28.04.2013 Views

Essas Mulheres - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes

Essas Mulheres - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes

Essas Mulheres - Isis Baião - Cia. Atelie das Artes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

SHE - Está querendo fazer o seu cocô, Apolo? É a sua contribuição diária para a sujeira<br />

pública, não é, meu amor? Tadinho! Quando tivermos a fundação teatral, você não vai<br />

precisar participar desse ato selvagem de emporcalhamento <strong>das</strong> calça<strong>das</strong>. Vai ter muito<br />

terreno pra você fazer as suas necessidades. Você vai ser o mascote e o cão de guarda<br />

da Fundação. Mas vai ter que perder este ar idiota de cachorro de apartamento pra<br />

impor respeito. Quer ver a planta que eu fiz? (PEGA A PLANTA) Olha, aqui é a oficina<br />

de confecção de cenários. Vai dar emprego pra muita gente! E aqui, o bar e o<br />

restaurante fazendo um bloco com o teatro. O nosso apartamentinho vai ficar neste<br />

canto, bem isolado, pra manter a privacidade. Sabe que sala é esta, Apolo? A sala do<br />

Grotovsky. Já pensou, uma oficina permanente com o Grotovsky, o que vai representar<br />

para o teatro brasileiro? E uma oficina de texto, coordenada pela Marguerite Duras,<br />

aquela d' "O Amante"? (...) O que, a velhota bebe? E daí, Apolo? Antes uma bêbada<br />

internacional do que uma sóbria municipal! Vou chamar também o Maurice Béjart pra<br />

dar um curso de dança. É imprescindível que a fundação tenha um caráter internacional.<br />

Só assim poderemos ter representação na Unesco. Ih, Apolo, que pum horroroso!<br />

Vamos rápido, antes que resolva contribuir pra sujeira doméstica.<br />

ELA VAI PEGAR A GUIA DO CACHORRO.<br />

SENTE-SE MAL. PÁRA.<br />

SHE - Segura o cocô, Apolo, que a barra tá pesada. (RESPIRA FUNDO) Uma<br />

tonteira... dei pra sentir essa coisa. Médico porra nenhuma, detesto essa máfia de<br />

branco.<br />

ELA SE SENTA PARA SE RECUPERAR.<br />

O TEMPO PASSA.<br />

PASSARAM-SE MAIS 3 ANOS. ELA ESTÁ COM 50 ANOS.<br />

TOCA A CAMPAINHA. ELA ABRE A PORTA IMAGINÁRIA E SURGE, SOLTO<br />

NO ESPAÇO, UM BOLO COM DUAS VELAS, FORMANDO O NÚMERO 50. ELA<br />

PEGA O BOLO E OUVE-SE O "PARABÉNS PRA VOCÊ".<br />

SHE - O que é isso, Alfredinho? (...) Meu aniversário, eu sei, mas e este número? (...)<br />

Eu, fazendo 50 anos? Você está enganado!... Faço... (CONTA MENTALMENTE) É, é<br />

isso mesmo... mas que absurdo! (DECIDIDA) Não, não aceito, ainda não estou<br />

preparada. Vamos colocar o bolo no freezer. (...) Sim, vou congelá-lo, até me acostumar<br />

à idéia... daqui dois, três anos, quem sabe!... (ENFIA O BOLO NO FREEZER COM<br />

VELA E TUDO) Obrigada, filhinho, pela lembrança. Agora me deixe só, preciso ficar<br />

sozinha, estou um pouco nervosa... (LEVA O FILHO ATÉ A PORTA) 50 anos... cinco<br />

16

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!