Essas Mulheres - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes

SHE - Alfredo! Eu preciso te dizer uma coisa, importantíssima! (BEIJA-O
APAIXONADAMENTE) (COM A BOCA PRÓXIMA À DELE) Fiz um juramento.
Jurei que o amor será sempre a única razão da minha vida. Da sua também? Responde.
(AFASTA-SE UM POUCO) Se gostei do seu presente? Amei, adorei, super criativo!
Adivinha o nome que botei nele! Adivinha, o nome de um Deus grego. Jesus Cristo?
Bobo. Jesus Cristo era judeu. (DÁ UMA RISADA) Não, Apolo. (...) Tua carta? Claro
que li, reli, trili! Fantástica, linda, super-criativa! Amor, você é um escritor! É sim. E
vai escrever muitas peças pra mim. É tão lindo um casal de artistas! (...) (MEIO
CHOCADA) O que, você não gosta de teatro? Não acredito, Alfredo! (...) Se você
nunca viu, não pode dizer que não gosta. Vou te levar e você vai ver que nem só de
futebol vive o homem!... (...)Estou brincando. Você não tem senso de humor? Ficou
zangado por que? (...) Mas, meu amor, eu não podia deixar de convidar o Paulo, é meu
amigo de infância! (...) Por que homem não pode ser amigo de mulher? Pois eu tenho
muitos amigos. Você não tem amigas? (RECUA UM POUCO) Eu não acredito, você
nunca me disse isso! (MEIO ZANGADA) Olha aqui, Alfredo, tudo bem, teu pai acha
que mulher séria não faz teatro, mas eu não namoro teu pai. Isola esse coroa, tá?
(PERPLEXA, QUASE CHORANDO) Eu não posso escolher entre você e uma
profissão! Não tem nada a ver! (...) Juro, você é a razão da minha vida, mas... E se eu te
dissesse: "Ou eu ou a engenharia"? (...) É diferente, por que? Não, não vai embora!
ELE SAI E BATE A PORTA.
SHE - Alfredo!... Merda! (SOCA A PORTA) Não, não, não, Alfredo, você não pode
fazer isso. O amor não pode cortar as asas e o vôo.
BOCA DA MÃE - O amor corta as asas e o vôo sim! E pra que diabo você quer asas,
She?, você não é galinha!
SHE - Não, eu não acredito, eu não posso acreditar! (PARA O CACHORRO) Apolo,
você mijou sobre o meu texto! (APLICA UMAS PALMADAS NO CACHORRO)
Tome, tome e tome! Ai, que ódio! (ABRAÇA-O) Desculpa, não é em você que eu quero
bater. Desculpa, meu amor lindo. Ai, que merda! O que que eu faço agora? Vou ensinar
você a fazer xixi na rua.
PEGA O CACHORRO E SAI.
O TEMPO PASSA.
SHE VOLTA. ESTÁ AGORA COM 25 ANOS, CASADA.
SHE - Acordado, me esperando? (...) Mas, Alfredo, hoje era meu dia de plantão! (...)
Pelo amor de Deus, poupa os meus ouvidos. Fiquei oito horas ouvindo reclamações.
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