Essas Mulheres - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes

Você não sabe o que é isso, a vida de uma telefonista! Sempre o mesmo texto, de um e
do outro lado da linha! (SÓ ENTÃO PERCEBE QUE AINDA TEM OS
HEAD-PHONES AOS OUVIDOS. TIRA-OS E OS ATIRA LONGE) Inferno! Eu devia
ter feito faculdade de direito, filosofia, até curso normal servia pra arrumar emprego
melhor. (...) Não, não estou te culpando de nada. Se eu queria me casar, não devia ter
estudado teatro. O erro foi meu, sou mesmo errada, mamãe sempre me disse. Ai, tô
exausta! (...) Com quem eu vim? Você sabe que eu sempre venho com a Alice! (...)
Não, Alfredo, ela não está me cantando. E se estivesse? Agora você tem ciúme também
de mulher, é? (SORRI) Bobão. (APROXIMA-SE DA CADEIRA ONDE
SUPOSTAMENTE ELE ESTÁ SENTADO) (COM MALÍCIA) Você sabe muito bem
de que que eu gosto! Vim correndo, só pensando em me deitar pertinho de você. Adoro
tirar um sarro no meu homem adormecido. Me sinto tão taradinha! Você dormindo e eu
ali, cheia de desejos pecaminosos! (SUBITAMENTE AFLITA) O que? O Alfredinho tá
com febre? 39 graus? Meu Deus!
BOCA DA MÃE - She, você abandonou seu filho doente? Que espécie de mãe você é?
SHE - (NERVOSÍSSIMA) Vou ligar pro pediatra. Pode ser uma outra pneumonia.
(VAI DISCAR O TELEFONE, PÁRA) Ah, a febre já baixou? (RESPIRA FUNDO) Ai,
graças a Deus! (ZANGADA) Mas parece que você tem prazer em me ver me
descabelando. (ELE A ABRAÇA POR TRÁS. ELA SE DESMANCHA, SORRI) Posso
perdoar, mas só se você disser que me ama, que me adora... Repete. Que me ama como
da primeira vez. Diz. Que eu sou a mulher dos seus sonhos. Que me amará sempre.
Sempre, repete. Jura? Quero que você jure. Jura? (ELA SE VIRA PARA ELE) Isso, me
olha assim! Adoro que você me coma com os olhos! Já me molhei toda, todinha! Vem...
Não, aqui não, na cama... (ELA ANDA COMO AGARRADA A ELE, TROPEÇA,
CAI, RI, ROLA NO CHÃO)
BOCA DA MÃE - Sheeee, homem não gosta de mulher fácil!
ELA SE LEVANTA. ANDA ALGUNS PASSOS.
O TEMPO PASSA.
SHE ESTÁ COM 32 E NO SEGUNDO CASAMENTO.
SHE - (DÁ UMA RISADA) Desculpa o atraso, querido. (BEIJA-O) Perdemos duas
horas de ensaio porque o galã não conseguia dançar um tango. Dança como se
deslisasse no lago dos cisnes, uma pluma! A coreógrafa enlouqueceu, agarrou-se a ele e
berrava: "Me come, anda, você é homem ou não é?, que diabo você tem entre as
pernas?" Foi pior, ele vomitou em cima dela! (DECEPCIONADA) Você não acha
engraçado? Está na deprê? (IRRITADA) O que é desta vez, Mário? Diga. Eu não
agüento mais ser saca-rolha. Fale. (...) Um tempo, outra vez? Um tempo pra que? Outra
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