LÍDER - Diário Económico
LÍDER - Diário Económico
LÍDER - Diário Económico
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
João Paulo Dias<br />
Mercado interno demasiado abandonado<br />
Os empresários têm vindo a alertar o Governo para os riscos do excesso de ‘delicadeza’ em relação<br />
às exportações. De facto, dizem, o mercado interno é menos volátil que os externos do ponto de vista<br />
dos condicionalismos que lhe infl uenciam a evolução. Os mercados externos estão condicionados<br />
pela evolução de economias que os portugueses não podem controlar – e que em determinada<br />
altura podem, por exemplo, construir novas barreiras aos produtos nacionais. Isto mesmo sucedeu<br />
recentemente no Brasil – tido como uma espécie de ‘Meca’ das exportações – deixando um número<br />
substancial de empresários portugueses em estado de sítio. É por isso, recordam os empresários,<br />
que a discussão em torno do aumento do salário mínimo está na ordem do dia – com um número<br />
crescente de industriais a apoiar o seu crescimento.<br />
estrangeiro que necessitasse de mãode-obra<br />
intensiva e pouco qualifi cada<br />
– factores que os franceses da Renault<br />
aproveitaram bem, tendo mesmo conseguido<br />
convencer o Estado português<br />
a reinstalar uma espécie de condicionamento<br />
comercial para todas as restantes<br />
marcas de automóveis. Depois,<br />
como recordam vários empresários,<br />
veio o dinheiro da CEE para acabar com<br />
a indústria – e já agora também com as<br />
pescas e com a agricultura.<br />
Muitos sobressaltos depois,a palavra<br />
de ordem do Ministério da Economia é<br />
‘reindustrializar’.<br />
“Uma excelente ideia”, afi rmam Carlos<br />
Barbot, do grupo Tintas Barbot, e José<br />
Manuel Fernandes, do grupo Frezite. O<br />
problema, admitem, é como chegar lá.<br />
À partida, há um pressuposto que ainda<br />
não está cumprido e que pode bloquear<br />
toda a estratégia de reindustrialização.<br />
José Manuel Fernandes identifi ca-o com<br />
clareza: “acho que o Ministro da Economia<br />
não está à vontade, tendo em conta<br />
o garrote das Finanças”.<br />
Por outras palavras, qualquer reindustrialização<br />
– mesmo que não passe<br />
de esboço – precisa de um ambiente<br />
‘amigo’ dos investidores, coisa que o<br />
ministério de Vítor Gaspar não está em<br />
condições de assegurar. E não é apenas<br />
um problema de excesso de fi scalidade<br />
ou de falta de incentivos ao investimento.<br />
Como diz Carlos Barbot, “o problema<br />
PME <strong>LÍDER</strong> 2013<br />
65<br />
TOP<br />
1 CENTRO DE RECICLAGEM DE PALMELA<br />
2 Respol<br />
3 Colquímica<br />
4 AMAL<br />
5 ResiquímicaVEJA AS<br />
100 +<br />
páginas<br />
70 E 71<br />
é que, com a fi scalidade, nunca se sabe<br />
com o que podemos contar”. Ou seja, o<br />
ambiente de grande incerteza em relação<br />
ao fi sco, com várias alterações todos<br />
os anos, aconselha a que os investimentos<br />
fi quem à espera de melhorias.<br />
Carlos Barbot aborda a questão<br />
da reindustrialização por duas vias:<br />
“quem quiser produzir qualquer coisa<br />
para o mercado interno não tem, neste<br />
momento, qualquer expectativa”. Em<br />
relação aos mercados externos, aquele<br />
empresário, que acaba de decidir construir<br />
uma fábrica de tintas em Moçambique,<br />
considera que “era preciso haver<br />
um tratamento fi scal distinto em<br />
relação ao repatriamento de resultados”<br />
– no caso dos investimentos portugueses<br />
noutros países. Mas também<br />
em relação às indústrias nacionais que<br />
produzem bens transaccionáveis para<br />
a exportação seria necessário, diz Carlos<br />
Barbot, alguma almofada fi scal que<br />
aparentemente é, neste momento, impossível<br />
de criar.<br />
“O ministro da Economia tem uma<br />
visão correcta das áreas que podem<br />
provocar crescimento económico”,<br />
sintetiza José Manuel Fernandes. Mas<br />
tudo se torna difícil se “não houver um<br />
sincronismo entre os ministérios da<br />
Economia e das Finanças, com o apoio<br />
do primeiro-ministro”. Até lá, a reindustrialização<br />
tende a ser apenas uma<br />
palavra mais ou menos na moda. < >