Essas Mulheres - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes

estou enrolada numa toalha e com as panelas no fogo. (...) Ligue depois, então. Um
beijo, filho.
DESLIGA. OLHA O RELÓGIO E VESTE RAPIDAMENTE UMA SAIA E UMA
BLUSA.
COMEÇA A ESCURECER.
ELA ARRUMA A MESA DO JANTAR. DEMORA NA ARRUMAÇÃO, POIS
NUNCA ENCONTRA OS OBJETOS NOS LUGARES PLAUSÍVEIS.
ACHA UMA LINDA TOALHA DE RENDAS.
SHE - Ah, que pena, deu mofo na minha toalha! Comprei esta toalha quando fiz uma
"tournée" pelo Nordeste, acho que no Piauí. Uma coisa rara. Não posso ir ao Piauí todos
os dias. Esta cidade está que é mofo só! (ENCONTRA UMA OUTRA TOALHA,
TODA AMARFANHADA. BUSCA O FERRO DE PASSAR E ESTENDE A
TOALHA SOBRE A MESA DE JANTAR) Nunca fui boa passadeira. Das prendas
domésticas, só aprendí a cozinhar, por pura gulodice. Com a idade, a gula passou a ser o
meu pecado capital predileto. Mais que a luxúria! Como sofro pra manter o peso! Uma
coisa aprendí: dieta se começa na sexta ou no sábado. Quem diz, " na segunda-feira,
pode deixar, eu começo a dieta", vai ser gordo sempre! (CHEIRA O AR) Ih, o camarão!
(CORRE À COZINHA, DESLIGA O GÁS. VOLTA. DESLIGA O FERRO
ELÉTRICO E O DEIXA DISTRAIDAMENTE SOBRE UMA CADEIRA. OLHA O
RELÓGIO. RESOLVE MAQUIAR-SE) A mesa fica pra depois. Na minha idade, já não
se pode aparecer de cara lavada. E precisa-se de lentes de contato para se maquiar.
(PROCURA AS LENTES E NÃO ACHA) Precisa-se, mas nunca se acha. (GRUDA A
CARA NO ESPELHO) Que escuridão! (ACENDE AS LUZES E VOLTA PRO
ESPELHO)
CAI MAIS UMA VEZ O PINTO DO APOLO, MAS ELA NÃO PERCEBE.
SHE - Apolo, você está tão quieto, mon petit vira-lata!
APOLO, O CACHORRO, GRUNHE.
SHE ACABA DE MAQUIAR-SE. AFASTA-SE UM POUCO DO ESPELHO, OLHA
O TODO, FAZ UM CHARME, COLOCA BRINCOS, PULSEIRAS, ETC.
BLACKOUT.
SHE - Não, isto é sacanagem! Eu não pretendia fazer um jantar à luz de velas. É tão
demodé! (TATEIA, ACHA UM ISQUEIRO) Se é que existem velas nesta casa!
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