Essas Mulheres - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes
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CACHORRO. PEGA-O COM TERNURA) Meu amor lindo, você precisa de um nome!<br />
Deix'eu ver de que que você tem cara... sei não! Você não tem cara de nada? Ah, já sei,<br />
você vai ter o nome de um deus grego, Apolo! Viu, Apolo! Gostou?<br />
BOCA DA MÃE - Querida, primeiro a obrigação!...<br />
SHE SOLTA O CACHORRO, AFLIGE-SE. VOLTA A PROCURAR O TEXTO.<br />
SHE - Merda, onde botei esse texto?(ACHANDO O TEXTO) Olha ele aqui. (ABRE O<br />
TEXTO) Vamos lá, cadê a tal de "Tatiana". Mulher mais enfossada! Dona Estelita tinha<br />
que me dar esta personagem, tinha? Que que essa mulher tem a ver comigo?<br />
(IMITANDO A PROFESSORA GRINGA) "Nada, querida. Se tivesse, eu te daria outra<br />
personagem!" Nojenta!<br />
SHE TENTA ENSAIAR.<br />
SHE - (TENTANDO O TOM DEPRÊ DE TATIANA) "Porque eu não tenho nem onde,<br />
nem com que, nem pra que viver... E eu não sei porque estou tão cansada, porque sinto<br />
tanta angústia... você entende?... Uma angústia que quase chega ao horror!" Ai, que<br />
horror! "Tenho só vinte e oito anos e tenho vergonha... vergonha de me sentir tão<br />
fraca... tão inexistente. Dentro de mim, está tudo vazio... Tudo secou, ardeu, ardeu como<br />
fogo; eu sinto, eu sinto isso e isso me dói. Foi acontecendo, pouco a pouco, sem eu<br />
perceber... foi crescendo... um vazio!" (PRA PLATÉIA) Está mais ou menos, pelo<br />
menos? Vou repetir... Coitada desta mulher, isto é falta de amor! Tá na cara, arranja um<br />
homem que passa, "Tatiana". (TENTA UM OUTRO TOM) "Dentro de mim, está tudo<br />
vazio... Tudo secou..." Não consigo. Será que melhorou? Não, né? Gente, a vida não<br />
pode ser essa deprê! Que carinha sacal! "Dentro de mim, está tudo vazio..." Não<br />
consigo sentir isso e tenho que sentir. Dona Estelita é stanilavskiana. "Porque eu não<br />
tenho onde, nem porque, nem pra que viver..." Eu não aguento... Se eu fosse escrever<br />
uma peça... Não, um poema, acho que tenho mais jeito pra poesia. A poesia está mais<br />
perto do amor. Eu faria um poema juramento. Juro, pelo meu amor, que nesta noite me<br />
deu plena luz, que o amor será a razão primeira da minha existência. E se um dia trair<br />
este juramento, cortarei a garganta, para não cortar minhas asas e meu vôo! Ai, que<br />
bonito! Ouviu, Apolo? (EMITE UM LONGO SUSPIRO E VOLTA A DANÇAR,<br />
REPETINDO) E se um dia trair o meu juramento, cortarei a garganta, para não cortar<br />
minhas asas e meu vôo, minhas asas e meu vôo, minhas asas...<br />
SHE CONTINUA A DANÇAR. VAI AGORA EM BUSCA DO NAMORADO.<br />
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