br />
Olímpia, Santo Antônio da Alegria, São Roque e<br />
Guaratinguetá, por exemplo. Em cada uma destas<br />
cidades em que ocorrem festas dedicadas aos<br />
santos de devoção das <strong>Congadas</strong>, uma estrutura<br />
ritual deve ser seguida, algumas vezes bastante<br />
complexa, como veremos <strong>mais</strong> adiante.<br />
É possível observar o vigor e a sólida formação<br />
de muitas destas organizações contemporaneamente<br />
praticadas não só na região sudeste<br />
do Brasil, mas em outros rincões do país. A este<br />
respeito a autora Marina de Mello e Souza (2005)<br />
menciona a presença da Congada na maioria das<br />
regiões brasileiras que, entre os séculos XVI e<br />
XIX, receberam escravos vindos da África. Antes<br />
mesmo de estes negros aportarem no Brasil, o ca-<br />
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tolicismo fazia-se presente em território africano, <strong>mais</strong> especificamente no reino do Congo e em seus<br />
arredores. (SOUZA, 2005).<br />
As <strong>Congadas</strong> e suas coroações aos reis negros, o festejo, o cortejo acompanhado por grupos<br />
em torno destes reis coroados, estiveram inicialmente presentes em comunidades afrodescendentes.<br />
Tais festejos eram práticas celebradas em grupos de trabalho, quilombos e, sobretudo, nas Irmandades<br />
Negras, agrupamentos leigos de devoção a santos como São Benedito e Nossa Senhora do Rosário.<br />
As irmandades consistiam em associações compostas por escravos e forros que mantinham diversas<br />
atividades como o financiamento da alforria de seus integrantes, preparação de enterros, assim como<br />
a realização de uma festa anual, a qual homenageava seu santo de devoção. (Ver DIAS, 2001; SOUZA,<br />
2005). Na ocasião da festa, havia o cortejo pelas ruas, alegre procissão, com a presença do rei, de sua<br />
corte, assim como dos tocadores e dançadores. Como menciona Tinhorão (2005), para a realização<br />
destes festejos, os reis do Congo eram escolhidos por meio de eleições entre os próprios negros, os<br />
“brincantes”.<br />
A autora Marina de Mello e Souza investigou a presença desta expressão cultural, e da coroação<br />
dos reis negros,<br />
nos relatos de observadores<br />
e nos documentos<br />
destas irmandades. <strong>De</strong>sse<br />
modo, há registros de<br />
manifestações culturais<br />
relacionadas à coroação<br />
dos reis negros que faziam<br />
referência a diferentes<br />
nações no século<br />
XVIII. Contudo, no século<br />
XIX esta diversidade<br />
de nações não é <strong>mais</strong><br />
encontrada nestes documentos,<br />
é observada quase<br />
que exclusivamente a<br />
presença do rei de Congo.<br />
A este respeito, Souza<br />
(2005, p. 83-84) ressalta a<br />
importância desta nação<br />
para os escravos no Brasil:<br />
Congada e Moçambique Vermelho e Branco